quarta-feira, 26 de junho de 2013

Fifa e governo contra-atacam após críticas à Copa do Mundo

Nada do que aconteceu nos últimos dias vai colocar em risco a organização da Copa do Mundo'. De forma enfática, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, reafirmou nesta segunda-feira o compromisso da entidade de manter os eventos no País, sem alteração na programação, a despeito das manifestações populares que vêm ocorrendo em importantes cidades brasileiras há mais de uma semana. 

A Fifa se tornou alvo dos manifestantes, que foram às ruas protestar, entre outras coisas, pelo dinheiro gasto com a construção e reforma de estádios para a competição e a Copa das Confederações. Umas das reivindicações mais vistas nos cartazes e nos posts em redes sociais era "Queremos escolas e hospitais padrão Fifa".

Mas isso não significa que a Fifa e o governo brasileiro estão indiferentes aos protestos. Nesta segunda-feira, em uma entrevista coletiva no Maracanã, dirigentes esportivos e autoridades brasileiras procuraram dar uma resposta às críticas de que a Copa gera mais benefícios à Fifa do que à população do país sede.

- Estamos ouvindo críticas de que vamos embora sem pagar impostos, apenas com os lucros da Copa. Então gostaria de analisar também os programas de alimentação, bebidas, hospitalidade... Foram gerados 6 mil empregos na área de alimentação na Copa das Confederações, que passarão a 14 mil na Copa do Mundo.

Quinze empresas brasileiras vão atuar na área de hospitalidade. Somente em pernoites de hotel na Copa das Confederações, a família Fifa vai utilizar 38 mil na Copa das Confederações, gerando R$ 32 milhões, e na Copa serão 600 mil pernoites, quase meio bilhão de reais deixados no país, apenas para uso de quartos de hotel na competição - observou Valcke.

Para o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, o benefício da Copa do Mundo para o país pode ser medido pela quantidade de países interessados em realizá-la. O político citou pelo menos quatro países - Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Japão - que se interessaram em promover o Mundial de 2014 depois que os protestos no Brasil geraram dúvidas sobre uma possível mudança de sede. Valcke, no entanto, negou que a Fifa tenha recebido qualquer proposta oficial para 2014, e Aldo acabou revelando que se baseava apenas em informações da imprensa.

- Isso foi o que eu li no noticiário, que a simples possibilidade de a Copa sair do Brasil já gerou o interesse de vários países - disse o ministro, revelando que o Brasil já foi procurado pelos governos da China, Argentina e Uruguai, interessados no apoio do país para futuras candidaturas.

- A China quer melhorar a estrutura do seu futebol, para poder receber uma Copa, e Argentina e Uruguai têm interesse em organizar juntos a Copa de 2030, no centenário da competição, já que eles foram finalistas da primeira edição.

Preocupado em mostrar segurança na realização do Mundial 2014 aqui, Valcke foi enfático:
- A final da Copa das Confederações será no Maracanã, e a Copa de 2014 será no Brasil, em 12 cidades. Não há um plano B. Nunca recebi oferta oficial de nenhum outro país para sediar a Copa de 2014 - disse Valcke, evitando comentar um possível aumento da segurança dos membros da Fifa no Brasil durante a Copa das Confederações e, também, no Mundial de 2014.

- A segurança é sempre uma questão que cabe ao país sede. Eu diria que o que aprendemos na Copa das Confederações vai nos ajudar na Copa do Mundo, e a segurança é uma dessas questões. Não cabe a mim dizer o que pode ser feito na Copa do Mundo.
Aldo Rebelo lembrou que, ao se prontificar para realizar a Copa, o Brasil aceitou as exigências da Fifa para o evento:

- A partir do momento em que aceitou o desafio, o Brasil também assumiu uma série de obrigações, não só diante dos organizadores como também diante de todos os participantes, as 31 seleções que vão se juntar ao Brasil na Copa - declarou o ministro, rechaçando a acusação de que os investimentos com a Copa ultrapassam os recursos do governo para pastas como Saúde e Educação, principais focos de cobranças dos protestos.

- Há uma comparação entre o que foi investido na Copa e os gastos com Saúde e Educação. Apenas este ano, o orçamento da União destina para Saúde e Educação aproximadamente R$ 177 bilhões, só para 2013. O orçamento do Ministério dos Esportes é aproximadamente 1% desse total, incluídos aí os recursos destinados a Copa e Olimpíadas. Entre 2007 e 2013, o orçamento da União para Saúde e Educação somou R$ 477 bilhões. Não há desvio do orçamento da União para obras da Copa ou construção de estádios, que são feitos com recursos próprios das construtoras, ou empréstimos do BNDES, que serão pagos, ou recursos dos governos estaduais, que são proprietarios de alguns estádios.
Sem punição para ‘falta de infraestrutura’

Apesar dos problemas ocorridos em Recife, especialmente com a seleção do Uruguai, que teve dificuldades para chegar a campos de treino e chegou a cancelar um reconhecimento oficial do gramado da Arena Pernambuco para treinar mais cedo e em outro local, mais próximo, além de outros problemas estruturais na capital pernambucana, como trânsito caótico e até falta de luz no estádio, Valcke garantiu que Recife não será punida com diminuição de jogos na Copa do Mundo.

- A Copa das Confederações não existe para testar um estádio, e decidir quantos jogos haverá lá, e sim para testar a infraestrutura. Nada do que aconteceu nos últimos dias vai colocar em risco a organização da Copa do Mundo - afirmou.

Para o dirigente, o balanço da Copa das Confederações, até aqui, é positivo.
- Não existe uma questão específica (para avaliar). Há vários probleminhas, como controle nos ingressos, coisas que não foram muito importantes para a mídia e as equipes, mas isso é um controle interno que vamos realizar. Não tem nada que eu colocaria no topo da lista (como reclamação), nada que possamos dizer que foi uma questão a se resolver - comentou.

Jornal O Globo