quinta-feira, 7 de julho de 2011

Sargaço - Capítulo 01 - Quem era esse homem?

Quem era aquele homem misterioso que nas grandes tragédias aparecia do nada para salvar as vítimas? Incêndios, soterramentos, cheias, e principalmente, afogamentos. Ele não usava qualquer tipo de equipamento de proteção, fazia tudo com as mãos. E fazia bem feito. Anjo, herói, guerreiro, louco, eram alguns dos adjetivos dados a ele, que queria ser chamado apenas de voluntário.

Na redação de uma rádio local, um grupo de jornalistas sempre estava atarefado. Liderados por Rádio (o chefe da turma, tão apaixonado pelo veículo que adicionou ao nome profissional), eles estavam em uma reunião de pauta:

- Procurem saber quem é esse homem, por que ele não é bombeiro, mas sabe salvar...

- Rádio – falava Maricielo – Esse cara é formado em Enfermagem, já apurei com a turma da praia.

- Sim, mas um enfermeiro não entra no mar nem em incêndios pra salvar alguém – Lembrou Dimitri.

Enfim, já havia o setorista da praia, que além de noticiários sobre marés, era obrigado a trazer uma notícia sobre o tal riponga. Naquele dia, quem estava com a missão era Maricielo. Grávida de cinco meses, queria fazer uma grande reportagem antes de ter seu filho, pois sabia que a vida de mãe iria revolucionar sua vida de repórter. Quando ela se retira para o trabalho, os homens perguntavam entre si:

- Eu preferia investigar sobre a paternidade do filho de Mari... – Provocava Dimitri.

- Eu preferia ser o pai... – Falou Antúlio.

-...Só na hora de fazer, não é, safado??? – completou Ricardo, o mais gaiato de todos.

E todos começavam a rir.

Ninguém sabia quem era o misterioso pai do filho da Mari. Solteira e independente, ela jamais permitia que homem nenhum a dominasse. Chegou a se casar com Antúlio, mas não agüentou a vidinha de dona-de-casa. Amava verdadeiramente sua profissão e enquanto o carro a levava para a praia, ela pensava no filho.

Ao chegar na Praia da Areia Branca, reduto dos surfistas e de toda uma turma que só queria viver em clima de eterno verão, Maricielo foi até a barraca de coco verde ali instalada e começou a conversar com o vendedor:

- Olá, Seu Antonio, tudo em paz?

- Opa, minha filha, tudo certinho, e essa bença, nasce quando?

- Daqui a quatro meses.

- Já sabe se é menino ou menina?

- É um menino. Vai se chamar Taurus.

- Que nome esquisito, filha, o que quer dizer esse nome?

- Aquele que tem a força de um touro.

- Aaaaaah, agora entendi... Vai ser um menino forte e valente, que nem o Sargaço.

- Sargaço?

- É. Tá vendo aquele doido ali, nadando no mar?

- Tô.

- Ele é doido de pedra, minha filha. É um cabra bom, mas não pode ver alguém se afogando e vai correndo salvar. Quando os bombeiros chegam, a pessoa já tá é salva. Todo dia sai alguma coisa no rádio, nos jornais, tudo sobre ele.

- Hummm... Interessante a história desse homem...

- A senhora é repórter, não é? Por que não vai perguntar pra ele...

-...Quem ele é? Vim aqui pra isso.

- Aproveita que ele ta vindo pra cá e conversa.

Emergia das águas um homem diferente de tudo que ela já vira. Pele bronzeada, corpo musculoso, cabeleira cheia, e um dragão tatuado em suas costas. Sempre entrava no mar de roupa e tudo, invariavelmente uma camiseta florida e um bermudão branco.

- Seu Antônio, me dá um coco bem gelado...

- É pra já, meu filho! Olha, essa moça aqui é repórter e quer falar contigo.

- Todo dia sai no repórter qualquer coisa sobre mim.

- É, mas ninguém sabe quem é você.

- Olhe, se você veio me entrevistar, eu tô fora!

- Pra mim, você não passa de um doido, mas tem um monte de gente que quer saber... É por essas pessoas que eu to aqui hoje.

- Vou te fazer um desafio: se você virar a noite aqui na praia, te conto toda a minha história.

- Eu topo!

- Mas a senhora tá esperando neném...

- Melhor ainda, que ele tá comigo e eu não preciso deixar ele com ninguém.

Só restava a Sargaço contar a sua história...