quarta-feira, 19 de agosto de 2020

#NãoPassarão Os mal-diagramados Galãs Feios

Eles são paulistanos, jornalistas, amam música - especialmente o rock n' roll - e quase que foram músicos profissionais. Mas foi no Jornalismo onde eles se acharam profissionalmente  - mais precisamente no Portal R7 (da TV Record) onde trabalharam juntos. Mas a parceria se consolidou mesmo na Galãs Feios, que tem seus perfis nas redes sociais e começou como uma zuera com homens considerados "feios" mas que viram galãs... Aqui pra nós, de feios eles não têm nada... Muito pelo contrário! Helder Maldonado, 35 anos (o de camisa preta), é casado e tem um casal de filhos pequenos. Marco Bezzi tem 46 anos recém-completados, namora sério a atriz e professora Dani e tem um filho pré-adolescente cuja irmã mais nova é afilhada do Bezzi. Helder Maldonado conversou com o blog por e-mail e nossos leitores podem conhecer um pouco mais da dupla mais mal-diagramada do Brasil.

1) Num primeiro momento, a Galãs Feios falava mais sobre cultura pop e "beleza" masculina, e depois acabou enveredando na política. Por que essa mudança?

R: Foi bastante natural, para ser sincero. Ao mesmo tempo que a cultura pop se politizou, se conscientizou e adotou a discussão de temas sobre representatividade e políticas identitárias, a política também se culturalizou, trouxe para as eleições temas como marxismo cultural, críticas às leis de fomento, e, no poder, destruiu o que restava do Minc. Esse intercâmbio entre os dois temas está cada vez maior. Ao mesmo tempo que é possível ver o primo da primeira dama dando entrevista à Quem ou a mulher do Eduardo Bolsonaro sendo convidada no canal da Antonia Fontenelle, o governo gera crises, discussões e polêmicas dignas dos mesmos sites e que, antes, eram protagonizadas apenas por ex-BBBs e Mulheres Frutas. Então, acabamos vendo um teor humorístico nesse assunto também. Claro que éramos relativamente politizados e interessados no que acontece no país, mas existe um senso de oportunidade em não perder pautas tão boas e escandalosas como as que dominam os noticiários e redes sociais do Brasil. Fora que não podemos ignorar o fato de que ex-galãs como Frota, Frias, e outros viraram políticos e cabos eleitorais do presidente.

Outro ponto que é preciso destacar aqui é que nosso canal sempre fez crítico sociocultural, mesmo na época menos politizada. As discussões sobre kits e comportamento podem parecer distantes da política, mas não é. Grande parte daqueles estereótipos que discutimos inicialmente hoje podem ser vistos com grande destaque na mídia e na política na direita principalmente, mas relativamente na esquerda também.

2) Vocês já se conheciam antes do canal? Como surgiu a parceria?

R: O Bezzi e eu trabalhamos juntos no Portal R7, da TV Record. Foi lá que nos conhecemos. Durante dois anos, Bezzi foi meu editor, mas eu já havia ouvido falar muito mal dele dentro da redação, pois o cara teve uma passagem antes pela empresa. Tinha até medo do que iria encontrar quando foi anunciado o retorno, mas nós demos bem logo de cara, até por termos muitos interesses em comum. Foi aí que percebi que a rádio peão de empresa dá uma exagerada em tudo. E também sabia da atuação anterior dele como sócio na revista Zero, que li quando era adolescente.

Quando o Bezzi começou a notar que não queria mais atuar em redação, me propôs uma parceria na GF, que então era só página de Facebook. Como ele era chefe, ganhava mais e tinha uma grana para expandir na expansão, me propôs comprar equipamentos de gravação de vídeo, criar canal e aumentar o projeto. De certa forma, ele veio com a visão empreendedora e se uniu a mim, que atuo mais no campo criativo da Galãs. Demorou uns três anos até que esse pequeno investimento, coisa na casa de uns R$ 10 mil ao todo, começasse a dar um certo retorno, mas só foi possível viver do canal sem passar fome mesmo agora em 2020. É demorado, mas compensa.

3) Vocês contam publicamente suas histórias pessoais, como as que envolvem depressão, autismo e violência obstétrica. Vocês não temem essa exposição diante dos haters, por exemplo?

R: Não podemos dizer que hater seja um grande problema no nosso caso. Quando fizemos a virada para a política, tivemos uma debandada generalizada em seguidores, e uma troca de perfil entre eles. Muita gente ficou decepcionada, mas nem notava que já estava num espaço progressista, apenas menos evidente. Isso foi lá pro fim de 2018 e muita gente nos criticou. Mas foi mais uma decepção do que ódio. O gabinete do Carluxo não atua nas nossas redes e eu não sei o motivo, mas não posso reclamar também. Deve ser porque somos meio bláse, ignoramos e não estendemos as tretas nos nossos perfis. Se nos criticaram ou ficaram bravos com uma crítica nossa, seguimos adiante, se o caso não chegou perto de injustiça ou crime. Faz parte do jogo de se expor e quem não consegue lidar direito com isso, vai ficar doente, com ansiedade, depressão, crise do pânico ou talvez virar o próprio programa Pânico.

4) Desde sempre o Jornalismo vem passando por perseguições. Vocês já sofreram algum tipo de censura?

R: Como eu já disse, trabalhei por anos na Record enquanto mantinha a página. Saí da empresa no dia 4 de agosto de 2020. Foram quatro anos conciliando as duas coisas. E, diferente do que se imagina, nunca recebi uma crítica ou perseguição lá dentro. A Record pode ter problemas dela, mas é democrática com o funcionário e você pode fazer o que quiser, se posicionar como quiser e até criticar a igreja no seu perfil de rede social. O que você faz fora do horário de expediente, é problema seu. Mas algumas redações, consideradas até mais progressistas, não são assim e sabemos que muita gente precisa apertar o freio de mão publicamente. Dito isso, nunca sofremos censura nenhuma. Das duas ou três vezes que retiramos um vídeo do ar, foi por decisão pessoal, ao reconhecer que erramos, exageramos.

5) Em relação ao Brasil, vocês se classificam como otimistas ou pessimistas?

R: Somo bastante pessimistas. Aliás, preferimos errar pelo pessimismo do que criar uma sensação de falsa esperança e de que as coisas teriam resolução no curto prazo. Quem faz isso, aliás, está sendo desonesto com o público. Nesta década, iremos e mal a pior mesmo. Talvez haja uma recuperação em seguida, mas se juntarmos com a crise que temos desde 2013, mais ou menos, serão quase duas décadas bem ruim. O lado bom é que quase metade já passou, se eu tiver certo.

6) Vocês têm alguma live ou vídeo que consideram como favorito (seja pela audiência, pelo trabalho pra fazer, ou qualquer outra razão)?

R: Todas live que trazemos convidados nos dá satisfação. Mas elas não são como filhos. Podemos ter nossas preferidas, sim. A do entregador Paulo Galo foi muito emocionante. A com o Padre Julio Lancelotti também, até por sermos meio reativos ao cristianismo (o Bezzi é um cara que já esteve em várias religiões, tem suas crenças, mas eu sou ateu, porém você não vai me ouvir falar isso por aí, porque eu acho ateu convicto e militante tão bobo quanto neo pentec). Além disso, na do Padre, levantamos mais de R$ 15 mil para as obras dele.

Já vídeo, vai depender da época, mas aqueles em que a gente consegue unir informação com muito deboche são os favoritos. Nem sempre é possível. Existem temas mais espinhosos, outros que nem se esforçando muito achamos como criar piadas. Mas vamos tentando.

7) Algum plano para o futuro do canal?

R: No momento, acho que estamos no caminho que sempre desejamos, que era viver disso e poder ter a liberdade e independência de criar. Sempre estamos envolvidos em coisas paralelas, mas no momento nada muito relevante.

8) E sobre a parceria com a Educafro? E as lives solidárias?

Como dito acima, é uma satisfação poder ajudar da maneira que podemos. Claro que não acreditamos que a filantropia sozinha vai resolver nossa história e imensa desigualdade social. Não vai. É preciso políticas públicas, um plano estruturado de longo prazo para superarmos isso. Porém, a galera sente fome agora, precisa estudar agora, tem frio agora. E a gente não pode deixar de agir para fazer o que pudermos nesse sentido, até porque isso faz parte da nossa personalidade e de como pensamos publica e intimamente. Conseguimos R$ 15 mil para o projeto de marmitas veganas do João Gordo. R$ 18 mil pro projeto do Padre Julio. Doamos royalties de venda de camisetas para a Eduacafro. Esperamos conseguir realizar outros projetos do tipo.

Nota do Blog: Eles têm um perfil no site de crownfunding Apoia.se e eles precisam de apoio para continuar criando conteúdo de qualidade com total independência. Clique aqui e saiba mais  

Nota do Blog 2: Para quem não conhece o canal, segue um dos vídeos mais recentes, em que Helder Maldonado comenta sobre a morte de Manoel Moisés Cavalcante, promotor de vendas que passou mal e faleceu enquanto trabalhava em um supermercado aqui no Recife: