sábado, 24 de março de 2018

#VcNoBlog Acesso à Água: um direito à vida

A expressão água é vida é comum aos nossos ouvidos. No Brasil desigual, ela ganha uma importância ainda maior, pois o acesso à água potável é uma das primeiras condições para assegurar a sobrevivência das crianças de 0 a 1 ano de idade. Porém, esse direito é um dos mais negados às crianças em regiões mais empobrecidas. De acordo com os Indicadores de Pobreza do Censo 2010, cinco de cada dez casas possuem crianças de 0 a 5 anos, que não têm conexão com rede geral de abastecimento de água, esgotamento sanitário nem acesso à coleta de lixo. Ainda segundo a pesquisa, de forma mais ampla, nas cidades com até 5 mil habitantes, as taxas de famílias sem acesso à rede geral de esgoto aumentaram entre 21,7% em 2000 para 30,8% em 2010. Penso que, infelizmente, o Semiárido figure grande parte dessa estatística, considerando que muitos dos seus municípios possuem população com esse número de habitantes. 

O dado acima está diretamente ligado às causas da mortalidade infantil. Esse não pode ser o destino das crianças brasileiras e do Semiárido. Por exemplo, uma simples e valiosa cisterna de placas, garantiria às crianças acesso à água potável e, com isso, diminuiria as chances delas serem alvos fáceis da mortalidade infantil. Dados divulgados pela Fiocruz fazem coro a essa afirmação. Pesquisa realizada pelo órgão, em 2003, apontou que as famílias que não fazem uso da cisterna tiveram cinco vezes mais diarreia em comparação com as famílias que possuem a tecnologia. Os números podem até estar obsoletos, mas os atuais certamente reforçam com mais eficiência o papel da cisterna na garantia do acesso à água e consequentemente na redução da mortalidade infantil.

A cisterna não apenas garante a sobrevivência das crianças como impacta no seu futuro. De acordo com a pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) nove de cada dez crianças que moram em casa com cisterna comparecem diariamente à escola. Entre as famílias que não têm o reservatório, a frequência escolar cai para sete de cada dez crianças. O tempo que era para ser investido nos estudos é empregado em caminhadas de quilômetros à fio em busca de água.

Lembro que quando trabalhei na Diaconia, no Sertão do Pajeú, tive o privilégio de conhecer Eduarda Monteiro, 12 anos, moradora do Sítio Bom Sucesso, município de Tuparetama (PE), no Sertão de Pernambuco. Ela afirmava com veemência a diferença que a cisterna fez em sua vida. Certa vez me confidenciou : “antes a gente tomava água barrenta e vivia adoecendo. Agora, com a cisterna, não é mais assim.” 

Ela contou que, durante muito tempo, a sua família sofria com o problema da seca. Sem água, cultivavam apenas milho e feijão. Os pequenos eram os mais prejudicados, pois não tinham acesso à água e alimento suficientes para viver plenamente e com saúde. No ano 2000, a família adquiriu uma cisterna de 16 mil litros e um sistema de irrigação por gotejamento. A chegada dessas tecnologias transformou a vida da garotinha Daniela e de sua família.Melhorou o manejo da água e a forma de lidar com a estiagem. Diversificou a produção, garantindo maracujá, mamão e pimentão e a comercialização do excedente na feira livre dos municípios de São José do Egito e Tuparetama. Hoje, Daniela vive em uma família cuja renda é três vezes maior.

Junto com a água boa para beber e cozinhar vieram os alimentos saudáveis cultivados sem o uso de agrotóxico e também a autoestima de crianças com energia, saúde e alegria para dar e vender. “Quando estou brincando e chego em casa com sede adoro beber a água da cisterna. É uma água geladinha e deliciosa!”, afirmou a garota com satisfação, mostrando a diferença que o acesso à água limpa para beber faz na vida de uma criança. Essas experiências precisam ser cada vez mais disseminadas, de maneira adequada às áreas urbanas, e com inspiração na família de Tuparetama e tantas outras do Semiárido, para que a vida seja preservada e vivida com qualidade em qualquer lugar.


Adriana Amâncio
Radialista, jornalista e cursando MBA em Publicidade e Marketing Digital pela Fama