domingo, 11 de maio de 2025

Teatro de Santa Isabel: um patrimônio cultural que resiste ao tempo

 


O Teatro de Santa Isabel, localizado no coração do Recife, é um dos marcos históricos mais importantes da cidade e do Brasil. Inaugurado em 18 de maio de 1850, o espaço é um dos principais representantes da arquitetura neoclássica no país e mantém sua relevância cultural há quase dois séculos.

A ideia da construção surgiu em 1839, quando Francisco do Rego Barros, então presidente da província de Pernambuco, autorizou o projeto para dotar Recife de um teatro público. O engenheiro francês Louis Léger Vauthier foi o responsável pelo desenho da obra, que se tornaria um dos cartões-postais da cidade. Durante a fase de construção, o teatro era chamado de Teatro de Pernambuco, mas, pouco antes da inauguração, recebeu o nome definitivo em homenagem à Princesa Isabel, filha do imperador Dom Pedro II.

Ao longo de sua trajetória, o Teatro de Santa Isabel se tornou palco de importantes momentos históricos. Foi nele que o poeta Castro Alves conheceu sua musa e grande paixão, a atriz Eugênia Câmara, e também serviu de espaço para discursos abolicionistas, como os proferidos por Joaquim Nabuco. O local recebeu ilustres visitantes, incluindo Dom Pedro II, consolidando sua posição como um dos centros culturais mais prestigiados do país.

A casa de espetáculos enfrentou grandes desafios ao longo dos anos. Em 1869, um incêndio destruiu parte de sua estrutura, levando a uma reconstrução que seguiu as orientações de Vauthier, então já residindo na França. O teatro foi restaurado e manteve sua imponência, reforçando seu papel como ícone arquitetônico e cultural do Recife. Em 1949, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), garantindo sua preservação como um dos 14 teatros-patrimônio do Brasil.

Hoje, o Teatro de Santa Isabel segue ativo, recebendo peças teatrais, espetáculos musicais e eventos culturais que celebram sua história. Além da programação artística, o espaço oferece visitas guiadas aos domingos, permitindo que o público conheça de perto os bastidores de um dos teatros mais emblemáticos do país.

Com quase 175 anos de história, o Teatro de Santa Isabel permanece como um símbolo da resistência e da valorização da cultura em Pernambuco. Um monumento que atravessa gerações, preservando o passado e inspirando o futuro das artes cênicas no Brasil.

João Caetano: O pioneiro que revolucionou o teatro brasileiro no século XIX

 

João Caetano dos Santos (1808–1863) é um dos grandes nomes da história do teatro brasileiro, sendo considerado o primeiro grande ator nacional e um dos responsáveis por profissionalizar a arte dramática no país. Nascido em Itaboraí, no estado do Rio de Janeiro, ele se destacou não apenas como intérprete, mas também como empresário e professor, deixando um legado que influenciou gerações de artistas.

Sua carreira teve início de forma amadora, mas logo ele ganhou reconhecimento e estreou profissionalmente em 1831 com a peça O Carpinteiro da Livônia. Dois anos depois, fundou a Companhia Nacional João Caetano, reunindo atores brasileiros e promovendo espetáculos que variavam entre montagens nacionais e adaptações de clássicos internacionais. Seu nome ficou especialmente marcado por ser o primeiro ator brasileiro a interpretar personagens de Shakespeare, como Otelo e Hamlet, trazendo uma nova dimensão ao teatro nacional.

Além de suas atuações memoráveis, João Caetano também se dedicou ao ensino e à formação de novos talentos. Em 1860, inspirado pelo Conservatório Real da França, ele criou uma escola de arte dramática no Rio de Janeiro, oferecendo educação gratuita para aspirantes a atores. Seus livros Reflexões Dramáticas (1837) e Lições Dramáticas (1862) também contribuíram para o desenvolvimento do teatro brasileiro, estabelecendo diretrizes para a interpretação e a construção de personagens.

O impacto de João Caetano na cena teatral foi profundo. Antes dele, a declamação dos atores era considerada artificial e rígida, seguindo um padrão monótono que pouco envolvia o público. Com sua abordagem inovadora, ele trouxe uma interpretação mais natural e expressiva, revolucionando a maneira como os artistas se apresentavam nos palcos brasileiros.

João Caetano faleceu em 1863, mas sua influência permanece viva até os dias de hoje. O Teatro João Caetano, localizado no Rio de Janeiro, foi batizado em sua homenagem, perpetuando a memória daquele que ajudou a construir os alicerces do teatro nacional.

A evolução da crítica teatral em Pernambuco: de pseudônimos anônimos à profissionalização

 

A crítica teatral em Pernambuco tem desempenhado um papel essencial na valorização da cena artística local desde o século XIX. Inicialmente presente nos jornais por meio de resenhas assinadas por autores anônimos—sob pseudônimos como O Kapla, O Espectador e O Sentinela—essa prática foi se consolidando ao longo dos anos até atingir um alto nível de profissionalização.

No início do século XX, críticos renomados passaram a assinar textos e a estruturar análises mais aprofundadas sobre os espetáculos apresentados nos palcos pernambucanos. Nomes como Manoel Arão, Mário Melo, Samuel Campello e Valdemar de Oliveira foram fundamentais nesse processo, trazendo reflexões sobre dramaturgia, encenação e interpretação.

Os embates entre críticos, público e artistas sempre marcaram a trajetória da crítica teatral no estado. Em 1900, a peça Drama do Ódio, de Manoel Arão, gerou grande repercussão nos jornais, levantando discussões sobre os limites da liberdade artística e da ética na produção teatral. Esse tipo de polêmica ajudava a estimular o debate e consolidar a importância da crítica na formação do pensamento sobre teatro.

Já na década de 1950, o teatro pernambucano começou a ganhar reconhecimento nacional, impulsionado por grupos como o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). Críticos passaram a acompanhar e analisar montagens que se tornaram marcos da dramaturgia brasileira, como Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Curiosamente, a peça, que hoje é considerada uma das mais importantes do teatro nacional, não foi bem recebida pelo público e pela crítica em suas primeiras apresentações.

Atualmente, a crítica teatral em Pernambuco continua exercendo um papel fundamental na cena cultural do estado. Seja por meio de análises publicadas na imprensa, seja por debates promovidos em redes sociais e eventos acadêmicos, ela segue acompanhando e dialogando com as transformações do teatro, refletindo as mudanças estéticas e sociais que influenciam a produção artística.

Ao longo dos séculos, a crítica teatral pernambucana se manteve viva e relevante, ajudando a construir e preservar a identidade do teatro no estado e contribuindo para a valorização da arte cênica no Brasil.

Jornalista e pesquisador Leidson Ferraz lança obra sobre a crítica teatral no Recife em evento no Teatro de Santa Isabel

 

Foto: Léo Mota - Arquivo Folha

Na próxima sexta-feira (16 de maio de 2025), o Teatro de Santa Isabel, em Recife, será palco de um evento especial para os apaixonados por teatro e história. O jornalista, pesquisador e historiador Leidson Ferraz, Doutor em Artes Cênicas pela UNIRIO, lança sua mais recente obra, Ponto de Vista: crítica e cena pernambucana, fruto de uma extensa pesquisa histórica sobre os primórdios da crítica teatral no Recife durante o século XIX e início do século XX.

O livro, viabilizado pelo incentivo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB/PE), investiga as primeiras publicações críticas sobre teatro nos jornais locais, revelando um cenário de embates entre artistas, público e imprensa especializada. Ferraz percorreu centenas de periódicos para mapear as primeiras resenhas teatrais, inicialmente assinadas por autores anônimos que usavam pseudônimos curiosos, como O Kapla, O Espectador e O Sentinela. No início do século XX, os textos passaram a ser assinados por jornalistas contratados, entre eles Manoel Arão, Mário Melo, Samuel Campello e Valdemar de Oliveira.

A obra também discute o impacto da inauguração do Teatro de Santa Isabel, em 1850, na cena teatral pernambucana. Com a chegada de companhias visitantes e a introdução de peças melodramáticas e gêneros ligeiros, como operetas e revistas teatrais, o público e a crítica frequentemente demonstravam resistência a essas mudanças. Ferraz relembra, por exemplo, o episódio de 1869, quando as primeiras óperas-buffa apresentadas na casa de espetáculos geraram indignação, tumultos e até a necessidade de intervenção policial.

O lançamento do livro acontecerá no palco do Teatro de Santa Isabel, a partir das 19h, e contará com uma palestra especial do autor. Durante o evento, ele compartilhará curiosidades sobre o teatro pernambucano, imagens raras e histórias que ajudam a conectar o passado com o presente da cena teatral. A noite promete ser descontraída e informativa, oferecendo um olhar aprofundado sobre a evolução da crítica e sua relação com o público e os artistas.

A entrada é gratuita, e os interessados poderão assinar um livro de presença para ter acesso à casa de espetáculos. O evento também marca o início das comemorações dos 175 anos do Teatro de Santa Isabel, reforçando seu papel como um dos espaços culturais mais importantes de Pernambuco.

Para quem deseja mergulhar na história do teatro e entender como o olhar crítico moldou sua trajetória, o lançamento de Ponto de Vista: crítica e cena pernambucana é uma oportunidade imperdível. O Teatro de Santa Isabel fica na Praça da República, no bairro de Santo Antônio.





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