quarta-feira, 30 de julho de 2025

Mulheres na liderança: avanço tímido e desafios persistentes no Brasil


Apesar dos avanços globais rumo à equidade de gênero, a presença feminina em cargos de alta liderança nas empresas brasileiras ainda é marcada por obstáculos históricos e estruturais. Segundo o relatório Women in Business 2024, da Grant Thornton International, 33,5% dos cargos de gestão em empresas de médio porte no mundo são ocupados por mulheres — uma alta de 1,1 ponto percentual em relação ao ano anterior. Embora esse seja o maior índice já registrado, a representatividade ainda é modesta: apenas uma em cada três posições de liderança é ocupada por uma mulher.

No Brasil, o cenário é ainda mais desafiador. De acordo com a pesquisa Panorama Mulheres 2025, do Instituto Talenses Group em parceria com o Insper, das 310 empresas analisadas, apenas 17,4% das presidências formais são lideradas por mulheres. O número revela uma estagnação preocupante e reforça o quanto a igualdade de gênero ainda está longe de se concretizar no topo das organizações.

Especialistas apontam que os entraves vão além dos números. Luciana Almeida, consultora da TGI e especialista em liderança empresarial, afirma que "as mulheres foram historicamente condicionadas a priorizar a vida doméstica e o cuidado familiar, em detrimento de suas ambições profissionais" — um padrão social que continua influenciando a forma como meninas enxergam seu papel na sociedade. Já na vida adulta, competências femininas seguem sendo colocadas em xeque, seja por questões como a maternidade ou pela falsa percepção de menor preparo técnico.

Apesar de apresentarem altos níveis de formação acadêmica, mulheres ainda enfrentam menor investimento em capacitação e têm acesso limitado a oportunidades de crescimento. Quando chegam a cargos estratégicos, muitas vezes o caminho é paralelo, como o empreendedorismo — alternativa que oferece flexibilidade, mas impõe barreiras como o acesso restrito ao crédito.

O aspecto emocional também pesa: a chamada "síndrome da impostora" faz com que muitas profissionais duvidem de suas próprias capacidades, mesmo quando plenamente qualificadas. Para Luciana, superar esses obstáculos é fundamental não apenas por justiça, mas como estratégia de negócio. "Lideranças femininas fomentam culturas mais inclusivas, promovem equilíbrio emocional nas equipes e estimulam a inovação", afirma.

Ela defende que a equidade de gênero nas empresas deve ser tratada como uma meta estratégica, com ações concretas como programas de mentoria, políticas afirmativas, transparência nos critérios de promoção, licença parental igualitária e apoio à parentalidade — como a oferta de creches. Sem isso, o avanço continuará lento, e a liderança feminina permanecerá sendo exceção em vez de regra.