sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sargaço - Capítulo 07 - Um domingo inesquecível



Era manhã de domingo e Maricielo estava a caminho da maternidade. Enquanto isso, Rádio exibia a entrevista de Sargaço na íntegra e a emissora liderava a audiência de ponta a ponta da cidade.

De folga, Sargaço nem queria saber de ouvir rádio. Estava na praia com Stella e Carolina. Duna estava de plantão e não pôde ir com eles. Carol não queria segurar vela enquanto o casal estava aos beijos e disse:

- Enquanto vocês se curtem aí, vou me refrescar.
- Tá, amiga! Vá lá.

Sargaço tem um pressentimento: a maré deveria baixar, mas não estava e ventava cada vez mais forte, o que fortalecia as ondas, dificultando o movimento dos banhistas.

- Stella, melhor Carol voltar, o mar hoje não tá bom pra tomar banho...
- Impressão sua, amor...

Mas não era. De repente, uma imagem no fundo do mar agitava os braços, não conseguia submergir.

Era Carolina.

Sargaço não pensou duas vezes e correu até o fundo tentar resgatar a amiga. Mas os dois desapareceram em meio às ondas fortes.

Enquanto isso, no hospital, Mari entrava em trabalho de parto e sofria muito. A criança estava com a cabeça virada para cima. Os médicos não tiveram dúvida: uma cesariana de urgência para a parturiente. Enfim, Taurus nasceu. Lindo, forte e saudável. Mas a mãe perdera muito sangue e a pressão baixou muito. Uma forte hemorragia estava sendo combatida.

De volta à praia, os salva-vidas, com muita dificuldade resgataram Sargaço e Carolina e logo, o espaço se encheu de curiosos. Com a coragem do desespero, Duna tentou fazer respiração boca-a-boca no irmão, enquanto outro colega fazia o mesmo com Carolina. Felizmente, ela voltou a si e foi levada à ambulância.

Duna fazia massagem cardíaca, voltava para a respiração boca-a-boca, mas nada adiantava. Resolveu levar Sargaço na mesma ambulância enquanto tentava a ressucitação.

A chegada ao hospital foi traumática. Os colegas não acreditavam que o enfermeiro mais dedicado daquela casa de saúde estava entre a vida e a morte. Carolina, por sua vez, foi medicada e estava em observação. Alguns minutos depois, Stella chegava com o pai de Carolina. Sim, ele era o comandante da Corporação, o mesmo que anos antes dispensara o jovem. Stella chorava muito e tentava ver no Centro de Terapia intensiva a situação do amado.

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O corredor do hospital estava muito iluminado e Maricielo estava encharcada de sangue, tentando se arrastar pelas paredes. Nisso, alguém a pega pelos braços.

Esse alguém era Sargaço.

- Até aqui você vem me salvar? Eu sei que você trabalha aqui. Meu filho nasceu, mas eu não vou conseguir sobreviver, quem vai cuidar dele?
- Eu é que não vou ser. Olha para aquela janela...

Era a sala do CTI com os médicos e enfermeiros desligando os aparelhos e cobrindo o corpo de Antônio Carlos Sampaio Dunarte.

- Misericórdia, nós morremos!
- Você não, Maria do Céu, ainda não chegou sua hora. Volte e vá criar seu menino...
- Vá na santa paz, meu filho. Te amo muito e vou orar por você...
- Obrigado, minha repórter, também te amo. Cuida da minha mulher, que ela também tá esperando neném.

Às lágrimas, Maricielo viu Sargaço se afastando e a imensa luz o acompanhou.

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Na sala de parto, o médico viu Maricielo voltar a si:

- Graças a Deus! Pelo menos essa vida a gente não perdeu hoje...

Horas depois, Mari acorda cheia de dores, arrodeada pelos amigos da emissora, enquanto Antúlio segura sua mão.

- Antúlio...
- Não fala nada, meu anjo, você foi uma guerreira hoje, lutando contra a morte.
- O Sargaço... Sonhei com ele, ele estava morrendo aqui no hospital...
- Shhhhhh! Você precisa descansar. O nosso Taurus é lindo, muito lindo...

Maricielo, vencida pelo cansaço e pela anestesia, voltou a dormir. A enfermeira que cuidava dela pediu que todos saíssem do quarto.

Na sala de espera:

- Justo hoje que a gente tava contando a história do Sargaço, veio a notícia da morte dele... – lamentou Rádio.
- Salvou tantas vidas, mas não conseguiu salvar a própria. – Completou Ricardo.
- A namorada dele tá de dar pena, coitada, tá cansada de tanto chorar...

A conversa dele é interrompida pela chegada do comandante:

- Com licença, vocês são da imprensa?
- Sim, somos. – Disse Rádio.
- É que eu gostaria de dar uma declaração pública em meio à comoção pela morte do jovem Sargaço.

Microfones ligados, o comandante começou a falar:

- É com muito pesar que anuncio o falecimento do enfermeiro Antônio Carlos Sampaio Dunarte, popularmente conhecido como Sargaço. E me emociono porque ele sacrificou-se pela minha filha, Ana Carolina. O que me deixa ainda mais triste é que fui responsável pela rejeição de seu nome nos quadros de nossa briosa Corporação obedecendo a um estúpido código de conduta! Mesmo assim, ele nunca se furtou em salvar vidas, como enfermeiro, como palestrante nas escolas e, acima de tudo, como voluntário. Nada do que eu fizer o trará de volta, mesmo assim, por todos os serviços prestados, irei promovê-lo post mortem ao posto máximo da corporação e determino que seu funeral seja com honras militares. Muito obrigado.



Três dias depois, todo o povo da cidade foi ao QG da Corporação para o velório. Crianças levavam cartazes desenhados, senhoras rezavam rosários, famílias inteiras levavam coroas de flores. Nas cadeiras próximas ao caixão, estavam as pessoas mais marcantes da vida de Sargaço: o irmão Dunarte Filho, promovido ao posto de Capitão, a namorada Stella, que acabara de descobrir sua gravidez, a amiga Ana Carolina, a jovem de pernas amputadas que escapou da morte graças ao manejo de Sargaço com um canivete, os pais das crianças soterradas que foram salvas por Sargaço e a jornalista Maricielo May, tendo nos braços o pequeno Taurus.


Quando o caixão foi sepultado, houve uma salva de tiros e o hino da corporação foi cantado por todos que ali estavam. Morrera um homem, mas nascia um mito. Meses depois, Mari lançou a biografia de Sargaço, no dia do nascimento da filha de Stella.

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O tempo passou e as coisas mudaram. Quem agora estava trabalhando na rádio, como estagiário era Taurus May, cuja primeira obrigação do dia, era fazer a ronda telefônica entre aeroportos, portos, hospitais, IML, polícia, etc. E chegou o momento de ligar para a Corporação a fim de saber os acontecimentos da noite:

- Bom dia, aqui é Taurus, da Rádio Nascente.
- Pois não, aqui é a Aspirante Toni Sargaço, em que posso ajudar?



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