A Armadilha da Autenticidade Tóxica: A importância da
Gentileza e do Respeito nas Relações Saudáveis, Além da Autenticidade
Por Mariângela
Borba
Olá 👋 você leitor do #SendoProsperidade, tudo bem?
Nesta semana trago para vocês um tema
complexo e multifacetado afinal, você já
deve ter ouvido falar na cultura do “seja você mesmo”, que tem diversas
interpretações e aplicações que, de
certa forma, não vem tornando um ideal
fetichizado na sociedade contemporânea. Já
perceberam que, ultimamente, é tanta gente dizendo “eu sou assim mesmo”?
Cheguei a esse tema de hoje através de uma conversa que tive
com um amigo que ligou para contar o estado da mãe que estava no hospital e, no
meio da conversa, resolvi perguntar como
ele estava. E essa simples pergunta
virou o mote para ele responder que eu era uma das únicas pessoas que
perguntava sobre a condição dele. Ora, simplesmente respondi que se eu estava
falando com ele e sabia que ele tinha estado acometido por essa virose que vem
solando aí, eu deveria perguntar por
ele, também e não deixar passar em branco. Citei até aquela máxima atual: “gentileza gera gentileza “.
Às vezes, esse até, pode
parecer um comportamento estranho, atípico,
mas a verdade é que o mundo virou refém de gente sem empatia, sem filtro,
sem noção e o pior: achando bonito. E sabe o por quê? A maioria foi ensinada a
não se dobrar pra nada, a ser 100% autêntica,
mas esquece o primordial que diferencia: ser educada, gentil e, no
mínimo, suportável.
Eu sei que é difícil, mas creio que a autenticidade seja um
exercício diário nesse mundo cheio de armadilhas. Nossa sociedade é como um
banco, cheio de moedinhas: temos a
modinha do sorriso, do acolhimento, do amor,
da paz, da tolerância, da
paciência, da aceitação, da submissão,
do comprometimento, enfim, moedas são tudo aquilo que eu posso dar de
mim para o outro. Cada uma dessas moedas
tem um valor diferente para cada situação e cada pessoa: um sorriso pode custar
caro em algumas situações, mas também
pode ser extremamente gratificante para outras. É como se ao interagirmos com
alguém, dermos algumas moedinhas. Logo,
se damos demais e não recebemos em troca ficamos com o saldo muito baixo e com
o passar do tempo, terminamos de sermos nós mesmos por faltar o nosso conteúdo
original – o estresse, muitas vezes, vem daí.
Hoje, qualquer limite
é visto como opressão; qualquer correção é um ataque; qualquer “não” é um
trauma; ninguém mais quer crescer,
querem apenas ser aceitos do jeito que são, mesmo que estejam grosseiros, mimados
e, emocionalmente, mal resolvidos. Lembra das moedinhas que citei no parágrafo
anterior? É como o nosso “banco central emocional”, se não recebemos nada em
troca, nossas moedinhas vão perdendo o
valor e vai gerando uma inflação emocional,
ou seja, precisaremos cada vez mais de moedas para alcançar nossas conquistas
emocionais. Mas isso acontece? Muitas
vezes não e ficamos com um saldo de emoções negativas, ou seja, sofremos um déficit econômico e isso nos
prejudica muito.
A verdade? Isso não é evolução. É apenas o ego travestido de “autenticidade”.
Mas por que travestido? Porque se recusa a mudar. Não ouve e apenas grita. A autenticidade é maravilhosa! Ser você
próprio é extraordinário mas tudo em excesso incomoda e você não vai sempre
conviver com você mesmo.
Do contrário, se ninguém aguentar conviver com você, será apenas uma personalidade tóxica se
escondendo atrás de frases prontas. A ênfase excessiva na autenticidade pode
levar a comportamentos impulsivos e de falta de responsabilidade. Além
disso, a busca por ser “você mesmo” não
se tornou um ideal fetichizado na sociedade contemporânea.
E para poder lidar com isso a
gente tem que exigir retorno do investimento emocional “na “mesma moeda “. Ser verdadeiro não é ser estúpido e ser
autêntico não é ser sem limites. Então, não nos custa nada procurar e investir em quem
saiba valorizar o nosso capital emocional e dizer não aos caloteiros afetivos. Como?
Simples! Dizendo não àqueles que só nos procuram quando precisam, às pessoas interesseiras, às que nos
menosprezam por se acharem superiores. Relacionamentos não podem ser
unilaterais. É bom sempre dizer não,
também, aos excessos: de gasto,
de compulsão alimentar, de uso
abusivo de álcool, drogas, comida,
sexo, jogos. O tempo é tão útil para ser desperdiçado com inutilidades.
Você vai ver, é libertador dizer não!
“A autenticidade é uma forma
neoliberal de produção. Você se explora
voluntariamente na crença de que está se realizando. No culto da autenticidade, o regime
neoliberal se apropria da própria pessoa e a transforma em um meio de produção
altamente eficiente. A pessoa inteira é incorporada ao processo de produção”. (Byung-Chul
Han, O Desaparecimento dos Rituais).
O caminho da individualização exige
que a pessoa desenvolva o sentido de autoconsciência, a fim de que possa
enxergar-se a si mesma, compreendendo de que forma se coloca no mundo,
desenvolvendo formas únicas de agir, de
pensar, de sentir, opondo-se, ou não, ao
seu meio social.
Opor-se não é preciso ser feito
com hostilidade, existem formas sutis que não trarão prejuízo a ninguém – muito
pelo contrário. Este caminho não tem fim
e é justamente nesta caminhada que encontramos o bem-estar.
Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire, foi secretária executiva do MinC, secretária de Imprensa de Paulista (PE), membro do Conselho Municipal de Política Cultural, atuou como representante da Pastoral de Comunicação da AOR, onde realizou o Curso de Doutrina Social da Igreja e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, o também jornalista Edmundo Celso.