quarta-feira, 29 de maio de 2019

#MinhaPesquisaMinhaBalbúrdia [2]

Depoimento de Alexandre Machado Marques, doutorando em Sociologia pela UFPE e mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local pela UFRPE:



RESUMO BIOGRÁFICO:

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco - PPGS/UFPE. Mestre em Desenvolvimento Rural pelo Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local da Universidade Federal Rural de Pernambuco - POSMEX/UFRPE. Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. Possui experiência nas áreas de sociologia rural, cooperativismo e globalização da agricultura, tendo atuado principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento rural, territorialidades, dinâmica e diversidade da agricultura familiar, mercados agroalimentares, cooperativismo e associativismo, exclusão social, agroecologia e arranjos produtivos locais. Membro colaborador do grupo de pesquisa "Cooperativismo e dinâmicas territoriais", ligado ao Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco - DE/UFRPE. Na área de ensino, tem experiência em nível superior no Instituto Brasileiro de Gestão em Marketing - IBGM, ministrando cadeiras de Didática e Política e Organização do Ensino. 

RESUMO DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO:

Esse trabalho analisa o caráter excludente das transformações econômicas que conduziram à consolidação do polo frutícola na região do Vale do São Francisco, dando particular destaque à distinção entre a noção de “polo produtivo dinâmico” da ideia de arranjos produtivos locais (APLs) para a explicação do funcionamento da complexa cadeia produtiva instalada na região. Como foram sedimentadas as bases econômicas para consolidação do polo frutícola do Vale do São Francisco? Como os atores sociais, empresas e organizações atuantes no Vale do São Francisco se inseriram na dinâmica produtiva local? O dinamismo produtivo e comercial do Vale do São Francisco pode ser identificado como um APL? Para responder a essas questões, foram entrevistados, em setembro de 2015, produtores e gestores de negócios no campo da fruticultura e técnicos de institutos de pesquisa da região. Não há evidências de quaisquer tipos de vínculos e ou parcerias entre empresas e organizações no sentido de desenvolver um trabalho cooperativo entre os diversos segmentos, como também não foram identificadas ações capazes de promover a inclusão de todos os segmentos de produtores no processo produtivo. Prevalece o individualismo e o isolamento entre os diversos atores, pondo em xeque a ideia que identifica a fruticultura da região como um arranjo produtivo local. A importância deste trabalho está em aprofundar as discussões sobre APL no contexto da complexa dinâmica produtiva de região frutícola voltada à exportação, identificando os limites dessa abordagem. 

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS E SIMPLÓRIAS SOBRE O PROJETO DE DOUTORADO EM CURSO:

O foco da pesquisa de doutorado está relacionado à adoção de dispositivos de qualidade (certificações e selos orgânicos, mais especificamente) como meio estratégico de imersão de pequenos produtores agrícolas no mercado frutícola do Vale do São Francisco. O estudo de caso analisará as dinâmicas produtivas e comerciais do Assentamento Mandacaru de Agricultura Familiar, situado na cidade de Petrolina/PE. Entre algumas das suposições iniciais da pesquisa, acredita-se que o uso daqueles dispositivos de qualidade, mesmo que sejam originalmente atributos técnicos de natureza convencional, alargam as possibilidades de inserção no mercado local por parte dos agricultores assentados, especialmente pelo fato dos mesmos estarem cada vez mais sintonizados à crescente demanda por alimentos naturais, orgânicos e agroecológicos a nível global. Esse fenômeno pode ser mais bem compreendido a partir do conceito de "virada de qualidade" dos produtos agroalimentares no mundo. Os escândalos associados à insegurança alimentar e ao descaso ambiental, sobretudo em relação ao uso de fertilizantes a agrotóxicos, têm influenciado sobremaneira as formas contemporâneas de produção, comercialização e consumo de alimentos no mundo. Na contramão do projeto convencional de modernização da agricultura, surgem novos atores, em sua maioria, ligados a movimentos sociais, interessados em conquistar o reconhecimento político-social das suas práticas tradicionais e modos de vida, garantindo, assim, a permanência e a valorização dos seus produtos no mercado alimentar. Nesse quesito, o uso de selos e certificados de qualidade apresenta-se como mecanismos de confiança e garantia de procedência alimentar (orgânica - para o caso dos assentados em questão). Deve-se salientar, contudo, que essas questões não estão apenas relacionadas aos âmbitos ambientais, ecológicos e econômicos, mas, sobretudo, às tendências culturais subjacentes à lógica do mercado contemporâneo. De maneira geral, esses fatores não apenas influenciam as mudanças estratégicas dos pequenos e médios agricultores que adotam os referenciais de qualidade para lograr mais competitividade no mercado, mas o próprio funcionamento do sistema capitalista de produção, visto que os produtos orgânicos estão sendo cada vez mais apropriados pelos "impérios alimentares". Essas campanhas estratégicas podem ser consideradas uma resposta do sistema dominante às novas configurações do mercado, demonstrando seu poder transformativo. Obviamente, a intenção parece a mesma: a garantia da permanência de suas empresas no mercado. Dentro de um escopo teórico mais generalista, isso sugere uma discussão sobre hibridização dos mercados agroalimentares, apontando para a superação da clássica dicotomia entre os sistemas convencionais e sistemas alternativos de produção (mundos aparentemente hostis). 

Alexandre Machado Marques 

Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local POSMEX/UFRPE

Doutorando em Sociologia PPGS/UFPE