- Juramento do Jornalista (Fonte: Fenaj.org.br) -
Recife, 14 de Março de 2011
Prezado Jornalista Roberto Kovalick:
Me chamo Taís Paranhos, tenho 33 anos, sou do Recife e assim como o senhor, também sou jornalista diplomada. Acompanho a sua carreira há quase 20 anos, lembrando da cobertura do Caso Daniella Perez (1992), de tiroteios nos morros cariocas, de uma matéria sub-aquática na Ponte Rio-Niteroi e das festas do Reveillon em Copacabana. Naquela época, a sua voz firme chamava a minha atenção, pois eu era apenas uma menina que sonhava em fazer Jornalismo, escrito, TV, rádio, onde fosse. Quando o senhor foi ser correspondente em Brasília (quantas CPIs e crises políticas, hem?) eu já estava na faculdade, ainda com a cabeça cheia de ideias e o coração já focado no Rádio.
Evidente que tenho outros ídolos no Jornalismo (Francisco José, Herodoto Barbeiro, Carlos Nascimento, Milton Jung, entre tantos), mas na reportagem de rua, aprendi que entrar ao vivo e ter ousadia para perguntar era para poucos e o senhor certamente era um deles. Eu, iniciante repórter de rádio, precisei perguntar a um pai de família o que ele mais queria depois do assassinato brutal de seu filho. O homem simples do campo respondeu: "Só quero justiça, nada mais que justiça". E me questionei pela primeira vez até onde iria o nosso papel. Até onde ser imparcial e ser humano.
Em 2000, me formei e fui de momentos mágicos à realidade dura em pouco tempo. O século XXI chegou com tudo e o senhor foi para os Estados Unidos, alçando sua primeira empreitada internacional. Assim como a maioria, fui para "o outro lado do balcão", ser assessora de imprensa e Graças a Deus por isso, pois aprendi o quanto a Assessoria de Imprensa deve prezar pela ética e eficiência tanto quanto os veículos de Comunicação.
E o senhor chegou ao Japão, com a sua linda e simpática esposa Karina, com quem acabei me comunicando via web nos últimos dias (ressaltando que ela é uma grande blogueira, sabe escrever com sensibilidade as diferenças culturais no Sushi de Banana). E eu, chegando aos 30, mais do que desiludida, correndo contra o tempo e nadando contra as correntes. Mas a internet já era uma realidade e criei meus mundos virtuais como este blog e o twitter (pelo qual me comunico muito com a Karina), e já trabalhando nas ferramentas tecnológicas.
E eis que chegou 11 de março. A tragédia que se abateu sobre o País do Sol Nascente precisava de alguém para registrar os fatos e mostrá-los aos brasileiros. E o senhor lá, enfrentando frio, medo, sono, e ainda teve humor para dizer que estava desabrigado, junto aos companheiros de equipe. Quando o vi dizendo isso no Bom Dia Brasil de hoje, voltei a ser aquela menina sonhadora de 13 anos, que se tornou jornalista, radialista, pesquisadora e que luta para ser professora universitária, acreditando no Jornalismo como prestador de serviços e não um mero produto de mercado. Para passar esses valores às próximas gerações.
Que Deus o abençôe e o proteja dessas desventuras para que continues servindo de exemplo para novas gerações de jornalistas diplomados (como nós) que fizeram juramentos respectivos no Rio Grande do Sul e em Pernambuco e que continuemos de consciência tranquila, por termos cumprido nossa missão.
Muito obrigada por despertar e reavivar esses valores jornalísticos em mim.
Atenciosamente,
Taís Paranhos - Jornalista Profissional
(Twitter: @tparanhos)
Ps: Querida Karina, quando a situação normalizar aí, disponibiliza esse texto pra ele. Se eu já o admirava, hoje passei a respeitá-lo ainda mais. Obrigada.
T.P.