Podcast Taís Paranhos

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Galeria Marco Zero homenageia pluralidade da arte de Montez Magno em ‘Canto à Liberdade


Depois do recente sucesso das obras de Montez Magno na SPArte, Marcelle Farias e Eduardo Suassuna, nomes à frente da Galeria Marco Zero, anunciam outro recorte da trajetória do artista pernambucano. Agora sob curadoria de Itamar Morgado e Bete Gouveia, a exposição intitulada ‘Canto à Liberdade’, com mais de 100 obras dispostas nos dois pavimentos da galeria, tem como ponto de partida um poema visual que retrata o olhar livre e atemporal do artista. Com acesso gratuito, a mostra abre para visitação do público a partir da próxima quinta-feira (27),  com exibição até o dia 22 de junho. A Galeria Marco Zero fica na Av. Domingos Ferreira, nº 3393, bairro de Boa Viagem.

*MÚLTIPLO –* Montez Magno, pernambucano de Timbaúba, foi considerado pioneiro em muitos momentos de sua jornada artística. Sempre exerceu com liberdade suas múltiplas formas de expressão, o que resulta em um acervo diversificado que vai de pinturas, gravuras, esculturas, ready mades e assemblages, passando por incursões à performance e música aleatória, além de uma produção poética que registra uma dezena de livros publicados. Na extensão superior da galeria, ficará a obra-chave, que deu título à exposição. “O trabalho ‘Canto à Liberdade’ é uma projeção que faz alusão ao compromisso de Montez Magno com a sua própria autonomia em relação a qualquer dogma no campo de atuação. Com uma trajetória marcada pela independência e realizando experimentos em diversas linguagens e nos mais variados materiais e suportes, o amplo recorte da exposição revela a imensidão de um inventor de mundos, um dos mais significativos artistas da história da arte brasileira”, Marcelle Farias. 

O viés disruptivo de Magno abriu caminho para participações nas primeiras Bienais Internacionais de São Paulo, rendeu uma bolsa de estudos no Instituto de Cultura Hispânica de Madri e aproximou-o, no Rio de Janeiro, de um grupo de artistas que se tornariam expoentes do movimento neoconcreto brasileiro. “Pensamos esta exposição para prestar um justo tributo a esse artista plural, inventivo, pioneiro que, ao aproximar-se da casa dos 90 anos, continua sendo, efetivamente, um homem de seu tempo. Por isso, a curadoria de Itamar Morgado e Bete Paes foi uma escolha perfeita para montar este panorama.”, avalia Eduardo Suassuna. 

*CURADORES –* Itamar Morgado é mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco e também a da Paraíba (UFPE/UFPB), ele olha o artista como alguém que prezava a sua liberdade de sua inventividade acima de tudo, e garante que isso ficará evidente em cada parte da exposição. Ele relembra que Montez renunciou à zona de conforto da estética figurativa dominante representada pelo Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife e rompeu as fronteiras da temática regional para embarcar na linguagem construtiva, sem dobrar-se ao rigorismo da geometria formal.  “Não por acaso, depois de 70 anos de efetiva produção, sua obra continua singular e desafiando os esquemas classificatórios dos manuais da Academia e vem obtendo reconhecimento cada vez maior dentro e além das fronteiras geográficas do Estado”, explica o curador. 

Bete Gouveia é artista visual, professora e pesquisadora também da UFPE. Seu campo de interesse é voltado às percepções ínfimas a partir do Infra-mince duchampiano. Ela ressalta que não houve, em momento algum, a pretensão de restringir os sentidos ambíguos do conteúdo da exposição. “Há um eixo de matriz solar composto por cores exuberantes, saturadas e luminosas, que trava diálogo com a ordem espontânea da geometria popular nordestina, composto pelas séries Barracas do Nordeste, Fachadas do Nordeste, Colchas de Retalho e Tacos. Contrariamente, o segundo eixo, que abriga a série Tantra, a série Negra e Portas de Contemplação, concentra uma luminosidade rebaixada e difusa, menos precisa, e por isso silenciosa e introspectiva, cujos limites dos planos lineares se tornam duvidosos para nós; nos convidam ao infinito, ao vazio e guardam a dimensão do sagrado. Já no terceiro eixo, distribuído no piso superior da galeria, evidenciamos um conjunto de obras que se aproxima de um tipo de diálogo mais sutil e enigmático que, emanado de objetos, desenhos, pinturas, projeções e outras obras sem uma classificação específica, nas quais algumas, apesar da sua forte marca autoral, travam diálogos com o universo de alguns artistas históricos e outros autores para além do campo das artes visuais.”, pontua Bete, que completa informando que tal percepção só consegue ser sentida na presença do grande contraste das obras.  

*Sobre a Galeria Marco Zero*
Comandada por Eduardo Suassuna e Marcelle Farias, a Galeria Marco Zero reúne um acervo de diversas vertentes, expressões, períodos e estilos. Entre os destaques, a representação do espólio do pernambucano Gilvan Samico, e a preservação e difusão de nomes do quilate de Abelardo da Hora, Cícero Dias, Gil Vicente, Francisco Brennand, Burle Marx, Vicente do Rego Monteiro, Tereza Costa Rêgo, Reynaldo Fonseca, Lula Cardoso Ayres, Carybé, Di Cavalcanti, Portinari, Tomie Ohtake, Abraham Palatnik, Rubem Valentim, José Cláudio e  João Câmara.

A galeria também se corresponde com movimentos mais contemporâneos apresentando trabalhos de Tunga, Miguel Rio Branco, Paulo Pasta, José Damasceno, Rodrigo Andrade, Túlio Pinto, Emmanuel Nassar, Felipe Cohen, Tatiana Blass, Tulio Pinto, Paulo Whitaker.  E representa jovens artistas locais como Bozó Bacamarte, David Alfonso, Ianah, Ramonn Veitez e Rayana Rayo, cujos trabalhos estão focados no desenvolvimento de suas poéticas e conectados com questões fundamentais da atualidade. A Marco Zero também abriga uma biblioteca especializada, inclusiva e em constante formação, contribuindo para o exercício da diversidade e a construção e difusão do conhecimento. Fomentar a produção local e descentralizar a circulação da arte para além do eixo Rio-São Paulo ao tempo que estabelece conexões entre a criação local e expoentes nacionais é um dos propósitos do espaço.

Serviço
Exposição “Canto à Liberdade” – Exposição de obras do artista Montez Magno, com curadoria de Itamar Morgado e Bete Gouveia
Galeria Marco Zero – Avenida Domingos Ferreira, nº 3393, Boa Viagem, Recife - PE
Abertura: 27/04 às 19h | Visitação 27/04 até 22/6
Horário - seg à sex | 10h-19h | sáb | 10h-17h
Acesso gratuito