terça-feira, 23 de maio de 2023

Engenho Massangana recebe visita técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)



Lugar onde o abolicionista Joaquim Nabuco viveu parte da infância, o Engenho Massangana é tombado como Parque Nacional da Abolição. Nesta sexta-feira (19), o equipamento cultural da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) localizado no Cabo de Santo Agostinho, foi visitado por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para avaliar seu tombamento federal. Os técnicos coletaram informações sobre o engenho e sobre as ações que o equipamento cultural se propõe a realizar ou já realiza junto com a comunidade.


O grupo de técnicos do Iphan, formado pela arquiteta Ana Paula Bittencourt; o arquiteto Clóvis Lins; a projetista Mariana Fonseca; e a historiadora Livia Moraes, buscou, com a visita, complementar informações já pontuadas previamente no processo. A arquiteta do Iphan, Ana Paula Bittencourt, detalhou que para o processo de tombamento é importante que o espaço tenha interação com a comunidade e trabalhe coletivamente. “O tombamento hoje em dia não é mais um processo apenas técnico, é preciso envolver a comunidade e ter esse desejo pela sustentabilidade e participação coletiva como base. Como isso já é um trabalho realizado pelo Engenho Massangana, esse processo acaba sendo mais fluído”, adiantou a arquiteta.


Para o coordenador de Museologia do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), Albino Oliveira, os diálogos para um possível tombamento federal pelo Iphan são entusiasmantes. “É a garantia da preservação efetiva deste espaço histórico. A conversa que estamos iniciando com o Iphan nesta manhã é de não só tombar os complexos arquitetônicos, a Casa Grande e a Capela de São Mateus, como foi previamente planejado, mas sim todo o perímetro do Engenho Massangana, pois vai garantir a conservação por inteiro deste equipamento cultural”, atesta o coordenador.
Participaram da visita técnica do Iphan ao Engenho Massangana o chefe de gabinete da presidência da Fundaj, José Amaro Barbosa; a antropóloga da Divisão de Estudos Museais do Muhne, Ciema Mello, o coordenador de Museologia do Muhne, Albino Oliveira, a coordenadora de Ações Educativas e de Ações Comunitárias do Muhne, Edna Silva, o arquiteto e analista de Ciência e Tecnologia da Fundaj, Ronaldo de Carvalho L´Amour, e os servidor da Fundaj, Edson Bezerra.

Exposições
Para além da visita e reconhecimento aos espaços da Casa Grande e a histórica Capela de São Mateus, os técnicos do Iphan conheceram os espaços expográficos do Engenho Massangana, onde um uso decolonial deste lugar tão complexo para a história nacional e das populações marginalizadas é proposto pela curadoria das mostras. Trazendo já no título a palavra de origem africana que originou o nome do Engenho e do rio que corre ao seu redor, a exposição “Masanganu: memórias negras” dialoga com documentos históricos relacionados à vida dos escravizados da propriedade e trabalhos visuais de grandes artistas pretos do país, como a referência no cinema negro brasileiro, Zózimo Bulbul; o quadrinista, Marcelo D’Salete; e Gê Viana, artista plástica maranhense.

Referenciando à expressão cunhada no século 19 como sátira à promulgação da Lei Feijó, que proibia o tráfico de escravos, mas nunca saiu do papel, a mostra “Jeff Alan: pra deixar de ser ‘pra inglês ver’” desvela a relação entre memória e reconhecimento da população negra, a partir da exibição de 12 obras, entre os rostos de Machado de Assis e Carolina de Jesus, pintadas pelo artista visual pernambucano Jeff Alan. “Acredito que o menino nunca saiu de dentro do homem. Joaquim Nabuco saiu daqui quando tinha oito anos, mas já saiu abolicionista e nunca deixou de ser Massangano. A ideia que temos é dedicar esse espaço a uma herança afro descendente no panorama geral da cultura brasileira. A nossa responsabilidade é criar ações conexas e convergentes, em um esforço diário de merecer este espaço histórico e convidar o Iphan a fazer parte desta dedicação que é contínua e conjunta”, reforça a antropóloga Ciema Mello.

Desde o início deste ano, o equipamento cultural recebeu a visita de 11 escolas públicas e 16 colégios da rede privada do estado de Pernambuco, além de demais grupos de visitantes e atendentes espontâneos ao Engenho, que totalizam mais de 1.689 pessoas. Desde a reabertura do espaço em agosto de 2022, e a partir desta nova proposta de expografia, mais de 6.409 pessoas foram conhecer a antiga casa de infância de Joaquim Nabuco e a história presente neste rico complexo arquitetônico.

O Engenho
Conjunto arquitetônico rural do século XIX, composto pela Casa-Grande e Capela de São Mateus em uma área de dez hectares, o Engenho Massangana está localizado no Cabo de Santo Agostinho, no Estado de Pernambuco. O nome do engenho, de origem africana, vem do rio Massangana que, na época do auge do açúcar, servia para o escoamento do que era produzido nele, e nos engenhos da região, até o porto do Recife. Acredita-se que Tristão de Mendonça tenha fundado o Engenho Massangana, por meio da doação de um pedaço de terra do município feita por Duarte Coelho, primeiro donatário da Capitania de Pernambuco.

Foi lá que o ilustre pernambucano Joaquim Nabuco viveu durante a infância e é por ele referenciado como o local onde construiu a base de seus ideais abolicionistas. Tais relatos estão presentes em seu livro Minha Formação (1910). Além da visitação espontânea, o equipamento recebe sistematicamente o público estudantil. Através de um programa educativo, temas como o legado do pensamento de Joaquim Nabuco, as lutas libertárias e a cultura afro-brasileira são abordados, buscando contribuir para a produção de novos conhecimentos, fortalecimento da consciência patrimonial e da identidade cultural.