segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Um dia para Ibeji acontece no ilê Axé Talabí em Paulista com acolhimento para crianças

 

Há mais de 30 anos, integrantes da comunidade tradicional do Terreiro Nagô Axé Talabi, localizado na comunidade de Paratibe em Paulista, região metropolitano do Recife, realiza uma celebração para louvar a ancestralidade, a cultura e a fé em devoção aos orixás Ibeji, orixás gêmeos que representam a prosperidade familiar a partir da chegada de novas crianças.

Um dia para Ibejí acontecerá na próxima segunda-feira, 27 de setembro, será ofertada para as famílias moradoras da própria comunidade. A programação acontece às 16:00 horas.

Tradicionalmente neste dia a comunidade se prepara uma grande festa para receber todas as crianças e receber as famílias moradoras do bairro e adjacências. Um dia inteiro é dedicado à realização de brincadeiras tradicionais como a corrida de saco, o quebra panela, a contação de histórias e apresentações de teatro, além do compartilhamento de alimentos e a distribuição dos saquinhos de doces e de muitos brinquedos.

Este ano, diante dos desafios sociais e da grave crise causada pela pandemia, membros da comunidade do Terreiro Axé Talabi fizeram um balanço e observaram como a cultura e religiosidade afro-brasileira foram impactadas pela COVID-19. Com as atividades públicas do terreiro suspensas desde março, em respeito aos protocolos de segurança e saúde, os religiosos continuam a seguir as orientações dos orixás de não realizarem celebrações abertas e participativas, realizando apenas os rituais internos de oferendas para o fortalecimento espiritual coletivo.







Se faz necessário levar em conta as possibilidades de se realizar uma ação que acolhesse e ao mesmo tempo garantisse a segurança de todos, para isto uma mobilização foi aderida pelos filhos, amigos e consulentes da casa, que acionou uma rede de doações para garantir que alimentos e os tão esperados doces e brinquedos pudessem ser distribuídos.

Senhas com horários distintos foram entregues para as famílias receberem as doações, uma alternativa para que não haja aglomeração em frente ao terreiro. Outra estratégia que será adotada é o uso obrigatório de máscaras e o respeito aos marcadores postos no piso externo do terreiro, para orientar a necessidade do distanciamento mínimo entre as pessoas.

“Não podíamos deixar que neste dia tão importante não fosse realizado nada. Tivemos de nos reformular, mesmo não recebendo as crianças para realizarmos nossa festa como ela é, com todos juntos, estamos preparando um dia diferente, de acolhimento para amenizar as dores causadas pelas perdas e violências que temos vivido,” destaca a Iyalorixá da casa Mãe Lú de Iyemanjá.

Para Pai Júnior de Odé, Babalorixá e membro do conselho religioso da casa, os terreiros de religiões de matriz afro-indígenas são espaços de acolhimento, resistência filosófica, cultural e de dignidade humana. O Axé (poder de realização) dos Orixás é dinâmico, capaz de nos impulsionar para novos caminhos, rumos e possibilidades, é propulsor na perspectiva de superação e de mudanças.

“Já passamos por momentos de muitas dificuldades e crises sociais, somos frutos de uma força ancestral que se restabeleceu na dor. O Axé dos Orixás e dos Encantados é o que tem nos sustentado, desde sempre. No passado outras pandemias já assolaram as nossas comunidades. O fato é que antes, durante e depois das pandemias, precisamos de força para enfrentar o racismo, as desigualdades e a intolerância histórica que recai sobre nós,” afirma o Babalorixá.

Com informações e imagens do jornalista Sandro Barros