Recife, PE – A evolução da crítica teatral em
Pernambuco no século XIX, partindo das primeiras e muitas vezes depreciativas
observações de viajantes europeus até o surgimento de vozes críticas mais
formalizadas na imprensa local, é o foco de uma análise aprofundada. O cenário
artístico e cultural da província foi inicialmente documentado por estrangeiros
que visitavam a região.
Viajantes como o súdito inglês Henry Koster, em 1809, e
James Henderson, em 1821, descreveram o teatro recifense com um tom de
desaprovação, apontando-o como "desastrado" ou de "apresentações
extremamente medíocres". O francês Louis-François de Tollenare também
registrou suas impressões sobre o ambiente teatral local em suas "Notas
Dominicais".
A narrativa muda com o fortalecimento da imprensa local, que
começou a dedicar espaço a análises mais detalhadas sobre os espetáculos e seus
profissionais. A inauguração e o impacto do Teatro de Santa Isabel são
destacados como um ponto de virada, que contribuiu significativamente para o
florescimento dessa nova forma de crítica.
O primeiro crítico a demonstrar atividade mais frequente nos
jornais pernambucanos foi o misterioso "O Klapa", colaborador
do periódico A União. Suas resenhas, que se tornaram um marco, abordavam temas
variados. Entre eles, o desempenho dos atores, o nível artístico das
encenações, críticas ou elogios a empresários e companhias, descrições de
recepções, ironias sobre o comportamento do público, e até mesmo sermões morais
e posicionamentos políticos, caso os enredos das peças fizessem alusão a
questões políticas.
A peça "O Pajem d’Aljubarrota", do autor português
Mendes Leal Júnior, foi a primeira a receber resenhas mais detalhistas na
imprensa pernambucana, gerando inclusive um notável intercâmbio entre "O
Klapa" e o empresário, ator e ensaiador Germano Francisco de Oliveira.
Esse período marca um passo crucial na consolidação da crítica teatral como um
elemento ativo e influente na cena cultural de Pernambuco.
O livro - Essa e outras histórias estão presentes no livro "Ponto de Vista: Crítica e Cena Pernambucana", do pesquisador Leidson Ferraz, que mergulha na fascinante trajetória da crítica teatral no estado, desde suas origens no século XIX até as primeiras cinco décadas do século XX. O projeto contou com o apoio financeiro da Lei Aldir Blanc, por meio do Governo Federal e do Governo do Estado de Pernambuco.