domingo, 21 de setembro de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba

 


Lições de Joy: Empatia e Aceitação na Despedida

 

Por Mariângela Borba

 

Olá, leitores do #SendoProsperidade, tudo bem? Desde o início da semana, eu sentia uma forte dor na nuca, assim como senti quando da passagem de mamãe, de feliz memória. Eu só pensava em papai, mas, ao mesmo tempo, procurava afastar essa ideia da cabeça. E a minha própria mente dizia para mim, como mamãe falava: "oxe, deixa de tua besteira, menina!". E nessa semana voltei a me exercitar, de leve, pois, desde a última cirurgia, eu havia me resguardado um pouco de atividades físicas,  para não haver mais uma reincidência de hérnia. Um amigo quiropraxista desfez dois nós na minha coluna vertebral, recorri a alguns analgésicos, coisa que eu não  fazia  há tempos,  pois tinha dia que a dor era tanta que virava enxaqueca e me tirava do prumo. Hoje, no meio da manhã, mais ou menos, fui ao salão, pois estava com horário marcado. De repente, meu irmão me liga (oi!?):

 - "Mariângela, estou aqui no veterinário. Joy...".

 A ficha caiu.

 - Suba e... Você está em casa?

- Não.

- Então deixa, não adianta.

- Ligue para papai.

- É, vou ligar, mas papai...

 Desligamos. Fiz uma oração, pensei em mamãe. Pedi acolhimento. O bichinho não merecia sofrer: já foram tantos diagnósticos (celulite juvenil, epilepsia, câncer no pâncreas e, por fim, síndrome de Cushing, que o deixou sem andar). Os tratamentos e as medicações não adiantaram e, segundo o veterinário,  não surtiria efeito. Foi melhor assim.

 Eu ainda não aprendi a lidar com a morte, embora não tenha medo de morrer e saiba que ela faz parte da vida. Talvez seja por isso que acredito que precisamos falar do luto. Creio que é porque somos culturalmente criados para as vitórias, conquistas e sucesso, mas recebemos pouquíssima (ou quase nenhuma) educação para seus opostos. E quando a maior das perdas surge, não sabemos lidar com ela, que é a única certeza que temos na vida. Mas, como bem versou o saudoso Gonzaguinha: "ninguém quer a morte, só saúde e sorte!". Mesmo gradativamente, com doenças lentas, é difícil superar. Cada processo de perda traz um peso diferente, um sentimento de ausência que se transforma em saudade. E o “fim” de Joy foi tão semelhante ao de mamãe...

 Ah, mas sentir saudade, por conta das perdas e experiências vividas, é o que interessa. Isso nos traz mais empatia, não sabe? Ah, Mariângela, mas era um animal. E daí? Nós reconhecíamos e retribuíamos o carinho um do outro. Lembro que, nesta fase final, talvez porque nos víssemos menos vezes (porque ele não estava mais descendo e eu subia pouco), das vezes que estive lá, ontem mesmo, ele rosnava para todos que se aproximavam dele e eu dizia: "calma, Joyzinho, eu estou aqui". E ele olhava para mim tão lindamente, os olhinhos brilhavam, e ele recostava a cabeça em mim. Que sensação incrível, pura e tão nossa! 

Além disso, guardo os momentos alegres que passamos: quando eu o ensinei a fazer as necessidades na rua e não dentro de casa, quando os pais viajaram, das brincadeiras que tínhamos durante a "prisão" da pandemia, do período que "os pais" viajavam, deixavam ele aqui comigo e eu colocava música de ninar cachorro para “o bebê” se aquietar e dormir – depois do primeiro dia, era balela. Enfim, esses serezinhos nos ensinam que ter empatia faz sermos menos egoístas e sentir que ele, de fato, estava passando por um período sem nenhuma esperança de melhora e num processo vegetativo. Às vezes, ele dava um ar de vigorosidade e latia para quem chegava. Fez isso comigo hoje, quando saí, ao me ouvir abrindo a porta para sair. Daqui de baixo mesmo gritei: "oi, nêgo Joy, quando eu voltar, eu subo, porque já estou em cima da hora!". E aquele latido, um pouco diferente e mais insistente, era como se fosse uma premonição do último adeus – foi por isso que, no parágrafo anterior, escrevi que, quando o meu irmão ligou, a ficha havia caído. Foi melhor assim.

Obrigada, Joyzinho, por ter sido intenso e verdadeiro. O que quero guardar de nós dois são as nossas lembranças positivas e por você ter sido o “meu filho dos outros”. Ao voltar e rezar por você, "o vi sendo acariciado por mamãe, ela o chamando de Jojô e você todo contente no colo da vovó". Que bom que a liberdade veio te libertar dos grilhões, meu amor! Tudo o que vivemos formou a nossa existência e foi um grande  presente da vida. Gratidão por compartilhar sua vidinha e seus ensinamentos conosco. Você continua em nós,  assim como Conchita,  Betina,  Sophia,  Apolo,  Bóris e Thor. Tal qual eles, você se tornou infinito!

 Gratificante mesmo é saber que você está feliz e em boa companhia. Mais uma vez,  obrigada por desfrutar da  sua existência.

 Descanse em paz!

*Mariângela Borba é comunicadora multifacetada, jornalista diplomada, revisora credenciada  e uma social media expert. Produtora Cultural  com presença nos Conselhos municipais e nacionais de cultura,  além de expertise em Cultura Pernambucana. Teve passagem pela secretaria Executiva do MinC, Regional Nordeste, e também Secretaria de Imprensa de Paulista (PE), além de ter circulação pelas conceituadas editorias de jornais e rádios de Pernambuco. Premiada e com produção bibliográfica na área de cultura. Membro da AIP, com um com um bisavô fundador que também era jornalista, Edmundo Celso.