segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

A Fundação Itaú e o Itaú Cultural lamentam a perda de Nego Bispo, fundamental pensador quilombola

 

Para a instituição, o filósofo, poeta, ativista político e escritor Antônio Bispo dos Santos deixa um rastro de conhecimento e saberes indispensáveis para o entendimento e cada vez maior entrosamento das comunidades negras rurais e quilombolas brasileiras.

“Perdemos um intelectual da cultura e da natureza. Seu conhecimento, repleto de beleza e profundidade, era uma fonte de libertação. Em uma era marcada por mudanças climáticas, em que a Terra clama por socorro, Nego Bispo iluminava caminhos com suas histórias, sua sabedoria profunda e o legado de sua cultura ancestral”, diz Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú.

Nego Bispo foi uma das 10 personalidades brasileiras a conquistar o Prêmio Milú Villela – Itaú Cultural 35 anos. Ao lado da professora, doutora, escritora, teatróloga Leda Maria Martins, ele recebeu a premiação na categoria Aprender.

O episódio 17 da segunda temporada da série Trajetórias, exibida na plataforma de streaming gratuita Itaú Cultural Play, é todo dedicado a ele. Chamado Nego Bispo: vida, memória e aprendizado quilombola, desde o Quilombo do Saco-Cortume, no semiárido do Piauí, ele próprio lembra sua trajetória em que aprender foi uma constância.

Em novembro de 2020, Bispo foi convidado da quinta edição do Mekukradjá, evento do Itaú Cultural que tratou da troca e da valorização dos saberes entre as culturas indígenas e as culturas quilombolas. Na ocasião, o pensador e escritor piauiense falou sobre a valorização do compartilhamento do saber e da memória ancestral nas comunidades quilombolas e sobre como esse costume se difere da mercantilização do saber, que é na sua opinião um dos grandes problemas da sociedade.

Cada vez mais reverenciado como pensador na academia, com citações em teses e convites para proferir palestras, dar aulas e contar histórias, Nego Bispo foi escolhido ainda criança, pela comunidade onde vivia, no sertão do Piauí, para frequentar a escola, recebendo ajuda financeira e afetiva para cumprir a tarefa. Depois de alguns anos, foi morar no Rio de Janeiro, mas retornou para o Piauí para se dedicar à questão fundiária.

Acompanhou a Constituição de 1988 e expandiu o conceito do reconhecimento de quilombos para as áreas de retomada; afinal, grande parte dos negros escravizados não tinha terra ou moradia havia gerações, e da mesma forma merecia a compensação. Nego Bispo foi também membro da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (Cecoq/PI).

Imprensa Itaú Cultural