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As Januárias - Foto: Daniella Pontes |
Recife, Pernambuco – Em uma
entrevista exclusiva concedida ao Blog Taís Paranhos, as integrantes do trio As
Januárias – Mayara, Mayra e Sidcléa – abriram o coração para falar sobre a
trajetória da banda que tem revolucionado o cenário do forró, superando
desafios e levando a autêntica cultura nordestina para milhões de pessoas. Com
raízes em Nazaré da Mata (terra das gêmeas Mayara e Mayra) e Camaragibe (onde
Sidcléa nasceu), e atualmente morando em Olinda, as artistas celebraram a força
feminina na música e seus planos futuros.
A história d'As Januárias começou
em 2017, na ETE de Criatividade Musical. A paixão em comum pelo forró,
cultivada em longas viagens embaladas pelos clássicos de Marinês, Luiz Gonzaga,
Anastácia e Flávio José, impulsionou a formação do grupo. O nome, uma homenagem
ao pai de Luiz Gonzaga, Seu Januário, já denota o profundo respeito e admiração
pelas raízes do gênero.
Desafios e Conquistas: A Voz
Feminina no Forró
No início, como em qualquer
jornada, as dificuldades foram maiores. O forró, apesar de sua riqueza, ainda é
um universo predominantemente masculino. "Nós, além de cantoras, somos
instrumentistas também e mulheres que tocam instrumentos são observadas com o
dobro de atenção, e muitas vezes desacreditadas pelo próprio mercado",
revelaram as Januárias.
No entanto, após oito anos de
estrada, elas afirmam ter provado a que vieram. Um desafio persistente,
contudo, é a inclusão em grandes eventos. Segundo o trio, as grades de
programação ainda são majoritariamente masculinas, e a participação feminina
muitas vezes parece ser uma "cota" para evitar questionamentos sobre
a ausência de mulheres.
Apesar dos obstáculos, As
Januárias comemoram o alcance de seu trabalho. "É bom demais ver o
trabalho da gente chegando em tantos lugares. As redes sociais nos permitiram
ser ouvidas por milhões de pessoas no Brasil e no mundo inteiro. E isso nos deixa
muito emocionadas", compartilharam as artistas, visivelmente tocadas pelo
carinho do público.
A Sonoridade e os Momentos
Inesquecíveis
A base instrumental do trio é
composta por violão, zabumba e triângulo. Essa formação surgiu naturalmente,
com Sidcléa no violão, Mayara na zabumba e Mayra no triângulo. Curiosamente, a
ausência da sanfona, um instrumento icônico do forró, foi um diferencial que
chamou a atenção do público. Hoje, a banda conta com uma formação mais completa
para os shows, incluindo bateria, guitarra, baixo e sanfona.
O repertório é vasto e variado,
refletindo as influências das integrantes. Além de grandes nomes do forró como
Marinês, Anastácia, Luiz Gonzaga, Elba e Terezinha do Acordeon, o trio se
inspira em artistas de outros gêneros, como Marisa Monte, Vanessa da Mata,
Pitty e Laura Pausini. A escolha das músicas para os shows é feita com meses de
antecedência, passando por ensaios vocais e acústicos antes de serem
incorporadas pela banda completa.
As três integrantes são compositoras, reunindo-se para criar novas músicas sempre que necessário. "Às vezes a música nasce em uma tarde, às vezes demora um mês inteiro", contam, entre risos. Entre tantos momentos marcantes, o mais emocionante, segundo As Januárias, foi cantar no Galo da Madrugada, em 2025. O convite de Nena Queiroga para se apresentarem em seu trio no Carnaval foi "uma das maiores emoções de nossas vidas".
O Futuro do Forró Feminino
As Januárias observam com
otimismo o crescimento da participação feminina no forró, embora reconheçam que
os desafios persistem. "Na década de 50, artistas como Marinês e Anastácia
ouviam nos corredores das rádios pessoas dizendo que forró não era coisa para
mulheres", relatam. Embora a situação tenha melhorado, elas entendem que a
mudança social é gradual, mas se mantêm firmes: "todos os dias a gente vai
escrevendo uma história nova".
Os planos para o futuro são
ambiciosos: continuar trabalhando, levando a música para "lugares antes
inalcançáveis", compondo e gravando. Elas sonham em colaborar com artistas
que admiram e acabaram de lançar o single junino "Laçou meu Coração",
um forró de vaquejada que narra a história de uma jovem do litoral que se
apaixona por um vaqueiro do Sertão, uma alusão à paixão do trio por Exu-PE. O
grande sonho é alcançar o máximo de pessoas possível.
Vamos conhecer mais sobre As
Januárias?
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As Januárias na Sanfonada na Serra, junto com a sanfoneira Karol Maciel Foto: Produção Januárias |
Como surgiu a ideia de formar a banda e por que escolheram o nome "As Januárias"?
A banda surgiu em 2017 na ETE de Criatividade Musical. Nós 3 viajávamos bastante e as viagens eram sempre ao som de Marinês, Luiz Gonzaga, Anastácia, Flávio José e daí surgiu a vontade de fazer uma banda de forró. O nome é uma homenagem ao pai de Luiz Gonzaga (Seu Januário).
Quais foram os maiores
desafios ao iniciar uma carreira no forró sendo um grupo exclusivamente
feminino?
No começo tudo é sempre mais
difícil e o forró, como diversos outros estilos musicais, é um universo bem
masculino ainda. Nós, além de cantoras, somos instrumentistas também e mulheres
que tocam instrumentos são observadas com o dobro de atenção, e muitas vezes
desacreditadas pelo próprio mercado. Depois de 8 anos de estrada, acredito que
a gente já conseguiu mostrar à que veio. Mas, um desafio persistente é compor
as grades dos grandes eventos (especialmente fora do período de comemorações do
dia da mulher). As grades ainda são majoritariamente masculinas e as mulheres
entram na programação como uma espécie de cota, claramente pra evitar
questionamentos sobre a ausência de participação feminina no evento.
Vocês começaram viralizando
nas redes sociais. Como foi a sensação de ver o trabalho de vocês alcançar
milhões de visualizações?
É bom
demais ver o trabalho da gente chegando em tantos lugares. As redes sociais nos
permitiram ser ouvidas por milhões de pessoas
no Brasil e no mundo inteiro. E isso nos deixa muito emocionadas.
O grupo tem uma proposta
instrumental diferente, sem sanfona. Como chegaram a essa sonoridade única?
A base da nossa formação instrumental é violão, zabumba e triângulo. Essa formação surgiu muito
naturalmente, já que o violão já era o instrumento de origem de Sidcléa, e Mayara e Mayra aprenderam zabumba e triângulo (respectivamente) pra compor esse projeto. Acreditamos que
a ausência da sanfona tenha sido, inclusive, uma das coisas que chamaram
atenção das pessoas pra gente.
Quem são as maiores
influências musicais de vocês dentro e fora do forró?
São muitas, e bem variadas. No forró
admiramos nomes como Marinês, Anastácia, Luiz Gonzaga, Elba,
Terezinha do Acordeon, Flávio José, Santana... Gostamos muito de forró das antigas também. E tudo isso
entra no nosso repertório de shows.
Fora do forró ouvimos de um tudo: Marisa Monte,
Vanessa da Mata, Pitty, Mariene de Castro, até Laura
Pausini.rs. E tudo que a gente ouve influencia na música que fazemos.
Como é a rotina de
preparação para os shows e a criação de novas músicas?
Escolhemos o nosso repertório
com meses de antecedência, pra podermos testar o que funciona ou não nas nossas
vozes e no nosso estilo. Então, fazemos primeiro ensaios vocais, mais
acústicos. Depois de "testar" o repertório só nós 3, passamos pra nossa banda, que hoje conta com
bateria, guitarra, baixo e a sanfona. E começamos os ensaios com banda
completa. É esse show que apresentamos ao público no período junino.
"Eu Sou Janu" e
"Ela no Forró" são faixas autorais. Como é o processo de composição
do grupo?
Sobre a composição de novas músicas, nós 3 somos compositoras. Sempre que precisamos lançar algo novo, nos reunimos, geralmente já com um tema na cabeça pra
facilitar o processo de composição. As vezes a
música nasce em uma tarde, as vezes demora um
mês inteiro. (Risos)
Qual foi o momento mais
marcante da carreira de vocês até agora?
Tivemos muitos momentos
lindos, com públicos maravilhosos. Mas, o momento
mais marcante até hoje foi cantar no Galo da
Madrugada. Fomos convidadas por Nena Queiroga pra cantar junto com ela em seu
trio no Carnaval de 2025, e foi uma das maiores emoções de nossas vidas.
Como vocês enxergam o
protagonismo feminino no forró e o impacto disso na cena musical?
A cada dia que passa vemos
novas artistas e grupos de mulheres atuando no forró. Também observamos alguns
grupos desistindo. Sabemos que muita coisa mudou nesse cenário. Na década de
50, artistas como Marinês e Anastácia ouviam nos corredores das rádios pessoas
dizendo que forró não era coisa para mulheres, diziam que era um tipo de música
que requeria muito esforço para cantar. Naquela época era muito mais difícil
para elas. Hoje sabemos que os desafios ainda existem, pois a questão parte de
um fenômeno social, algo que demora para mudar. Mas, todos os dias a gente vai
escrevendo uma história nova.
Quais são os
próximos planos e novidades para As Januárias?
O plano é continuar
trabalhando, levando nossa música à lugares antes inalcançáveis. Continuar
compondo, gravando. Queremos gravar com artistas que admiramos. Acabamos de
lançar o nosso single para a temporada junina "Laçou meu coração", um
forró de vaquejada, composição das três Janus. No enredo da música a gente
conta a história de uma jovem do litoral que se apaixonou por um vaqueiro no
Sertão, uma alusão a nossa viagem anual para Exu-PE (meninas que moram na
praia, mas que são apaixonadas pelo Sertão). Nosso sonho é alcançar o máximo de
pessoas possível.
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As Januárias - Foto: Daniella Pontes |