segunda-feira, 9 de junho de 2014

Otto atrai multidão para o movimento Ocupe Estelita, no Recife

segundo domingo (8) de ocupação do Cais José Estelita, área central da cidade, contou com uma forte presença de artistas pernambucanos, que abraçaram a causa do movimento, contrário ao projeto Novo Recife. Um dos pontos altos da programação cultural, um dos braços do protesto, foi o show de Otto, promovido pelo Som na Rural. "Depois do movimento Mangue, essa é a primeira vez, em 15 anos, que todos nós, cantores e músicos, nos reunimos por uma causa do Recife, essa cidade que a gente tem que proteger sempre e que está sufocada por especulações imobiliárias, principalmente essa área do Centro, tão sensível e delicada", disse.

Baterista da Nação Zumbi e produtor, Pupilo tocou com Otto. "É histórico isso que está acontecendo: a cidade se mostrando insatisfeita. Essa inquietação, de forma pacífica, de alguma forma vai fazer do Recife umacidade melhor para a gente. A gente dá a cara para bater não só no palco, mas também num evento como esse", comentou. O fotógrafo Xirumba, DJ Dolores, os cineastas Lírio Ferreira e Chico Assis também passaram pelo Ocupe.

A área do cais foi ocupada em 21 de maio por manifestantes contrários ao projeto Novo Recife, plano imobiliário de um grupo de construtoras que prevê a construção de torres residenciais e comerciais num terreno de 10 hectares, no Centro Histórico do Recife. Eles pedem a nulidade do processo administrativo que aprovou o projeto, que hoje é objeto de ações judiciais questionando sua legalidade.


Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) concedeu a reintegração de posse da área, atendendo a um pedido feito por advogados do Consórcio Novo Recife. O DU e o Ministério Público recorreram da decisão, que ainda não foi analisada pela Justiça estadual. Na última terça (3), a Prefeitura do Recife anunciou a suspensão da licença que permitia a demolição de galpões do cais.

Na quinta (5), o engenheiro Eduardo Moura, representante da Moura Dubeux Engenharia, afirmou que o Consórcio Novo Recife concorda em produzir um novo projeto para o terreno. Na sexta (6), após reunião com entidades jurídicas e de urbanismo, ministérios públicos Estadual (MPPE) e Federal (MPF), o Executivo municipal informou que, a partir desta segunda-feira (9), um novo processo de licenciamento para a área do Cais José Estelita será realizado.
acampamento que está montado há quase duas semanas ganhou mais barracas. Os primeiros ocupantes chegaram na noite do dia 21 de maio, quando o Consórcio Novo Recife colocou máquinas no terreno para derrubar antigos galpões. A ação foi flagrada por um integrante do grupo Direitos Urbanos (DU), que mobilizou pessoas nas redes sociais. "A gente não tinha nenhuma perspectiva de ficar, achava que duraria um dia até a reintegração. Durante esse tempo, nós aprendemos não só mais sobre a nossa luta, mas a conviver juntos", apontou a estudante Ingá Patriota.
O publicitário Sérgio Urt, integrante do DU, alertou para ameaças que os acampados têm recebido. "Na madrugada de hoje [domingo, 8], chegaram cinco pessoas encapuzadas, soltaram duas bombas e jogaram paralelepípedos nos ocupantes. Ninguém se feriu. A polícia não estava fixa aqui, mas pedimos apoio à Secretaria e Promotoria de Direitos Humanos e conseguimos que duas viaturas façam rondas. Estamos resistindo a uma liminar de posse e não vamos desistir", disse.
Entenda a polêmica
Em 2013, a Prefeitura do Recife aprovou novas medidas referentes ao polêmico projeto imobiliário, exigindo novas ações mitigadoras - tomadas para compensar os possíveis danos causados pela construção. O valor da compensação subiu de R$ 32 milhões para R$ 62,7 milhões, com a inclusão de biblioteca, túnel e um parque linear, entre outros itens. Um termo de compromisso entre a gestão municipal e consórcio de construtoras responsável pelo Projeto Novo Recife foi assinado na ocasião.
Mas desde que foi criado, em 2012, o projeto é alvo de polêmicas. Cinco ações questionam o Novo Recife: uma civil pública do Ministério Público estadual, uma do Ministério Público federal e trêsações populares. As ações populares pedem a nulidade do ato administrativo do Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU) que aprovou a proposta imobiliária no fim de 2012.
Portal G1