domingo, 7 de dezembro de 2025
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#SendoProsperidade com Mariângela Borba
Anestesiados Pela Mediocridade: O Choque da Objetificação e o Alerta Permanente da Mulher
Por Mariângela Borba
Olá você, leitor do #SendoProsperidade, tudo bem?
Começo este artigo afirmando algo incômodo: não deveríamos estar tão anestesiados assim — para não dizer acostumados — a conviver com a mediocridade humana. A prova mais recente disso foi o caso de Taynara, que chocou o país: uma mulher atropelada intencionalmente e arrastada por mais de um quilômetro, tendo as duas pernas amputadas.
Nós olhamos, ficamos estarrecidos por alguns minutos… e seguimos o dia.
Como se aquilo não tivesse acontecido com uma mulher.
Não se trata de discurso vazio, mas de um alerta que nós, mulheres, conhecemos bem: vivemos com o corpo e a mente em estado permanente de vigilância diante dos homens. Apertar as chaves na mão. Caminhar mais rápido. Calcular rotas, horários, iluminação. Pensar se vestir a roupa X ou Y aumenta o risco. Escolher quando e com quem estar.
Tudo isso para sobreviver em um país que ainda não aprendeu a nos proteger.
E o que aconteceu com Taynara não começou na Marginal Tietê.
Começou nas piadas que ninguém confronta.
Nos risos cúmplices.
No “ela exagerou, não foi tão grave assim”.
Começou no homem que se sente dono da rua, do carro, da vontade do outro — do mundo.
Quando uma mulher é tratada como objeto, algo se perde profundamente naquele alguém. Estou falando de sanidade mental mesmo. Objetificar é desumanizar; é retirar do outro a categoria de “humano”. É preciso um distanciamento moral para que alguém enxergue a outra pessoa não como coisa, mas como sujeito.
Quem objetifica vive centrado em si mesmo: os outros só existem em função dos seus desejos.
Esse comportamento encontra raízes em inseguranças, na repetição de padrões de dominação, e em estruturas sociais que historicamente permitem — e em muitos casos, premiam — a objetificação de mulheres.
Ou seja, a objetificação não é apenas um problema para quem sofre; é um sintoma grave na moralidade de quem a pratica.
A relação entre feminicídio e saúde mental é profunda. A violência — física, psicológica e simbólica — produz marcas duradouras:
· Transtornos mentais: mulheres que sofrem violência têm maior risco de desenvolver ansiedade, depressão e estresse crônico. A OMS indica que mulheres têm duas vezes mais chance de desenvolver depressão do que homens.
· Isolamento e medo: manipulação emocional, humilhações e ameaças criam um estado de alerta contínuo e vínculos fragilizados.
· Dificuldade de pedir ajuda: o impacto psíquico muitas vezes impede a vítima de romper o ciclo.
Aqui no Recife, na última semana, outro caso brutal: mãe e quatro filhos morreram carbonizados, crime atribuído ao ex-companheiro que ateou fogo na casa. A polícia ainda investiga.
Não basta o homem se indignar.
Não basta compartilhar o vídeo com raiva.
Se nada muda no comportamento, no círculo de amigos, no jeito de olhar e falar com mulheres, nada muda de verdade.
Ser homem exige coragem real: a de rever atitudes, quebrar silêncios, enfrentar outros homens e compreender que a violência contra mulheres não é “problema delas”, mas de todos nós.
Histórias como essas não podem virar costume, anestesia ou estatística.
Um país que escolhe proteger suas mulheres reencontra seu rumo moral.
Que possamos, coletivamente, voltar a sentir, cuidar, enxergar.
E que nenhuma de nós precise ter medo de existir.
Mariângela Borba é jornalista diplomada, professora, revisora credenciada e Social Media Expert. Atua como produtora cultural com forte presença na cena pernambucana, tendo passado por conselhos culturais e órgãos públicos como a Secretaria Executiva do MinC (Regional Nordeste) e a Secretaria de Imprensa de Paulista (PE). Atualmente, dedica-se aos estudos da Psicanálise, incorporando uma perspectiva analítica à sua prática. É membro da UBE e da AIP, honrando um legado familiar ligado à fundação desta última.