Na distante cidade de Vila Mãe África, era noite de tempestade, em julho de 1976. A única luz que se via nos casebres era a de velas. Não era à toa que a casa mais iluminada era o Terreiro de Pai Francisco. Ele estava em transe e disse as seguintes palavras:
“Duas irmãs benjamitas estão separadas por um mal e só a união delas irá quebrar o encanto da serpente. E elas procriarão, dando a seu pai e suas mães, um novo sopro de vida. Pais se tornam filhos e filhos se tornam pais”.
Na casa religiosa, ninguém entendeu as palavras do Pai Francisco. Nem mesmo Mãe Rita, sua fiel companheira. E pelo resto da noite todos cantavam, rezavam e tocaram seus atabaques no terreiro.
Parto - Enquanto isso, na cidade de Serra Floriana também chovia muito. O comerciante Klein Benjamin acabava de receber um telefonema, dizendo que sua esposa Sarah estava na maternidade. Ele estava em reunião com seu sócio Arlan von Strossner:
- Arlan, tenho que ir, Sarah vai dar a luz dentro de instantes. Minha filha vai nascer!!!
- Eu vou com você, Benjamin, faço questão de estar ao seu lado nesse momento importante.
Benjamin entendera as palavras do sócio como uma demonstração de amizade, mas o que Arlan realmente queria era satisfazer uma estranha mania, que nem ele mesmo poderia compreender o motivo: assistir ao parto, disfarçado de médico ou enfermeiro. Assim, ele acreditava ter o poder da vida e da morte sobre a pequena que estava para nascer.
Maligno - A origem dessa psicose aconteceu ainda na infância, quando entrou escondido na sala de parto dessa mesma maternidade e viu o nascimento de Sarah. Desde então, a perseguia e a desejava, ainda mais quando ela se tornou uma mulher muito bonita. Quando ela casou com Benjamin, o comerciante mais rico da região, o que poderia ser ódio transformou-se em uma ideia maquiavélica: conquistar a confiança do marido a ponto de administrar toda a sua fortuna e manter Sarah por perto.
Sarah sabia dessa obsessão e contava com a sua melhor amiga, a professora Marie-Ange, que também estava na maternidade e tentou, sem sucesso, impedir a chegada de Arlan à sala de parto. Tarde demais. Ele estava disfarçado e assistiu ao parto normal em que nasceu Hannah Benjamin, a primeira filha de Klein e Sarah.
No quarto da maternidade, antes que Marie-Ange e Benjamin chegassem ao quarto, Arlan estava com Hannah nos braços e antes de entregá-la à Sarah, disse bem baixinho no ouvido da recém-nascida:
- Sua vida agora é minha, pequenina... Assim como a da sua mãe.
Um raio irrompeu os céus de Serra Floriana.
Sarah e Hannah agora estavam em perigo. Benjamin comemorava com o sócio enquanto a Marie-Ange só restava ir à capela rezar e pedir proteção para mãe e filha.
Pai Francisco, Mãe Rita e Marie-Ange pediam proteção aos santos, pois a história estava apenas começando. Resta ao leitor aguardar o próximo capítulo.
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