terça-feira, 25 de maio de 2021

História do Olho

 

Desdobramento direto das investigações do espetáculo Stabat Mater – vencedor do Prêmio Shell de Teatro de melhor dramaturgia – Ensaios Escopofílicos para uma História do Olho abre ao público os processos e estudos de Janaina Leite para sua nova montagem História do Olho – um conto de fadas pornô-noir, que deve chegar aos palcos em 2022. Nesta nova proposta, partindo da célebre novela História do Olho, de Georges Bataille, a atriz e diretora ao lado dos parceiros André Medeiros Martins, Lara Duarte e Lillah Halla, se debruça sobre uma história do olhar tomando a imagem pornográfica como mote.

A abertura para o público acontece de 28 a 30 de maio com as performances autônomas Camming 101 Noites [dias 28 e 30 de maio, sexta-feira, às 22h e domingo, às 21h], que foi apresentada em março na MIT+ e em abril no Festival Internacional FITEI, em Portugal e joga com o trabalho das camgirls como Sherazades virtuais que precisam entreter os clientes pelo máximo de tempo possível e Pornoshow O Armário Normando [dia 29 de maio, sábado, às 22h], que se utiliza da estrutura da plataforma Zoom para desenvolver performances artístico-pornográficas a partir de um dos capítulos da obra de George Bataille.

Limites da representação

Se em Stabat Mater a pornografia serviu de anteparo para discutir maternidade e sexualidade e foi um meio para problematizar os limites entre representação e performance, Ensaios Escopofílicos para uma História do Olho (projeto contemplado pela Lei Federal Aldir Blanc e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa – Edital ProAC Expresso LAB nº 47) traz à cena as provocações que a pornografia causa à estética, ao colapsar pares dicotômicos como arte/não arte, sexo simulado/sexo real, atuação/performance, fruição estética/ interesse lascivo, ficção/documento e metaforicidade/literalidade.

Para Janaina Leite, o projeto interessa-se pelo uso do dispositivo documental em sua tensa relação com o real, sobre a performance em seu potencial de "complicadora cultural", associado ao tema tabu do erotismo e da linguagem pornográfica. “Sigo me perguntando sobre os limites da representação e o seu potencial de assegurar ou não uma mediação para o espectador e busco nos implícitos e explícitos da imagem, esse potencial profanatório que, como conclama Agamben, é a ‘tarefa política da geração que vem’”, explica ela.

Nova montagem em 2022

O projeto Ensaios Escopofílicos para uma História do Olho contempla a realização de uma série de ensaios, processos e estudos abertos ao público ao longo de seu desenvolvimento culminando na criação do espetáculo teatral inédito para 2022, que atrita as linguagens do teatro e da pornografia, e contará com artistas profissionais e amadores da pornografia.

“A onda de censura no Brasil torna ainda mais pungente trabalhar esse potencial desestabilizador da imagem. A esse quadro, somam-se novas perguntas sobre a “imagem” no contexto de uma pandemia que exige o isolamento, a interdição do contato físico e nos obriga a uma mediação quase que “exclusivamente” pelas plataformas virtuais. Por outro lado, existe um distanciamento construído pela sociedade entre o que é pornográfico e o que é artístico, atribuindo àqueles que se aproximam da pornografia um lugar subalternizado. Enquanto o sexo explícito associado à poesia, à metaforização – que muitas vezes vem de um elitismo intelectual – pode ganhar status de conteúdo celebrado e proteger os artistas envolvidos.

Sabendo que este projeto pretende ser um exercício teatral, artístico, e metafórico, a proposta pretende não abandonar os estigmas e precarizações dos trabalhadores do sexo, já que é a partir deles que despejamos todos os preconceitos de um conteúdo que ao mesmo tempo é abjetado na vida pública e consumido e exaltado na intimidade masturbatória. Não abandonar essa perspectiva é não corroborar com todas as violências causadas em nome dessa dissociação de vida pública e íntima”, acredita Janaina Leite.

Para isso, o projeto trará em seu elenco trabalhadores sexuais como a jovem Camgirl Anita Saltiel e artistas produtores de conteúdos adultos como André Medeiros Martins que vem construindo um território híbrido entre arte e pornografia de forma a ampliar diálogos e quebrar fronteiras. “Acreditamos que pensar linguagem, sexualidade e gênero participa da formação política e subjetiva de cada um de nós, de forma que a quebra dos tabus é emancipatória não só para aqueles que são estigmatizados na sociedade, mas para toda se todos que desejam construir espaços múltiplos de vivência das relações e afetos”, finaliza a atriz e diretora.

PROGRAMAÇÃO

CAMMING 101 NOITES
28 e 30 de maio, sexta-feira, às 22h e domingo, às 21h, no Zoom.
Ingressos – de R$ 20,00 a R$ 40,00 no linktr.ee/salaabertarec . Duração – 70 minutos. Capacidade – 95 pessoas. Recomendado para maiores de 18 anos.

Performance virtual de Janaina Leite criada a partir da experiência imersiva em plataformas de sexo virtual pago e em colaboração com Lara Duarte, Lillah Halla e Mateus Capelo. As “101 noites” do título fazem referência ao livro de contos As mil e uma noites, em que Sherazade precisa entreter seu esposo e rei lhe contando histórias, noite após noite, para não ser morta. A ação joga, de um lado, com o trabalho das camgirls profissionais que precisam manter a atenção dos clientes (visto que elas ganham por minuto então parte do trabalho não é sexual, mas erótico, imaginário, dramatúrgico, terapêutico de forma a prender a atenção do espectador/cliente pelo máximo de tempo possível), de outro, se refere ao tempo que Janaina se dedicou a essa experiência no período auge do isolamento social devido à pandemia. 101 noites de isolamento, 101 noites de interação erótica sem risco de “contágio”.

Concepção e Performance: Janaina Leite I Participação Especial: Anita Saltiel I Dramaturgismo: Lara Duarte e Lillah Halla I Edição de vídeo: Mateus Capelo I Direção de produção: Carla Estefan I Operação de zoom: Juracy de Oliveira | Assessoria de Imprensa: Nossa Senhora da Pauta.

PORNOSHOW O ARMÁRIO NORMANDO

30 de maio, sábado, às 22h, no Sympla Streaming Beta.

Grátis. Ingressos no linktr.ee/salaabertarec . Duração – 120 minutos. Capacidade – 120 pessoas. Recomendado para maiores de 18 anos.

O público é convidado a transitar livremente em salas virtuais com performances pornográficas e interativas. Criado por Janaina Leite em colaboração com André Medeiros Martins, Lara Duarte e Mateus Capelo, a ação foi desenvolvida no contexto da pandemia, inteiramente virtual e audiovisual. Partindo da orgia descrita no capítulo O Armário Normando do livro A História do Olho, de Georges Bataille, e utilizando como estrutura a plataforma Zoom, 10 performers, entre amadores e profissionais do sexo, são convidados a explorar seus armários pornográficos. Os espectadores, na posição de exibicionistas ou voyeurs, completam a dinâmica de cada noite.

Concepção: Janaina Leite em colaboração com André Medeiros Martins, Mateus Capelo e Lara Duarte I Performers Núcleo do Olho: Bixaputa, Manfrin, Georgia Vitrilis, K-reaux, Cyber Succubus, Dante Pacolla, Ana de O., Pedro, Emilene Gutierrez, Dalva Bataille, Oliver Olivia e Ultra Martini. Direção de produção: Carla Estefan I Assessoria de Imprensa: Nossa Senhora da Pauta.