sexta-feira, 20 de junho de 2025

#VcNoBlog Daniela Mello

A intolerância que começa no olhar e termina em guerra

O mundo está em guerra. Não apenas por territórios ou por poder político, mas por uma razão mais antiga e mais sombria: a recusa do diferente. A intolerância — religiosa, étnica, sexual, política ou cultural — tem destruído lares, nações e futuros. E ela não começa nos grandes conflitos, mas nas pequenas atitudes diárias.

Como dizia a lenda de Narciso, o que não é espelho incomoda. E na sociedade atual, aquilo que foge do padrão dominante ainda é tratado como ameaça. Foi assim nas guerras mundiais, no holocausto, nas ditaduras que perseguiram minorias. E continua sendo assim nos dias de hoje.

Vemos exemplos cotidianos disso. No futebol, recentemente, o jogador Miguel Navarro, venezuelano, foi alvo de xenofobia por um colega que o chamou de “morto de fome”. Um caso que virou manchete, mas que reflete o preconceito silencioso que milhares de imigrantes enfrentam todos os dias, inclusive aqui em Pernambuco. Nas periferias, nos ônibus, nas escolas, nas repartições públicas, a exclusão está presente — velada ou escancarada.

E o que acontece no micro, explode no macro. A intolerância alimenta discursos de ódio, e os discursos viram armas. Hoje, com a tecnologia de guerra que temos, a humanidade pode se autodestruir em questão de minutos. A pergunta que se impõe é: vamos permitir isso?

O combate à intolerância não se faz apenas com leis — embora elas sejam fundamentais. Ele começa dentro de casa, no jeito como educamos nossos filhos, nas escolhas que fazemos nas redes sociais, na maneira como tratamos quem pensa ou vive diferente de nós.

O Brasil é um país plural. Tem raiz indígena, matriz africana, imigrantes de todo o mundo, religiões diversas e culturas riquíssimas. Essa diversidade é a nossa maior riqueza — e não pode ser vista como ameaça.

Respeitar não é um favor. É um ato de civilidade e de sobrevivência. Porque quando excluímos o outro, estamos abrindo caminho para excluir a nós mesmos.

Num mundo tão cheio de muros, é urgente construir pontes. Que a gente comece por aqui.

DANIELA MELLO – Advogada. Professora de Direito, Vice-presidente da Comissão de Cidadania da OAB-PE e Secretaria do Comitê de Representatividade da OAB-PE, Escritora, Fundadora do Instituto Xegamiga de combate à violência contra as mulheres e do Projeto Tão Tão Aventureiro, abrirá o evento apresentando a proposta do curso, sua abrangência e a aplicação prática no contexto das políticas de saúde e direitos humanos. Também falará sobre o impacto da especialização na formação de profissionais mais capacitados para lidar com as complexidades da violência de gênero, diversidade e saúde.