segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

#VcNoBlog Projeto Xegamiga

 

A advogada Daniela Mello (foto) está à frente de um projeto de empoderamento feminino, o Xegamiga, que é feito por mulheres, de mulheres para mulheres. A partir de agora, Daniela escreve uma coluna aqui no blog para mostrar às nossas leitoras que nós merecemos coisas boas, como liberdade, amor, trabalho, crescimento e tudo o mais. E sim, nossos leitores também estão convidados a conhecer todo esse universo e florescer junto com a gente. Afinal de contas, não há um ser do gênero masculino que não conviva com alguma mulher: mãe, esposa, filha, neta...

Boa leitura!

E você, Daniela! Seja bem vinda ao blog!

Esse projeto fala de muitas Anas, Marias, Joanas e de tantas outras mulheres que como eu e você apavoradas pela cobrança social intensa pode ter em algum momento se desviado do caminho da felicidade, se submetendo à relações perversas e disfuncionais que as fizeram protelar seus sonhos.

Então, nossa querida Jornalista Tais Paranhos, abre espaço para a coluna Xegamiga dedicada a dor feminina, para que possamos pensar questões profundas necessárias à ressignificação de uma história marcada por violência e sangue.

Conteremos histórias de dor e faremos uma análise profunda do que nos coloca histórica, social ou psicologicamente nessa condição.

Vamos juntas romper as barreiras para poder “voar mais alto.”

Vamos falar de medo

A palavra medo provém do termo latim metus e, nada mais é que uma perturbação angustiosa a um risco ou uma ameaça real ou imaginária. O conceito também se refere ao receio ou à apreensão que alguém tem de que venha a acontecer algo contrário àquilo que pretende. Ele é uma das emoções primárias que resultam da aversão natural à ameaça, presente ou futura, que podem colocar o indivíduo em situação de perigo iminente.

Esse sentimento é protagonista de estórias de cárcere existencial com origem em estruturas mentais distorcidas que apartam os seres humanos de vivenciar a liberdade em sua plenitude.

Conceitualmente perpassa por várias vertentes, biológica, sociológica e psicológica.

Além da morte, o medo é uma das poucas coisas certas para o homem, pois não existe ser vivente que jamais tenha experimentado o temor, em algum momento de sua vida, pavor ou até mesmo fobia, sendo essa última sua forma de expressão mais aguda.

Sob o viés psicológico, o medo é um estado necessário para o ser humano possa se adaptar ao meio, criando mecanismos de confronto à eventos adversos, que não são raros em nossa caminhada existencial.

O medo psíquico que se estabelece em função de eventos que geralmente associados a nossa infância que não conseguimos sublimar adequadamente. Tememos o erro por medo de não sermos aceitos, de não sermos amados. Ele nos fragiliza, aprisiona, na medida em que nos induz a um estado de letargia, a inércia.

Tememos o erro, por isso, não nos arriscamos. E, na busca do lugar seguro, nos exilamos de nós mesmos, na medida em que escondemos nossas vontades, não realizamos nossos sonhos. Seguimos, assim, nos esgueirando da vida, nos escondendo de nós mesmos, nos apartando de nossa essência.

No caso das mulheres a necessidade de aceitação passa por uma questão de pertencimento, já que desde Adão fomos cunhadas para servir e criadas não do todo – imagem e semelhança de Deus, mas de uma parte, a costela. Desde Adão fomos relegadas a uma condição de acessoriedade e exatamente por isso nos cobramos e culpamos tanto.  Por isso, precisamos andar juntas para a desconstrução do machismo estrutural, consolidado desde as raízes mais primitivas de nossa civilização, normalizado e difundido como senso comum do “dever ser”, que nos afasta da igualdade de direitos e deveres entre os gêneros.

Diante do medo, há duas reações possíveis: o confronto ou a fuga. Para cada um de nós é oportunizada a escolha do caminho a seguir. Então, que ela se incline em direção da felicidade que somente é possível quando conseguimos romper a barreira do medo e nos entregar aos nossos desejos mais secretos.

Onde houver medo de caminhar, que sejam erguidas pontes que possam dar passagem a nossa liberdade, desejo e sonhos, pra que sejamos criaturas felizes e mais nada.

Daniela Mello
Presidente do Instituto Xegamiga de combate a violência contra as mulheres