segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Brenda Lee e o Palácio das Princesas

 

Nova produção do Núcleo Experimental conta a história da travesti Caetana, também conhecida como Brenda Lee, que se tornou um marco na luta por direitos LGBTQIA+. Brenda Lee e o Palácio das Princesas tem dramaturgia, letras e direção de Fernanda Maria, direção e figurinos de Zé Henrique de Paula e música original de Rafa Miranda

O musical, que conta com seis atrizes transvestigêneres (Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Marina Mathey, Tyller Antunes, Ambrosia e June Weimar) e um ator cisgênero (Fabio Redkowicz), fala sobre a luta das travestis nas ruas de São Paulo, a escassez de oportunidades que as impele à prostituição e sobre como foram apoiadas por Brenda, que acolheu em sua casa, as doentes de Aids numa época em que quase nada ainda se sabia sobre a doença. 

A orquestra é formada por Rafa Miranda (piano), João Baracho (bases), Pedro Macedo (baixo), Abner Paul (bateria) e Leandro Nonato (violão). Espetáculo conta, ainda, com preparação de atores de Inês Aranha e coreografia de Gabriel Malo.

A temporada é online e gratuita, de 7 de outubro a 12 de novembro, às 21h transmitida diariamente pelo canal do Núcleo Experimental no Youtube.

A criação deste musical é uma continuidade das pesquisas do Núcleo Experimental sobre as possibilidades de interação entre música e teatro, consolida a trajetória do grupo como criador de musicais originais brasileiros e comemora os 10 anos da sua sede no bairro da Barra Funda.

Brenda Lee, nascida em Pernambuco, em 1948, foi uma militante transexual dos direitos da população LGBTQIA+. Morando em São Paulo, comprou um sobrado no bairro do Bexiga e começou a acolher travestis portadoras do vírus HIV numa época em que quase nada se sabia sobre a epidemia e em que o preconceito condenava pessoas com HIV ao abandono e à solidão. A importância de Brenda Lee foi enorme, sua casa de apoio e acolhimento à população trans ficou conhecida como Palácio das Princesas, firmou convênios com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo e com o Hospital Emílio Ribas e em conjunto, aprimoraram a forma de atender pacientes soropositivos, independente de gênero, sexo, orientação sexual e etnia. Aos 48 anos, em 28 de maio de 1996, no auge de seu projeto, Brenda foi assassinada, encontrada no interior de uma Kombi estacionada em um terreno baldio com tiros na região da boca e no peitoral. O crime teria sido motivado por um golpe financeiro cometido por um funcionário da casa. Em 2008, foi criado o “Prêmio Brenda Lee”, que contempla personalidades que se destacam na luta contra o HIV e prevenção da Aids.


“Contar a história do Palácio das Princesas é não só manter viva a memória de Brenda Lee, considerada o anjo da guarda da população LGBTQIA+ em São Paulo, mas retratar uma mulher trans protagonista em sua luta e ativismo. Com a criação deste musical, também pretendemos diversificar o grupo de artistas que trabalham com o Núcleo Experimental, empregando musicistas, atrizes, criativos e técnicos transexuais e transgêneros. Este projeto significa mais oportunidades para uma população discriminada no mercado de trabalho”, conta a dramaturga Fernanda Maia, que completa: 

“O Núcleo Experimental tem consolidado uma obra em que o musical aparece não somente como diversão, mas como uma forma de arte que pode também refletir e discutir a sociedade. Um espetáculo composto por atrizes transvestigêneres, sobre uma importante travesti no panorama do surgimento da Aids e do fim da ditadura militar nos anos 80 significa colocar no centro do processo artístico criativo quem sempre esteve às margens. Fazer isso sob forma de musical significa atingir um tipo de público não habituado às histórias da população trans, contribuindo para a diminuição do apartheid social em que nos encontramos”. 

SINOPSE 

O musical Brenda Lee e o Palácio das Princesas traz um pouco da história de Brenda Lee, chamada de o “anjo da guarda das travestis”, ativista que fundou a primeira casa de apoio para pessoas com HIV/Aids, do Brasil.  Ela tem uma pensão para travestis que, em sua maioria, vivem da prostituição. Apesar da realidade de violência em que vivem, dentro da casa as travestis são acolhidas por Brenda, que lhes ensina a querer mais da vida. 

Concepção

A dramaturgia alia três planos: o dos números musicais, que faz uma homenagem às antiga boates da noite paulistana que nos anos 80 foram um porto seguro da população transgênero e geraram oportunidades de trabalho para as travestis. Neste plano as meninas da casa da Brenda contam suas histórias pregressas e falam de seus sonhos e objetivos através de canções; o plano da história cronológica em que Brenda abre mão do sonho de ter seu "Palácio das Princesas'' para poder acolher as amigas que estavam doentes e o plano das entrevista. 


“Na dramaturgia, inserimos transcrições de entrevistas reais de Brenda Lee colhidas de registros em vídeo na internet. Nestas entrevistas ela conta quem é, fala sobre sua família, sobre a prostituição, sobre como amealhou um patrimônio e o colocou à disposição de outras amigas. Fala sobre o trabalho na casa e sua relação com a morte. As moradoras da casa de Brenda Lee (Isabelle Labete, Ariela del Mare, Blanche de Niège, Raíssa e Cynthia Minelli) foram inspiradas pelas princesas de contos de fada, numa alusão ao apelido da casa. Suas histórias foram construídas a partir das histórias de travestis reais através da nossa pesquisa”, conta Fernanda Maia. 

“Conseguimos um material bibliográfico de apoio além de depoimentos de pessoas que conheceram pessoalmente Brenda Lee, foram moradoras ou trabalharam na casa. Duas dessas pessoas foram os médicos Jamal Suleiman e Paulo Roberto Teixeira. O Dr. Jamal Suleiman é infectologista e ainda trabalha no Hospital Emílio Ribas, ele conheceu Brenda Lee, quando ela levava suas moradoras ao hospital, no início da epidemia. Como o Hospital ainda não possuía uma estrutura especializada no atendimento de HIV/Aids e como os médicos e enfermeiros não possuíam preparo para o atendimento da população transvestigênere, ainda muito marginalizada, ele se ofereceu para atender dentro da casa de Brenda. O Dr. Paulo Roberto Teixeira, infectologista, atualmente aposentado, foi um dos pioneiros no enfrentamento da epidemia de Aids no Brasil, graças ao seu esforço incansável e à sua luta pela quebra de patentes, os medicamentos antirretrovirais são distribuídos gratuitamente pelo SUS”. 

No musical, as letras são de Fernanda Maia e as músicas de Rafa Miranda. As canções têm elementos de brasilidade aliados à contemporaneidade, tendo como referência compositores queer, transgêneros e não binários. Bases eletrônicas deverão aludir à boate, mas as canções das personagens terão contornos melódicos elaborados e harmonias que reforcem o aspecto afetivo da canção. Num grande número final, as “filhas de Caetana”, cantam suas vitórias e celebram sua grande protetora, que abriu caminho para que elas pudessem ter uma vida melhor.

Ficha técnica:  

Dramaturgia, letras e direção musical: Fernanda Maia

Direção e figurinos: Zé Henrique de Paula

Música original e preparação vocal: Rafa Miranda

Preparação de atores: Inês Aranha

Coreografia: Gabriel Malo

Assistente de direção (teatro): Rodrigo Caetano

Iluminação: Fran Barros

Cenografia: Bruno Anselmo

Visagismo (cabelos e maquiagem): Diego D'urso

Assistente de figurino: Paula Martins

Direção audiovisual: Laerte Késsimos

Assistente de direção (audiovisual): Lucas Romano

Câmera: Marco Lomiller

Som: Alexandre Gomes

Coordenação de produção: Zé Henrique de Paula e Claudia Miranda

Produção executiva: Laura Sciulli

Músicos: Rafa Miranda (piano), João Baracho (bases), Pedro Macedo (baixo), Abner Paul (bateria), Leandro Nonato (violão)

Elenco: Verónica Valenttino, Olivia Lopes, Marina Mathey, Tyller Antunes, Ambrosia, June Weimar e Fabio Redkowicz

LIVES complementares: 

20 de setembro, segunda-feira, às 20h 

Live com Ubirajara Caputo e Marina Mathey (atriz da peça), na plataforma Instagram, sobre a vida e o legado de Brenda Lee.

Ubirajara Caputo é doutorando em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Psicologia pelo Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do mesmo instituto. Bacharel em Ciências do Trabalho pela Escola DIEESE de Ciências do Trabalho. Dedica-se ao estudo do preconceito motivado por orientação sexual/identidade de gênero, atuando principalmente nos seguintes temas: transgeneridade, preconceito, LGBTfobia, trabalho e direitos humanos. É ativista do movimento social por equidade de direitos às LGBT desde os anos 1980.

27 de setembro, segunda-feira, às 20h

Live com Fernanda Maia e Amara Moira, na plataforma Instagram, sobre arte e transvestigeneridade, tendo como pano de fundo "Brenda Lee e o Palácio das Princesas".

Amara Moira é uma transexual, feminista, escritora e professora de Literatura. Defendeu Doutorado em teoria literária pela Universidade Estadual de Campinas sobre a produção literária de James Joyce e, com isso, se tornou a primeira mulher trans a obter o título pela referida universidade usando seu nome social. Na sequência, iniciou sua atividade como prostituta e como escritora de um blog, onde relatava suas experiências e a de outras colegas na profissão. Tal período foi inspiração para a escrita posterior de seu livro, "E se eu fosse puta", lançado em 2016. Atualmente, não trabalha mais como profissional do sexo, mas é uma defensora da regulamentação da prostituição no Brasil.

04 de outubro, segunda-feira, às 20h

Live com Fernanda Maia e Roberta Leroux, pela plataforma Instagram, sobre a história da transvestigeneridade no Brasil nos anos 80 e 90, tendo como pano de fundo "Brenda Lee e o Palácio das Princesas".

 

Roberta Leroux é uma empresária e mulher trans que vive atualmente na Suíça. Participou ativamente da cena trans do final dos anos 80 e início dos 90, tendo conhecido Brenda Lee antes do surgimento da Casa de Apoio.

05 de outubro, terça-feira, às 21h

Lançamento do making-of do espetáculo "Brenda Lee e o Palácio das Princesas", com depoimentos da dramaturga e do elenco. Na plataforma YouTube, canal do Núcleo Experimental.

O making-of ficará disponível para acesso livre, por período indeterminado.

SERVIÇO 

7 de outubro a 12 de novembro 

Sessões diárias, às 21h, pelo canal do Núcleo Experimental no Youtube. 


Nos dias 12, 13 e 14 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h) o espetáculo também será transmitido pelas redes sociais do Teatro Alfredo Mesquita e nos dias 19, 20 e 21 de novembro (sexta e sábado, às 21h / domingo, às 19h) o espetáculo também será transmitido pelas redes sociais do Teatro Paulo Eiró.


Grátis

Classificação indicativa: 12 anos

Duração: 1h40