Entrevista ao Portal Imprensa - 30 de Agosto de 2018

O que começou como uma entrevista para a seção Histórias de TCC, do Portal IMPRENSA, acabou se transformando em um relato de memórias, em forma de depoimento, que você confere abaixo. Taís Paranhos se formou em jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco e hoje orienta TCCs. 



Crédito:Montagem de imagens / Divulgação Taís Paranhos



Me chamo Taís Paranhos, tenho 40 anos, sou jornalista há 21 anos e professora há cinco. Atualmente oriento trabalhos de conclusão de curso em uma faculdade de Publicidade e Propaganda aqui no Recife – a FAMA - Escola Superior de Marketing – e se hoje mexo com ABNT, artigos, projetos de pesquisa, com o apoio de uma internet que nos brinda com as informações mais recentes, artigos científicos pra dar e vender, como se diz na gíria, e todo um mundo de pesquisa, acabo me lembrando das minhas aventuras como orientanda de TCC, no incrivelmente longínquo ano de 2000.

Na época, o TCC se chamava Projeto Experimental e os alunos do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco podiam escolher se iam fazer vídeos, matérias, exposição fotográfica, monografia, etc. No meu caso, como eu amava muito rádio (e amo até hoje) e já tinha um curso técnico de Rádio e TV no currículo, não dava pra ser outro veículo. 

Meu orientador (que hoje é o meu melhor amigo), Vlaudimir Salvador, também um amante do rádio e um pioneiro da radiodifusão comunitária aqui em Pernambuco, determinou que fossem produzidos seis programas de 15 minutos cada. Fui a campo fazer as entrevistas com todo tipo de pessoa: líderes comunitários, jornalistas, atores, crianças e com (pasmem) três bolsas – uma para as quase 20 fitas K7 que usei nas entrevistas, outra para os CDs de trilhas sonoras e a minha bolsa normal, com todo o paramento de quem saía de casa para um estágio de manhã, as aulas à tarde e um outro estágio à noite.

O nome da série de programas foi “O Desafio de Informar” e havia seis subtemas: no primeiro programa, falava do surgimento das rádios comunitárias em Pernambuco; no segundo, de iniciativas radiofônicas que, por falta de recursos, foram extintas; no terceiro, falamos do programa Jovem Legal, uma série de radionovelas que denunciavam trabalho infantil, prostituição de crianças e adolescentes, abusos e maus-tratos dentro de casa, e que no ano anterior, tinha sido indicada ao Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo.

O quarto programa foi o Rádio Mulher, do Centro das Mulheres do Cabo - tive a oportunidade de viajar ao interior de Pernambuco, e visitar o município de Palmares, na Mata Sul do Estado. O quinto programa (e que deu origem à série) foi sobre a Rádio Comunidade, da Prefeitura de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife. E finalmente, no sexto programa, o Bem Me Quer, programa infantil da Rádio Comunitária de Muribeca.

Claro que ao fim do projeto, eu já não era a Taís de antes. Aprendi muito e senti ali que não era mais a estudante de Jornalismo, mas uma profissional cuja formação chegara ao auge. A banca foi uma história à parte. Com três profissionais na banca examinadora (na época o orientador não integrava a banca, coisa que mudou depois de algum tempo na Unicap), o estúdio de rádio e a sala de aula ficaram lotados. Vi que a expectativa não era mais minha, mas sim de toda uma geração. Senti a responsabilidade de ser exemplo e inspiração para colegas.

Consegui exibir os programas na rede de rádios comunitárias de Camaragibe e assim pude me inscrever para um dos prêmios mais importantes do jornalismo em Pernambuco: O Cristina Tavares (nomeado assim em homenagem à jornalista e ex-deputada federal pernambucana que morrera em 1990). Eu nem esperava ser indicada, pois era recém-formada e inexperiente para o mercado.

No entanto, três jornalistas de respeito estavam na banca de radiojornalismo do prêmio, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco. Aldo Loreto (já falecido), Sérgio Xavier (que tornou-se político) e Heródoto Barbeiro (ex-CBN, hoje na Record News) foram os profissionais que indicaram a mim e mais duas colegas para a premiação. E as colegas, hoje minhas amigas, também fizeram parte do meu projeto: uma, por também ter inscrito seu TCC e a outra, por ter sido entrevistada e me ajudado muito na elaboração de um dos programas.

E jamais me esquecerei daquele dia 7 de dezembro de 2000, quando me chamaram pra ganhar o Cristina Tavares. Eu, recém-formada, ao lado dos vencedores de outras categorias, todos veteraníssimos na profissão. Tanta coisa aconteceu, tanto tempo passou, já fiz duas especializações (uma em Ensino Superior e outra em Assessoria de Comunicação) e recentemente defendi uma dissertação de Mestrado e advinha qual o tema? Rádio, claro! E sua influência em jovens e a convergência de mídias.

Esse exercício de memória, que faço de vez em quando, me faz lembrar do caminho que escolhi, o de buscar conhecimento para transmiti-lo. Se hoje sou jornalista, blogueira, professora, isso vem desse caminho que começou a ser construído lá na minha adolescência. Hoje procuro passar meus conhecimentos de forma humanizada aos meus alunos, mostrando que eles podem chegar longe, que são capazes e, acima de tudo, que eles têm que estar sempre abertos à aprendizagem.