quinta-feira, 21 de junho de 2018

Ibura: comunidade denuncia miséria e violência

A comunidade estará se reunindo amanhã (22) na Praça das Igrejas, às 18h e na pauta, o combate à violência no bairro e que providências a comunidade deve tomar para combater a fome dos necessitados. A Ong IMC - Ibura Mais Cultura está promovendo a reunião, e avisa que qualquer pessoa que possa ajudar, presencial ou financeiramente está convidada a participar.

Um dos bairros mais populosos do Recife, o Ibura, na zona sul da cidade, está vivendo dias aterrorizantes. A violência, infelizmente comum, vem tomando contornos insuportáveis para a comunidade. Moradores denunciam a violência policial, com invasão de residências no meio da noite e sem autorização judicial. "Não aguentamos mais ver nossos irmãos sendo executados na mão da polícia. Antes de qualquer medo, nosso povo ainda tem fome, são pessoas humildes que estão deixando suas casas e até mesmo dormindo na rua, sem ter o que comer", afirma o militante e estudante de Direito, Pedro Aureliano.

A Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas lançou uma nota oficial denunciando a violência no Ibura:

A Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas escreve essa nota para manifestar a indignação e preocupação com a situação de guerra instalada no bairro do Ibura. O Ibura é um dos bairros localizado no território sagrado dos morros recifenses, tem cerca de 50mil pessoas e assim como em vários morros da cidade o Ibura é fruto das ocupações intensificada na década de 60, abrigando famílias pobres removidas de áreas centrais da cidade vítimas da higienização social, que assim como todo povo pobre, que viveu essa gentrificação mas ressignificou o bairro com luta, amor e resistência.

Hoje o Ibura abriga vários coletivos de luta social, coletivos de cultura, de poesia, organizações comunitárias, mais de 40 associações de bairro, e várias ativistas dos direitos humanos, artistas, produtoras, líderes comunitárias, gente que faz do bairro um lugar que não deixa os sonhos morrerem. Nos últimos dias o Ibura tem vivenciado a face mais perversa do projeto genocida do Estado, o bairro que assim como toda favela urbana é alvo da violência institucional executada pela força armada da polícia, vem enfrentando um clima de guerra, desde domingo (10.06.18) foram diversos os confrontos armados e ações violentas no território, que resultaram em mortes, pessoas feridas por armas de fogo e agressões físicas. As ações efetuadas por agentes de segurança pública e grupos armados vem acontecendo durante a semana em diferentes horários de circulação intensa de moradores, afetando de forma grave principalmente os trabalhadores e trabalhadoras que moram na comunidade, e colocando na mira do cano o grupo social do projeto de genocídio do Estado: A juventude negra!

Quatro jovens mortos, vários carros da polícia circulando o bairro dia e noite ameaçando moradores, invadindo e revirando casas sem ordem judicial, coagindo até mesmo quem está dentro de casa, espaço que é violado diariamente pelo contexto de guerra nas favelas. Em Pernambuco até esse mês morreram mais 360 pessoas, a banalização da violência, é um fenômeno crescente entre a população que não se comove com o corpo de jovens negros ensanguentados, mas se revolta a qualquer ameaça a propriedade privada. O genocídio do povo negro é projeto racista da burguesia que desde a escravidão deseja controlar nosso povo com violência.

A proibição das drogas é o motivo usado pelo Estado para autorizar a polícia a violar direitos, matar pessoas e prender inocentes diariamente nas periferias de todo Brasil, todos os dias têm violação de direito nas periferias, morros e favelas das cidades. Além de lidar com a ausência de comoção dos governantes da mídia local e da população a favela se depara com o silêncio revoltante das organizações, movimentos sociais, parlamentares e pessoas que diariamente se colocam como defensores dos direitos humanos, mas que não tem se incomodado com os apelos feitos por moradores do bairro Ibura durante toda essa semana.

Convocamos a todos os movimentos sociais e organizações que são parceiros nessa luta, e que reconhecemos com grande poder de articulação e mobilização, para fazer a defesa da VIDA do povo que mora no Ibura e todas as comunidades pobres, que vem sendo violadas. É urgente causar a comoção da população pelas vidas das crianças, mulheres, jovens negros e moradores desses bairros.

Exigimos que essa guerra acabe, que as autoridades legislativas, executivas e judiciárias se manifestem e assumam sua responsabilidade pela retirada do braço armado nos territórios, e a garantia do fim desse confronto violento. Exigimos a igualdade de condições para combater essa lógica racista e repressora, não admitimos um mundo onde as armas que chegam nas mãos das crianças nas favelas tenham mais tempo e trajetória de vida que elas. CONTRA O GENOCÍDIO, NENHUM PASSO ATRÁS!

Esse texto foi escrito com o depoimento e diálogo com pessoas que moram nas comunidades do Ibura”


Genocídio Negro - De acordo com dados da Anistia Internacional, a juventude negra é a maior vítima de homicídios em nosso país. Segundo a Anistia Internacional, dos 56 mil homicídios que ocorrem por ano no Brasil, mais da metade são entre os jovens. E dos que morrem, 77% são negros. 

Já segundo o Atlas da Violência 2018, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sobre dados do Ministério da Saúde, de 2006 a 2016, 324.967 jovens entre 15 e 29 anos morreram de forma violenta. A taxa de homicídios nesse grupo (65,5 por 100 mil habitantes) é mais que o dobro da média nacional e seis vezes a média global. Considerando apenas jovens homens, ela sobe para 122,6/100 mil.

Nesse período de tempo, o número de homicídios de negros aumentou 23,1% e, do restante da população, caiu 6,8%. Em 2016, a taxa de homicídios de negros foi de 40,2 mortes para cada 100 mil habitantes, enquanto os demais grupos registraram 16 mortes para cada 100 mil.



Ibura - O bairro do Ibura, segundo o IBGE, tem 50 617 habitantes, apresentando uma densidade demográfica de 76,7 hab./ha. Este bairro apresenta também, o menor Índice de Desenvolvimento Humano da cidade do Recife, sendo que em 2010 o seu IDH era de apenas 0,732. Ainda de acordo com o IBGE, 45% da população é adepta de igrejas evangélicas, 42% de católicos, e demais denominações religiosas têm 4%. Os que não têm religião somam 8% .

O bairro se originou através do Engenho Ibura, no século XIX. O nome, originário da língua tupi, significa "água que arrebenta", possivelmente em decorrência de fontes de água existentes na localidade. Uma dessas fontes, denominada "Bica dos Milagres", existente na Vila dos Milagres, na margem da BR-101, é muito procurada pelos moradores e viajantes para abastecimento de água potável. Na década de 1940 foi construído um campo de pouso de aeronaves, denominado Campo do Ibura, que originou o atual Aeroporto Internacional dos Guararapes.


Serviço:

Reunião Comunitária no Ibura

Data: 22 de junho de 2018
Local: Praça das Igrejas
Pauta: O combate emergencial à fome na comunidade e
           providências para combater a violência no bairro
Horário: 18h


Da Redação, com informações do Marco Zero Conteúdo, Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas e Wikipedia