Se a Escócia decidir se separar do Reino Unido nesta quinta-feira, o mundo não assistirá simplesmente ao nascimento de mais um país. A nação que daí resultaria seria rica não apenas do ponto de vista econômico, mas também intelectual.
No verde cemitério da igreja de Canongate, no centro da capital escocesa Edimburgo, os restos mortais de um dos maiores filósofos da história – Adam Smith, considerado o pai da economia de mercado – ilustram essa riqueza.
Os escoceses se orgulham de seu passado repleto de invenções, inovações e contribuições para as ciências e o conhecimento humano.
Entre elas está o chamado Iluminismo escocês, na forma de importantes pensadores contemporâneos de Adam Smith, como o filósofo David Hume. Muitas das ideias que conformaram o pensamento da época continuam influenciando os acadêmicos de hoje.
Mais recentemente, o trabalho de pesquisadores escoceses foi reconhecido através de prêmios Nobel na área das ciências e da paz. A pesquisa genética pioneira que resultou na ovelha Dolly foi realizada na Universidade de Edimburgo.
Estes são apenas alguns exemplos de contribuições que muitos escoceses veem como reforço ao seu sentimento de nacionalismo.
Mas para os que defendem a permanência da Escócia no Reino Unido, uma parte dessas conquistas deve ser vista como fruto de uma união com a Inglaterra que há mais de 300 anos tem beneficiado ambas as nações.
Veja algumas contribuições:
Iluminismo - Parte das ideias do chamado Iluminismo, no século 18, emanou da Escócia. Entre elas se destacam os trabalhos de Adam Smith, que resultaram em A Riqueza das Nações - livro até hoje usado como referência no estudo do pensamento econômico, do filósofo David Hume e de James Watt – este último no desenvolvimento da máquina a vapor, que estaria no centro da revolução industrial alguns anos mais tarde.
As contribuições escocesas no campo da filosofia e da política extrapolaram as datas que marcaram o fim do Iluminismo.
Muitas delas cruzaram o Atlântico e chegaram às colônias britânicas nas Américas através da diáspora escocesa – influenciando, inclusive, os pensadores considerados os fundadores dos Estados Unidos.
Medicina - Nascido na Escócia, o biólogo e farmacologista Alexander Fleming fazia pesquisas sobre a gripe em 1928 quando descobriu a penicilina.
O antibiótico, que até hoje é usado para tratar infecções de bactéria, começou a ser produzido industrialmente nos anos 1940 e renderam a Fleming o prêmio Nobel da Medicina em 1945 – dividido com dois outros britânicos, o australiano Howard Florey e britânico-alemão Ernst Chain.
Fleming não é o único escocês a dar uma grande contribuição à ciência mundial na área das ciências médicas e biológicas.
Hoje a ciência reconhece um importante papel do escocês John Macleod na descoberta e extração da insulina, usada para tratar diabetes, durante um período de estudos na Universidade de Toronto. Junto com Frederick Banting, ele recebeu o prêmio Nobel de Medicina em 1923.
A Escócia também contabiliza um prêmio Nobel da Paz pelo trabalho do biólogo John Boyd Orr, cujas pesquisas no campo da nutrição lhe renderam o posto de primeiro diretor-geral da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO).
Clonagem - As pesquisas pioneiras que resultaram na ovelha Dolly, o primeiro mamífero a ser clonado em laboratório a partir de uma célula adulta, foram realizadas em 1996 pela equipe do instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo, sob liderança dos pesquisadores ingleses Ian Wilmot e Keith Campbell.
A célula usada para a clonagem foi tirada de uma glândula mamária. A pesquisa levou ao estudo da técnica como possível forma de proteção a espécies ameaçadas.
Dolly foi sacrificada aos cinco meses de vida devido a uma infecção nos pulmões mais comum em animais mais velhos.
Sherlock Holmes - Na ficção, o célebre detetive Sherlock Holmes tinha seu escritório e residência nos arredores de Baker Street, no West End londrino. Na realidade, o criador do personagem, o escritor Arthur Conan Doyle, nasceu no centro de Edimburgo.
Depois de uma desastrada tentativa de seguir carreira médica, Doyle descobriu-se como contista e poeta, imaginando um dos personagens mais icônicos no gênero das histórias de detetives.
Inspirou, entre outros, a dama dos romances do tipo, a inglesa Agatha Christie, a mente por trás do brilhante detetive ficcional Hercule Poirot.
A literatura escocesa inclui obras em inglês, gaélico escocês e e outras línguas.
Televisão - O aparelho que revolucionou o entretenimento, as notícias e os lares ao longo do século passado foi desenvolvido nos anos 1920 pelo engenheiro escocês John Logie Baird. Em 1932, ele fez a primeira transmissão televisiva, comunicando as cidades de Glasgow e Londres.
BBC Brasil