terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Teatro: 'Por que Não Vivemos?' tem atriz Camila Pitanga no elenco

 

Em março de 2020, a temporada de Por Que Não Vivemos?, da cia brasileira de teatro, corria com plateias cheias e filas. Originalmente programada para o CCBB SP, a reforma do teatro fez com que a estreia fosse realizada no Teatro Municipal Cacilda Becker, na Lapa, em São Paulo.  Em virtude da pandemia da covid-19 e com o fechamento das casas de espetáculos, a peça interrompeu suas apresentações e os artistas entraram em quarentena.

O resguardo inquietou artistas e produtores em suas casas, e as pesquisas cênicas no âmbito digital começaram a virar realidade. Os estudos realizados começaram a dar frutos e um deles é a transposição do espetáculo para o universo digital.

A temporada no âmbito digital do Por que não vivemos?, da companhia brasileira de teatro, será dias 11, 12 e 13 de dezembro, gratuita, com reservas a partir de 1º de dezembro pelo Sympla. A peça está dividida em três atos, cada um deles apresentado em um único dia, em duas sessões, sempre às 18h e 21h. Dias 15 e 17 de dezembro também será oferecido gratuitamente um curso/palestra “Dramaturgia, Performance e Processos Criativos no Teatro Contemporâneo”, com Marcio Abreu, Nadja Naira e Giovana Soar. 

Por que não vivemos? estreou em julho de 2019 no CCBB do Rio de Janeiro, fez temporada no CCBB Brasília no mês de setembro e no CCBB Belo Horizonte em novembro do mesmo ano. Em 2020, o espetáculo chegou a São Paulo no Teatro Municipal Cacilda Becker, desta vez com patrocínio do Banco do Brasil e Eletrobras Furnas, mas teve sua temporada interrompida após a realização de 10 sessões, retomadas agora no formato online. 


A adaptação digital de Por que não vivemos?
Em junho de 2020, a cia brasileira de teatro iniciou uma pesquisa sobre a escuta, a manipulação e detalhe do som, em especial àquele aliado às palavras, às dramaturgias. Duas peças sonoras da série “Escutas Coletivas” foram realizadas pelo grupo: “Maré”, uma reação artística ao real sobre o Complexo da Maré, localizado no Rio de Janeiro, e “Luto”, um exercício sonoro a partir da peça “Rubricas”, de Israël Horovitz. 

Dessa experiência da Escuta Coletiva nasceu o primeiro ato da transposição de Por que não vivemos? para a versão digital. Nesta adaptação de linguagem e meios da peça, a equipe criativa voltou ao trabalho dramatúrgico e reescreveu cenas, moldando cada ato do espetáculo a uma passagem individual. Isto manteve a dimensão e roteiro do texto em três episódios, esteticamente distintos como no espetáculo produzido presencialmente. 

As partes da obra, realizadas em dias únicos, têm duas sessões, sempre às 18h e 21h. Dia 11 de dezembro será apresentado o primeiro ato. Neste episódio, o destaque é para o formato da ESCUTA COLETIVA, sem imagens e com a apresentação, pelo elenco, de suas personagens e relações na obra, além da “festa de reencontro”, proposta na dramaturgia de Tchekhov.  

O segundo ato, dia 12 de dezembro, dá novo significado às imagens gravadas para o espetáculo presencial, com cenas executadas ao vivo pelos atores, o que torna mais próxima a experiência realizada digitalmente. 

O terceiro e último ato, programado para dia 13 de dezembro, tem os atores e atrizes, a partir de suas casas, em super closes narrando as ações/cenas para o desfecho da peça.

 

“Criar uma experiência online a partir de uma peça que existe presencialmente e que tem grande proximidade com o público apresenta desafios de como buscar o vínculo com as pessoas através da escuta e da percepção dos aspectos mais fundamentais da peça, numa adaptação em três episódios, mantendo as diferenças de linguagens em cada parte, que caracterizam a montagem original”, diz o diretor Marcio Abreu.



Sobre a obra
Escrita pelo dramaturgo russo Anton Tchekhov (1860-1904) por volta dos 20 anos, a história do professor Platonov foi descoberta nos arquivos do seu irmão após a sua morte, e publicada em 1923. Até então inédita no Brasil, a obra foi publicada em diversos países como Platonov em homenagem a um dos personagens, o professor Mikhail Platonov. Giovana Soar ressalta que o título escolhido pela companhia de Por que não vivemos? traduz o drama que permeia o espetáculo. “São pessoas que gostariam de estar em outro lugar, mas não fizeram nada para isso. Mostra como a trama da vida vai se desenrolando e as pessoas vão caindo na armadilha de ficar onde estão”. 

A peça trata de temas recorrentes na obra de Tchekhov, como o conflito entre gerações, as transformações sociais através das mudanças internas do indivíduo, as questões do homem comum e do pequeno que existem em cada um de nós, o legado para as gerações futuras – tudo isso na fronteira entre o drama e a comédia, com múltiplas linhas narrativas. “É o primeiro texto de Tchekhov, um texto muito jovem, mas muito revisitado em diversos países porque tem nele o que depois vem a ser o cerne do Tchekhov”, diz o diretor. 

“A montagem tem um foco muito específico nas personagens femininas. São elas que causam transformação, que caminham, que querem mudanças, contravenções e que enfrentam conceitos pré-estabelecidos na sociedade da época”, conta Giovana. A artista complementa que esses traços estavam no texto de Tchekhov, mas foram acentuados na adaptação. Para ela, o olhar do autor causava uma espécie de premonição para os movimentos futuros que se sucederam.