Segundo avaliação de dirigentes de partidos da base, caso Zveiter apresente mesmo um parecer contra Temer, isso vai dar argumento aos deputados que querem “pular fora”. E afirmam que “o ideal era um relator que não fosse do PMDB”.
— Um voto a favor da denúncia de um deputado jurista, que foi conselheiro nacional da OAB e tem perfil totalmente independente, alivia muita gente que quer pular fora e não tinha argumento. No PMDB e nos outros partidos — disse um peemedebista da cúpula do partido.
Zveiter é considerado um parlamentar que não pertence a grupos na política, nem nacionalmente, nem no Rio. Por isso, não haveria qualquer político com capacidade de pressioná-lo verdadeiramente. O deputado faz questão de reafirmar seu perfil de independência.
— Meu compromisso é com a Câmara e com meus colegas. Ser independente significa dizer que eu sou uma pessoa consciente, que pertenço ao poder Legislativo, e eu quero dar uma contribuição para que deputados e deputadas possam autorizar ou não o Supremo a dar continuidade ao procedimento. Sou independente no sentido de que não pertenço ao Executivo, nem ao Ministério Público, nem ao Judiciário. É nesse sentido que eu trabalho — disse Zveiter ontem ao GLOBO.
Ele não quis adiantar o teor do voto. Disse ter contado com a ajuda de dois professores universitários de Direito Penal e Direito Constitucional, mas não revelou os nomes. Afirmou que gastará menos de uma hora para ler o voto e, caso lhe seja exigida também a leitura do relatório, isso não consumirá duas horas.
— É um voto sucinto e objetivo. Não demora nem uma hora. Se tiver que ler o relatório também, vai dar uma hora e pouco — estimou o relator.
Deputados da base aliada admitem que a forma que será usada para defender, ou não, a abertura do processo contra o presidente vai interferir nos votos, principalmente entre os indecisos.
— A decisão vai ser politica. Quem estiver mais forte e com as expectativas mais consolidadas vai ser vencedor. Se ele (relator) vier pedindo para aceitar a denúncia em um tom político, é bom para o presidente. Agora, se o tom for jurídico, já fica ruim para o governo — disse o líder do PP, deputado Arthur Lira (AL),
Partido do presidente da Câmara, o DEM deve ter a maioria dos votos pró-Temer na CCJ, disse o líder do partido, Efraim Filho (BA). Ele admite, no entanto, que o voto do relator hoje vai pesar decisão dos deputados.
— Até agora, a maioria dos votos do DEM na CCJ são pró-governo. Mas nós vamos esperar o parecer do relator, que vai ser o fio condutor desse debate na semana. Dependendo do que o relator disser, as coisas vão andar para um lado ou para outro — disse Efraim.
Temer teve uma agenda intensa ontem. Pela manhã, esteve com Maia e Eunício. À noite, convocou líderes aliados e alguns ministros para uma reunião no Palácio da Alvorada para traçar estratégias. Também participaram da reunião os ministros Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria Geral.
Apesar da maré desfavorável, o governo continua vendendo um clima de otimismo em relação ao placar, tanto na CCJ, quanto no plenário da Câmara. Padilha é o responsável pelo mapa de votos na comissão e no plenário. O ministro tem dito que ainda é cedo para falar em número de votos, mas que há uma “tendência favorável” para Temer.
Desde que a denúncia contra o presidente chegou à Câmara, a rotina de Temer no Palácio do Planalto passou a incluir agenda lotada de deputados, com compromissos, em alguns dias, das 8h às 23h. O governo fez questão, por exemplo, de fazer cerimônia para comemorar o aniversário da Lei das Estatais, que Temer chegou a descumprir. Ele também fez evento para sancionar a lei de diferenciação de preços para pagamento com dinheiro e cartão, o que havia sido anunciado em dezembro.
A despeito da tentativa de passar normalidade, um integrante do governo próximo aos ministros da cúpula diz que o Executivo está tendo dificuldade de trabalhar e fazer agendas positivas. Não só Temer, mas seus principais ministros, também estão “com a corda no pescoço”.
— Há um cheiro de guilhotina no ar. Você chega no Palácio e não dá para trabalhar, está todo mundo com a corda no pescoço — disse esse interlocutor.
EXPOSIÇÃO NEGATIVA
Um perigo na CCJ, pontua um assessor do governo, é a exposição negativa que os deputados defensores de Temer podem ter, ainda mais se a tramitação for demorada, como quer a oposição.
— A CCJ tem menos de 15% dos deputados da Casa. O desgaste pode ser grande. No plenário, tudo é dissolvido em 513 deputados. E a eleição está no radar — diz esse assessor.
Ao longo das últimas semanas, os discursos de Temer têm focado em atacar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o denunciou ao STF por corrupção passiva. No contexto de crise política que atinge diretamente o presidente, projetos e compromissos do governo ainda não concluídos transformaram-se em moeda de negociação com deputados, que decidirão o futuro do processo criminal contra Temer.
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