Projeto Guararapes, o antigo e o novo em debate
*Ricardo Andrade
A Prefeitura do Recife tenta emplacar um projeto de requalificação do centro do Recife, sobretudo no bairro de Santo Antônio, cedendo por 30 anos à iniciativa privada, a concessão e o direto de uso. O abandono e a degradação desse espaço, convive à décadas, afastando pessoas e o próprio investimento. Não fosse o Porto Digital, que completou 25 anos, a região estaria ainda mais abandonada. Mesmo após a experiência exitosa do Recentro(Gabinete do centro), que obteve frutos, mas não foi nem será capaz de solucionar os problemas estruturais da região, a Prefeitura tenta através do PL, intitulado de Projeto Guararapes, desencadear uma nova lógica de desenvolvimento pra uma região, que é área de preservação histórica e cultural.
Os problemas do patrimônio, mobilidade, transporte e trânsito, habitação, segurança pública etc aliados à destinação e o apelo turístico dessa área, suscitam um tratamento complexo, porém intersetorial, transversal, no campo das políticas públicas, que não podem ser tratadas com uma solução mágica, capaz de ser solucionado, unicamente por medidas paliativas e/ou compensatórias. Essa medida tem um forte teor, de recorte pós-neoliberal, pois a questão não é apenas, privatizar ou não privatizar, mas a concepção e implementação desse projeto, aparentemente com um viés messiânico pro local, como se o "privado" fosse resolver todos os problemas.
De repente, se privatiza tudo, a memória, a identidade, o pertencimento. A especulação e o forte lobby imobiliário adora esse tipo de ação do poder público. Tenho muito receio de soluções vinda de cima pra baixo, prontas e acabadas. Vamos ao debate na esfera pública, que possa encampar, não apenas os técnicos da academia
(arquitetos/urbanistas, historiadores, antropólogos, engenheiros de trânsito etc), mas os vários atores da sociedade civil.
*Professor, Históriador e Mestre em Gestão Pública(FUNDAJ)