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Em cena na peça "A Baleia" - Foto: Produção da Peça "A Baleia |
O consagrado ator José de Abreu
chega ao Recife com a montagem brasileira da peça A Baleia, em cartaz
nos dias 31 de julho, 1, 2 e 3 de agosto de 2025, no Teatro Luiz Mendonça, no
Parque Dona Lindu. Inspirada na obra original do dramaturgo norte-americano
Samuel D. Hunter — que deu origem ao filme homônimo vencedor de dois Oscars — a
peça mergulha em temas profundos como reconexão familiar, dor emocional e a
complexidade das relações humanas.
Na história, José de Abreu
interpreta Charlie, um professor recluso que vive com obesidade severa e busca
se reconciliar com sua filha adolescente, enfrentando traumas do passado e
dilemas afetivos com sensibilidade. A direção é assinada por Luís Artur Nunes,
e o elenco reúne Luísa Thiré, Gabriela Freire, Eduardo Speroni e uma
participação especial de Alice Borges. Após a temporada em Recife, a turnê
segue para outras capitais, reafirmando o compromisso com o teatro que provoca
e emociona.
Em entrevista exclusiva para o
Blog Taís Paranhos, Zé de Abreu recordou a entrevista concedida em 2019 (até
hoje a mais lembrada por nossos leitores), da última vez que tinha vindo ao
Recife, em 2000, da novela Guerreiros do Sol (no ar no canal Globoplay Novelas)
e de como a ideia de encenar a peça “A Baleia” nasceu em Paris. A entrevista
foi por telefone e a troca de ideias foi ótima. “Os 10 segundos em que pensei
em não ser ator foi um dos piores da minha vida”, fala, em meio a muitas
risadas.
Vamos conferir a entrevista?
Você ficou 12 anos longe dos palcos. O que te fez voltar
justamente com A Baleia?
A ideia de encenar “A Baleia”
nasceu quando eu estava morando em Paris, isso tem uns 10 anos já. Um amigo
muito querido, que era vice-consul da França no Rio, havia assistido a peça em Nova
York e ficou muito sensibilizado e conversou muito comigo sobre a história e eu
fui procurar na internet e vi um pdf do texto, em inglês e fiquei muito tocado
com a história do Charlie. Ele é um cara adorável.
O que mais te desafiou na construção do personagem
Charlie, tanto física quanto emocionalmente?
A peça é bem mais detalhada e
explicativa do que o filme, até porque Hollywood faz uma história para ser
vista por todos e o teatro é feito para um público mais específico. Por
exemplo, no filme, há uma fala de que “o Charlie levou um rapazinho pra dormir
com ele na mesma cama em que vivia com a esposa” e o Charlie é digno, ele não
faria isso, na peça não citamos esse tipo de coisa. O turbilhão de sentimentos
que o Charlie vive é imenso e eu termino a noite completamente destruído.
Preciso descansar e ler pra ficar bem, durante o dia
Como foi o processo de caracterização para interpretar um
homem com obesidade severa?
Para fazer todo aquele
enchimento, foram três meses de estudo com pesquisadores da Unirio, e o
resultado, eu posso dizer que é um dos mais perfeitos do mundo. O figurinista
Carlinhos Nunes fez toda uma pesquisa e eu digo com satisfação que a produção
brasileira de teatro é feita por grandes profissionais, podendo ser comparada a
produções internacionais.
A peça trata de temas como solidão, culpa e
reconciliação. Qual desses temas mais te tocou pessoalmente?
Na realidade, o Charlie,
pode-se dizer que ele é meio suicida. Ele é um professor de Literatura, casado
e com uma filha pequena e se apaixona por um jovem aluno, filho de um bispo. Eles
passam a viver juntos e um dia ele é chamado pelo pai para ouvir um sermão na
igreja e volta pra casa “vazio” emocionalmente e acaba tendo uma forte
depressão, ficando até sem comer, até que adoece de pneumonia e morre. Com o
luto mal resolvido, Charlie passa a comer demasiadamente e engordar muito e ao
perceber que está morrendo, ele quer resgatar o amor da filha adolescente. Tudo
isso é uma literatura dramática contemporânea, diferente do que é clássico, com
início, meio e fim. É um mosaico de ideias, onde o publico é convidado a montar
esse quebra-cabeça que é a história de “A Baleia”.
Como tem sido a reação do público diante de uma montagem
tão intensa e sensível?
Acredite, o nome “A Baleia”
não tem nada a ver com gordofobia, vem exatamente da sensibilidade e da
inteligência que as baleias têm. E na peça, há uma ligação entre duas histórias
que envolvem baleias. Uma é a história bíblica de Jonas, que ao recusar pregar
a palavra de Deus, é engolido por uma baleia, mas pede perdão ao Senhor e é expelido.
A outra é o clássico Moby Dick, em que um pirata está triste por não conseguir
matar uma baleia. Apesar de ser um animal grande, como eu te disse, a baleia é
um animal sensível e inteligente. E o Charlie pode ser chamado de baleia, não
pelo seu tamanho, mas por ser inteligente, sensível e só enxergar a bondade das
pessoas. E por isso mesmo ele conquista a plateia, por ser um personagem
adorável!
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Ao lado da atriz Isadora Cruz - Imagem: Reprodução Arquivo Pessoal do Ator |
Saindo da seara do teatro e indo para a TV, você está com uma novela no ar, que é “Guerreiros do Sol”, onde interpreta o coronel Elói. Ele é um personagem complexo, que mistura poder, solidão e violência. Como você o enxerga?
Ele é um coronel típico de sua
época, mas não é tacanho. Ele é um viúvo que casa com uma jovem que tem
problemas com o pai e quer sair de casa o mais rápido possível. Na noite de
núpcias, ele toma um porre e a estupra, horrível! Mas com o tempo, ele vai
enxergando que Rosa é muito mais além de beleza e juventude. Ela é corajosa,
quer aprender a lidar com o gado, os cavalos e Elói a ensina e ele a vê costurando
roupinhas para os filhos de seu capanga, que são crianças muito pobres e ele
enxerga que Rosa é “Tão bonita por dentro quanto por fora”. E então passa a
admirá-la cada vez mais.
A novela se passa no sertão nordestino dos anos 1920 e
30. Como foi mergulhar nesse universo histórico e cultural?
A cultura do Nordeste é
incrível e é única e gravamos na região de Paulo Afonso, na Bahia e em
Piranhas, Alagoas. Confesso que sofri muito com o calor da região, mas gravar
essa novela, uma obra fechada, e contracenar com vários atores aí do Nordeste,
foi muito gratificante. Há muitos artistas maravilhosos, e grandes nomes como o
de Alinne Moraes, Alice Braga e a querida Isadora Cruz, que já estou no
terceiro trabalho junto com ela, foi minha nora duas vezes, em “Mar do Sertão”
e em “Volta por Cima” e agora é meu par romântico.
Estive aí numa reinauguração
do Teatro do Parque no ano 2000 pra encenar a peça “A Mulher Sem Pecado”, da
obra do Nelson Rodrigues. O Marco Maciel, que era vice-presidente do Brasil, na
época, fez questão de assistir, era muito fã do Nelson Rodrigues. O secretário
de cultura, que se não me engano era vice-prefeito daí, o Raul Henry, fiz uma
boa amizade com ele. Eu interpretava o protagonista, a Luciana Braga era a
minha mulher e a Vanda Lacerda era minha mãe. Ainda tinha dois jovens atores no
elenco, o Fernando Alves Pinto e o Rocco Pitanga. Lembro que ficamos 15 dias aí
no Recife enquanto terminavam as reformas, mas foi uma experiência maravilhosa!
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Em cena - Foto: Produção da Peça "A Baleia" |