segunda-feira, 8 de março de 2021

180 Dias de Inverno

 

O espetáculo 180 Dias de Inverno, do Coletivo Binário, inicia uma nova etapa em sua trajetória, que chega aos 11 anos em 2021. Devido às restrições de apresentações presenciais vindas com a pandemia do novo coronavírus, o grupo exibe ao público uma versão gravada diretamente do Teatro Paulo Eiró, que será reproduzida ao público a partir do dia 19 de março, sexta-feira, 21h. Para assistir, basta acessar o site www.coletivobinario.com.br. O trabalho está sendo realizado com recursos do edital Proac Expresso Lab-Lei Aldir Blanc-36/2020.

Com direção de Nando Motta e dramaturgia de Antônio Hildebrando, a peça é inspirada no texto Minha Fantasma, que faz parte do livro Ensaio Geral, escrito pelo pintor, desenhista, escultor, escritor, cineasta, cenógrafo e compositor Nuno Ramos. Nesta obra, o multiartista visita sua trajetória de enfrentamento ao medo e as angústias enquanto cuida de sua esposa doente. Para construir no palco esse relato íntimo, o diretor fez uso de diferentes tecnologias, como projeções, em diálogo com linguagens como o cinema e a dança. O resultado é um espetáculo denso, mas com olhar poético presente tanto no cenário (assinado por Renato Bolelli e Beto Guilger), com móveis submersos em água, quanto na trilha sonora original, composta por Barulhista.

No elenco estão Camilo Lélis, Fabiano Persi e Michelle Barreto. Os figurinos são assinados pelo premiado figurinista Paolo Mandatti, a iluminação é de Bruno Cerezoli e o material de vídeo é assinado por Hugo Drummond e Pedro Furtado. A preparação corporal é da bailarina Carla Normagna. A peça, cuja gravação pretende aproximar o público da cena a partir de uma movimentação de câmera no palco, passa por linguagens cênicas diversas, como o teatro digital, dança-teatro, instalação, vídeo mapping e live cinema.

Através de uma dramaturgia fragmentada e cronologia não linear, três artistas em cena dão vida aos personagens Ele, Ela e o Outro (alter ego de Ele e Ela). O cenário é composto por um grande espelho d’água com móveis semi-submersos e luminárias de teto inspirados pela frase ‘A beleza da iminência do desastre’ e na instalação Maré Mobília, ambas de autoria de Nuno. Segundo Nando Motta, a imagem de um quarto afogado reforça a sensação latente de cansaço. Outra obra de Nuno que inspirou o cenário é Casa Inundada, instalação em que o artista afunda, na lama, a casa em que passou sua infância.

Sons produzidos pelas falas, corpos e ações dos atores foram utilizados para a composição da trilha sonora de 180 Dias de Inverno. “O resultado é uma trilha que dialoga diretamente com as cenas e com atores, dão mais vida e organicidade ao trabalho”, conta o diretor. As projeções que permeiam a encenação têm como objetivo proporcionar diferentes contornos e possibilidades de interpretação para as cenas. Para isso, são utilizadas imagens do interior de uma casa, gravadas em stopmotion, e desenhos animados. O desenho de luz emprega uma delicada dinâmica de luz e sombra para destacar a dualidade entre os momentos de extrema intimidade do quarto do casal e a aridez de uma sala de espera de hospital.