domingo, 24 de janeiro de 2021

Emannuel Bento: Cada thread é uma aula de história

 

Aos 23 anos, o jornalista Emannuel Bento é considerado um dos profissionais mais influentes no Twitter do Brasil. A razão é porque Bento constrói as melhores threads (fios de assuntos) na rede social do passarinho azul. Boate Misty, Jackson do Pandeiro, a visitada Rainha Elizabeth ao Recife, nada passa despercebido ao jornalista recifense, formado na UFPE e que trabalha no Diário de Pernambuco. Suas maiores inspirações profissionais são jornalistas de respeito, local e nacionalmente: Thiago Soares, Vandeck Santiago, Fabiana Moraes e GG Albuquerque.

 1) Por que você escolheu o Twitter para contar as histórias que você pesquisa?

O Twitter é uma rede que dá certo protagonismo para a informação, por isso é muito usada por jornalistas. Eu tenho a minha atual conta no Twitter desde 2013, mas comecei a investir mais nela apenas no começo de 2020. Foi quando eu percebi que as postagens em fios geralmente tinham mais repercussão do que os links de matérias que assino. Eu sinto que os usuários dessa rede tendem a clicar menos em links, pois esse ato pressupõe certo esforço de leitura. Muitos usuários preferem continuar navegando na mesma plataforma. Assim, percebi que os fios, quando bem feitos, conseguem segurar a atenção das pessoas. Isso acaba dando esse maior retorno, espalhando mais as histórias que quero contar.

2) Como nasceu sua preferência pelas curiosidades históricas do Recife?

Eu sempre amei a disciplina de história. Ainda no ensino fundamental, eu pensei em cursar história no ensino superior, mas isso acabou não andando. Eu acabei descobrindo mais histórias sobre o Recife ao ingressar no Diario de Pernambuco, inicialmente como estagiário e depois como repórter. No começo de 2019, conheci a Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, que é onde tenho acesso ao acervo do Diario de Pernambuco. Essa plataforma talvez ainda seja subutilizada, mas é como um tesouro de informações. Eu me apaixonei pelo acervo do Diario, que é bastante extenso (como todos sabem). Passei a pensar em algumas reportagens de memória, sempre resgatando esses achados do acervo. Só depois disso comecei a levar esse conteúdo para o Twitter.

3) Na sua opinião, qual a história mais curiosa? E a mais engraçada? E a que mais te emocionou?

Vou escolher entre as histórias dos fios. Para mim, a mais curiosa é a da eleição do Governo de Pernambuco, em 1911. A elite política do estado apoiava o conselheiro Rosa e Silva, enquanto os militares queriam o general Dantas Barreto. Rosa e Silva fraudou a eleição e ocasionou uma espécie de guerra civil no Recife. É uma história digna de filme, mas poucos conhecem. A mais engraçada talvez seja a da visita da Rainha Elizabeth no Recife. Ela presenciou um apagão na cidade e recusou as comidas que ofereceram no banquete. Na solenidade, jornalistas brigavam por comida e Dom Helder Câmara quebrou o protocolo real ao sair antes do fim do evento para lanchar na Praça do Diario. A que mais me emociona é o episódio de racismo que fez Jackson do Pandeiro deixar Pernambuco. Ele e a esposa foram agredidos em uma festa da elite recifense, na casa do ex-presidente do Náutico, e não tiveram qualquer apoio das instituições pernambucanas.

4) Você não pensa em escrever um livro com as suas threads?

Eu penso em escrever um livro, mas não necessariamente uma coletânea das histórias que conto nos fios. Isso porque são histórias bastante distintas. Eu já falei da origem de alguns bairros do Recife, da presença do brega-funk nas eleições de 2020 e do show do Black Eyed Peas na cidade, em 2010. É tudo muito variado. No entanto, penso em um livro sobre alguma história específica, que realmente renda para um livro.

5) Fale sobre a sua trajetória jornalística

Eu estou no Diario de Pernambuco desde 2017, quando ingressei como estagiário do caderno Viver, que cobre cultura e entretenimento. Antes do Diario, tive experiências como estagiário como redator da revista Coletiva, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), e da Diretoria de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFPE.