segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Esquerda radical vence na Grécia

O partido de esquerda radical Syriza venceu neste domingo (25) as eleições legislativas na Grécia, realizadas para formar um novo governo no país, tornando-se o primeiro partido antiausteridade a assumir o poder na zona do euro.

Com 99% dos votos apurados, o Syriza havia conquistado 149 das 300 cadeiras do Parlamento. O segundo colocado, o centro-direita Nova Democracia, do atual primeiro-ministro Antonis Samaras, obteve 76. O Syriza precisava de apenas mais duas cadeiras para governar sozinho -caso contrário, terá de negociar coalizão com legendas menores.

O partido, uma união feita em 2004 de várias tendências de esquerda, indicará como primeiro-ministro Alexis Tsipras, um jovem político de 40 anos que fez campanha criticando credores e prometendo resgatar a "dignidade" da Grécia.
No discurso em Atenas, após o resultado, ele mandou um recado para a Europa: a "troica", o programa de recuperação dos países em crise baseado em medidas de austeridade fiscal, ficou no "passado".
"A população grega fez história e deixou para trás cinco anos de humilhação e sofrimento. Vamos recuperar nossa soberania, com nossas propostas de negociação", disse o líder de esquerda.
A praça Klathmonos, uma das principais de Atenas, foi tomada por militantes do Syriza para celebrar a vitória.
O resultado é um marco na história do país: um partido de esquerda radical assume o poder pela primeira vez em quase 200 anos de existência do Estado moderno grego.
Se a esquerda comemora, por outro lado as principais lideranças europeias assistem com apreensão à vitória de um partido que defende o perdão de 50% da dívida pública, hoje em torno de € 320 bilhões (175% do PIB), e uma moratória temporária do restante.
O seu programa promete mais benefícios sociais para os gregos, como energia de graça para 300 mil deles, moradias populares e extinção de impostos.
"A eleição na Grécia vai aumentar a incerteza econômica em toda a Europa", declarou o primeiro-ministro britânico, David Cameron, após a divulgação do resultado.

ROTA DE COLISÃO
O Syriza entra em rota de colisão com as potências da União Europeia porque ameaça romper compromissos financeiros firmados pelo país dentro do bloco e impactar as contas públicas da já frágil economia grega.
O discurso de campanha foi em cima das medidas de austeridade fiscal negociadas e compromissadas pela Grécia para receber em troca, desde 2010, um socorro de € 245 bilhões do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do BCE (Banco Central Europeu).
Para o Syriza, o ajuste fiscal, marcado por aumento de impostos e cortes de gastos em salários e cargos públicos, não melhorou a vida da população e levou a Grécia a uma dívida pública impagável.
O que ocorreu nas urnas da Grécia deve não só representar uma nova era nas suas relações dentro da União Europeia como estimular movimentos parecidos em lugares como a Espanha, onde cresce a atuação do Podemos, partido criado em 2014 sob diretrizes antiausteridade.
O líder da sigla espanhola, Pablo Iglesias, celebrou a vitória do Syriza. "Os gregos não tem mais um delegado de [Angela] Merkel", disse, referindo-se à chanceler alemã.
A permanência na zona do euro certamente será tema de discussão daqui para frente, embora o partido venha negando a intenção de abandonar a moeda única.
O premiê Antonis Samaras disse, ao reconhecer o resultado, que seu governo foi positivo e avisou aos que chegam: deixa o posto com a Grécia integrante da União Europeia e da zona do euro.
A Grécia, de fato, deu sinais de que saiu da recessão, pela primeira vez em seis anos, no fim de 2014. Mas apresenta, por exemplo, a maior taxa de desemprego da Europa -em torno de 25%, sendo de 60% entre os jovens. Sua economia encolheu 25% desde 2008.

FESTA DA VITÓRIA
"Eu nunca imaginei que ganharíamos uma eleição. É a última chance de a Grécia se recuperar da crise", celebrou a estudante de ciências sociais Mina Kostopoulou, 22, na praça Klathmonos.
Ao todo, 9,8 milhões de pessoas estavam aptas para votar. A eleição foi convocada em dezembro depois que a coalizão de Samaras, no poder desde 2012, não conseguiu os votos necessários para eleger o novo presidente do país.
Embora seja um cargo simbólico, a não eleição do presidente significa, em tese, que o governo perdeu maioria, e a Constituição determina novas eleições legislativas. 

Folha SP