Os brasileiros se despedem hoje de uma companhia que sempre esteve por perto nos momentos de aperto, mas que não deixará saudade. A partir de hoje, o crédito rotativo do cartão de crédito não existirá mais como todos conhecem. Nenhum consumidor poderá usá-lo por mais de 30 dias: depois desse prazo, será obrigado a optar por um parcelamento da dívida caso não quite o saldo devedor. Até então, o cliente podia ficar indefinidamente pendurado no crédito rotativo, pagando juros de quase 500% ao ano.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou a mudança em janeiro, em um momento em que o governo buscava uma agenda positiva. O argumento foi justamente o nível elevado de juros dessa modalidade de crédito, o que acabava resultando em mais inadimplência. O BC argumentou que a medida ajudará também o balanço dos bancos, uma vez que dará condições para o correntista pagar o débito antes que ele se transforme em uma dívida impagável.
As taxas do rotativo são, há muito tempo, as maiores do mercado, acima de 15% ao mês, em média. Ao longo das últimas semanas, todos os bancos criaram formatos novos de parcelamento para atender à mudança. As principais instituições financeiras vão cobrar de 1% a 10% ao mês no parcelamento.
Mas especialistas advertem que, se os consumidores não se organizarem, o alívio dos juros pode não ser suficiente para voltar ao azul. Simulações mostram que quem fizer parcelamentos muito longos para quitar o cartão pode acabar pagando mais juros do que se quitasse o rotativo que existia até agora em um período mais curto.
A recomendação é: ao cair no parcelamento pós-rotativo, o cliente deve buscar imediatamente um crédito pessoal junto ao banco, cujas taxas são menores.
Além disso, os juros do parcelamento praticados hoje têm aumentado. Na quarta-feira, o BC informou que, em fevereiro, os juros do crédito parcelado do cartão de crédito subiram de 161,9% para 163,5% ao ano, enquanto os do rotativo caíram 5,2 pontos percentuais, para 481,5% ao ano.
Jornal O Globo (Rio)