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sexta-feira, 30 de junho de 2023

Sem mudança na taxa de fecundidade, população pode começar a cair em 2035 no Brasil, explica pesquisador da Fundaj



Os dados do Censo 2022, divulgados na quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que o Nordeste foi a região que teve o menor crescimento populacional do País, de apenas 0,24%.

Doutor em Demografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o diretor de Pesquisas Sociais (Dipes) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Wilson Fusco, explica que esse fenômeno se deve, principalmente, à migração de pessoas para outras regiões do Brasil.

“A região Nordeste teve, mais uma vez, a menor taxa de crescimento do Brasil, entre 2010 e 2022, ficando abaixo, inclusive, da média do País, que foi 0,52%. A região vem perdendo população via migração”, afirmou Fusco.

Entre os três estados com a menor taxa de crescimento da população (com variação de 0,1% ou menos), dois são do Nordeste: Bahia e Alagoas. A Bahia segue sendo a quarta maior população do país, mas teve um crescimento tímido, de 0,85%. Já Alagoas teve o menor crescimento entre todos os estados brasileiros, uma taxa de 0,21%.

Ainda de acordo com o Censo, Pernambuco tem 9.058.155 habitantes, um crescimento de 3% em comparação com 2010, se mantendo como o sétimo Estado mais populoso do país e o segundo mais populoso do Nordeste. Enquanto isso, Sergipe chamou atenção com a maior taxa de crescimento populacional na região, com 6,85%.

*Brasil*

O Censo 2022 mostra que a população do Brasil atingiu 203.062.512 pessoas, com aumento de 12,3 milhões desde a última coleta, feita para o Censo 2010. A diferença, de 6,5%, significa que o crescimento médio da população nos últimos anos foi de 0,52%, o menor registrado no país desde 1872, quando foi realizado o primeiro censo do país.

O resultado surpreendeu especialistas por ser abaixo do projetado, em agosto de 2021, pelo próprio IBGE, que apontava para uma população em torno de 213 milhões no Brasil. Mas, segundo o pesquisador Wilson Fusco, a estimativa não foi superestimada.

“Na verdade, há uma estimativa conservadora baseada em um comportamento anterior. Ela mostra como seria a população se os componentes da dinâmica demográfica se mantivessem iguais. Esses componentes são migração, taxa de fecundidade e taxa de mortalidade. As taxas de fecundidade continuaram a cair, caíram bastante, temos um número médio significativamente menor de filhos a cada ano”, detalhou.

Além disso, o pesquisador destaca o impacto da pandemia de Covid na taxa de mortalidade. Passados três anos desde o primeiro caso registrado no país, o Brasil alcançou em março passado a triste marca de 700 mil mortes causadas pela doença.

“Houve mais mortes do que se previa para o período, seja por conta da covid ou de outras epidemias, que podem ter ocasionado uma taxa de mortalidade superior ao esperado”, completou Wilson Fusco, salientando que períodos de crise econômica vivenciados pelo país também impactaram em uma menor taxa de fecundidade. 

O diretor de Pesquisas Sociais da Fundaj reforça que se a taxa de fecundidade não se estabilizar nos próximos anos o país seguirá em tendência de queda no ritmo de crescimento. “Estimativas mais conservadoras apontam que esse decréscimo pode ocorrer em 2040, mas é possível que ocorra já em 2035, se não houver nenhuma mudança neste panorama”, afirmou.

Fusco reforçou que os dados do IBGE são de muita qualidade e contribuem para a construção de políticas públicas efetivas para a população, principalmente à parcela mais desassistida. “É um dado de qualidade muito alta. Em termos de número de pessoas é muito próximo da realidade, por mais que se tenha alguma variação já esperada”, disse.

“Com os dados, conhecemos o retrato da população e, com isso, os gestores públicos podem tomar decisões em várias áreas como onde construir hospitais, que recursos da saúde serão aplicados em quais lugares, onde se precisa de escola, onde precisa investir mais na qualidade em termo de educação, como está a distribuição de oportunidade de trabalho nas regiões, onde investir em transporte, já que temos, por exemplo, pessoas que residem em um município diferente do que trabalham e estudam. Então, essas e outras políticas podem se basear no censo demográfico. Pena que não saiu em 2021, pela falta de recurso, mas pelo menos agora saiu, e, em breve, teremos dados detalhados”, concluiu Wilson Fusco.