domingo, 29 de junho de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba

 


A Armadilha da Autenticidade Tóxica: A importância da Gentileza e do Respeito nas Relações Saudáveis, Além da Autenticidade

Por Mariângela Borba

 

Olá 👋 você leitor do #SendoProsperidade, tudo bem? Nesta semana trago para vocês um  tema complexo e multifacetado afinal,  você já deve ter ouvido falar na cultura do “seja você mesmo”, que tem diversas interpretações e aplicações que,  de certa forma,  não vem tornando um ideal fetichizado na sociedade contemporânea.  Já perceberam que,  ultimamente,  é tanta gente dizendo “eu sou assim mesmo”?

Cheguei a esse tema de hoje através de uma conversa que tive com um amigo que ligou para contar o estado da mãe que estava no hospital  e,  no meio da conversa,  resolvi perguntar como ele estava.  E essa simples pergunta virou o mote para ele responder que eu era uma das únicas pessoas que perguntava sobre a condição dele. Ora, simplesmente respondi que se eu estava falando com ele e sabia que ele tinha estado acometido por essa virose que vem solando aí,  eu deveria perguntar por ele, também e não deixar passar em branco. Citei até aquela máxima  atual: “gentileza gera gentileza “.

Às vezes,  esse até, pode parecer um comportamento estranho, atípico,  mas a verdade é que o mundo virou refém de gente sem empatia, sem filtro, sem noção e o pior: achando bonito. E sabe o por quê? A maioria foi ensinada a não se dobrar pra nada, a ser 100% autêntica,  mas esquece o primordial que diferencia: ser educada, gentil e, no mínimo,  suportável. 

Eu sei que é difícil, mas creio que a autenticidade seja um exercício diário nesse mundo cheio de armadilhas. Nossa sociedade é como um banco,  cheio de moedinhas: temos a modinha do sorriso,  do acolhimento,  do amor,  da paz, da tolerância,  da paciência,  da aceitação,  da submissão,  do comprometimento,  enfim,  moedas são tudo aquilo que eu posso dar de mim para o outro.  Cada uma dessas moedas tem um valor diferente para cada situação e cada pessoa: um sorriso pode custar caro em algumas situações,  mas também pode ser extremamente gratificante para outras. É como se ao interagirmos com alguém,  dermos algumas moedinhas. Logo, se damos demais e não recebemos em troca ficamos com o saldo muito baixo e com o passar do tempo, terminamos de sermos nós mesmos por faltar o nosso conteúdo original – o estresse, muitas vezes, vem daí. 

Hoje,  qualquer limite é visto como opressão; qualquer correção é um ataque; qualquer “não” é um trauma;  ninguém mais quer crescer, querem apenas ser aceitos do jeito que são, mesmo que estejam grosseiros, mimados e, emocionalmente,  mal resolvidos.  Lembra das moedinhas que citei no parágrafo anterior? É como o nosso “banco central emocional”, se não recebemos nada em troca,  nossas moedinhas vão perdendo o valor e vai gerando uma inflação emocional,  ou seja, precisaremos cada vez mais de moedas para alcançar nossas conquistas emocionais.  Mas isso acontece? Muitas vezes não e ficamos com um saldo de emoções negativas, ou seja,  sofremos um déficit econômico e isso nos prejudica muito. 

A verdade? Isso não é evolução.  É apenas o ego travestido de “autenticidade”. Mas por que travestido? Porque se recusa a mudar.  Não ouve e apenas grita.  A autenticidade é maravilhosa! Ser você próprio é extraordinário mas tudo em excesso incomoda e você não vai sempre conviver com você mesmo.

 Do contrário,  se ninguém aguentar conviver com você,  será apenas uma personalidade tóxica se escondendo atrás de frases prontas. A ênfase excessiva na autenticidade pode levar a comportamentos impulsivos e de falta de responsabilidade. Além disso,  a busca por ser “você mesmo” não se tornou um ideal fetichizado na sociedade contemporânea.

E para poder lidar com isso a gente tem que exigir retorno do investimento emocional “na “mesma moeda “.  Ser verdadeiro não é ser estúpido e ser autêntico não é ser sem limites.  Então,  não nos custa nada procurar e investir em quem saiba valorizar o nosso capital emocional e dizer não aos caloteiros afetivos. Como? Simples! Dizendo não àqueles que só nos procuram quando precisam,  às pessoas interesseiras, às que nos menosprezam por se acharem superiores. Relacionamentos não podem ser unilaterais. É bom sempre dizer não,  também,  aos excessos:  de gasto,  de compulsão alimentar,  de uso abusivo de álcool,  drogas,  comida,  sexo, jogos. O tempo é tão útil para ser desperdiçado com inutilidades. Você vai ver, é libertador dizer não!

“A autenticidade é uma forma neoliberal de produção.  Você se explora voluntariamente na crença de que está se realizando.  No culto da autenticidade, o regime neoliberal se apropria da própria pessoa e a transforma em um meio de produção altamente eficiente. A pessoa inteira é incorporada ao processo de produção”. (Byung-Chul Han, O Desaparecimento dos Rituais).

O caminho da individualização exige que a pessoa desenvolva o sentido de autoconsciência, a fim de que possa enxergar-se a si mesma, compreendendo de que forma se coloca no mundo, desenvolvendo formas únicas de agir,  de pensar, de sentir, opondo-se, ou não,  ao seu meio social.

Opor-se não é preciso ser feito com hostilidade, existem formas sutis que não trarão prejuízo a ninguém – muito pelo contrário.  Este caminho não tem fim e é justamente nesta caminhada que encontramos o bem-estar.

 

Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire, foi secretária executiva do MinC, secretária de Imprensa de Paulista (PE), membro do Conselho Municipal de Política Cultural,  atuou como representante da Pastoral de Comunicação da AOR, onde realizou o Curso de Doutrina Social da Igreja e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, o também  jornalista Edmundo Celso.