Cordel contou que a música nasceu de forma espontânea,
durante um encontro na casa de João Gomes. O convite para o almoço resultou em
uma sessão musical inesperada. “Quando cheguei lá, tinha um violão. Ele me deu
o violão pra gente tocar. Comecei a tocar e ele falou: ‘Nando, vamos fazer uma
música’. Eu disse: ‘Não, vamos fazer duas’”, relembra.
O objetivo era criar uma canção que resgatasse a tradição
do São João, trazendo uma pegada forte e autêntica. A composição fluiu de
forma natural e, em apenas dez minutos, a música estava pronta. “A ideia
ficou muito bonita e a música é sucesso em todo canto”, comenta Cordel.
Parceria com João Gomes e impacto na música nordestina
Nando Cordel destaca o talento e a maturidade de João
Gomes, apesar de sua juventude. “Ele estava fazendo piseiro, mas tem muito
conhecimento além desse gênero. É um artista completo, que veio com um chip já
lá em cima”, afirma.
O processo de composição da música envolveu um desafio:
inserir todos os estados nordestinos no trecho da letra. “A música estava
redondinha, mas três estados ficaram de fora. Tivemos que fazer um adendo
musical para incluir Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte”, explica.
Para Cordel, "Você Apareceu no São João"
reflete sua visão sobre o São João como uma festa da paz e da união, e
ele sente que a celebração está passando por uma retomada cultural importante.
“O São João havia perdido um pouco da tradição, mas os grandes músicos
começaram a gravar composições que resgatam essa essência, e isso é
fundamental”, pontua.
Novo EP e expectativas para o São João
Nando Cordel está em processo de produção de um EP,
reunindo colaborações com diferentes artistas, como Maneva e Zezé Di
Camargo. O projeto vem sendo impulsionado pelo sucesso da parceria com João
Gomes e pelo desejo de fortalecer a cultura nordestina através da música.
Sobre o impacto imediato da canção, Cordel destaca que "Você
Apareceu no São João" já é um fenômeno nacional, ultrapassando as
fronteiras do Nordeste. “A identificação foi imediata. João tem um volume de
sucesso absurdo, e essa união foi perfeita. Estamos muito felizes”, afirma.
Para definir essa parceria, ele escolhe uma única palavra: amizade.
“Ficamos muito ligados desde que nos conhecemos. Conversamos sempre, trocamos
ideias, e essa conexão se reflete na música. A felicidade desse encontro não é
por acaso”, conclui. Vamos mostrar essa entrevista exclusiva?
Como surgiu a ideia de compor "Você apareceu no São
João"? Foi um processo espontâneo ou algo planejado?
A música que a gente fez, eu e
João Gomes, “Você Apareceu no São João”, não foi planejada. Eu estava
produzindo o disco de Fagner, novo, e João foi algumas vezes lá colocar vozes
no projeto de Fagner. E aí criou-se uma amizade muito grande, muito grande, a
gente se falava todo dia. E um belo dia ele me convidou para ir almoçar na casa
dele. Quando chegou lá, tinha um violão. Ele me deu o violão pra gente tocar.
Eu comecei a tocar. Aí ele falou, Fernando, vamos fazer uma música. Eu disse,
não, vamos fazer duas. E entre essas músicas, a gente tava pensando em colocar
uma música que levasse o São João um pouquinho mais pra tradição. Pra tradição,
né? Porque o São João tava um pouquinho... fora da tradição, assim, tocando
tudo, aí ele vai botar uma música bem tradicional. E aí eu comecei a fazer a
melodia, aí você ia aparecendo só, João. Olha, foi uma música rapidamente, com
10 minutos essa música estava pronta. E a ideia ficou muito bonita e a música é
sucesso em todo canto.
Você e João Gomes representam gerações diferentes da
música nordestina. Como foi essa troca entre vocês durante a criação da
música?
Olha, o João é uma pessoa
extremamente talentosa. Ele estava fazendo piseiro, mas ele tem muita coisa
fora do piseiro. Conhece muita coisa. Veio com esse chip já lá em cima. Então,
quando ele começou a conversar comigo, ele é uma pessoa muito jovem, mas também
madura demais. E eu costumo prestar atenção na juventude. Então presta atenção
e eu vou junto com eles. Estudo muito pra saber que rola fatos e palavras e
gestos, especialmente gírias da música que a gente tem que usar. Então foi
assim, eu fui dizendo uma coisa, eu fui dizendo outra e esse encaixe foi
perfeito. Trazer algo novo, isso tá sempre na minha cabeça.
A canção tem uma pegada junina bem tradicional. Qual foi
o maior desafio para manter essa essência e, ao mesmo tempo, trazer algo
novo?
Eu acho que a música tem que
ser reciclada sempre, sempre, sempre. E o João tem também, natural, essa pré
dele. Quando a gente começou a compor, eu senti que a gente poderia fazer uma
coisa muito forte, tradicional, como eu já falei, mas com a pegada que mexesse
com todo mundo, tanto o pessoal mais tradicional e a juventude. A dificuldade
dessa música foi quando chegou numa parte que a gente começou a colocar os
estados, Ceará, Pernambuco, sei o quê, e, de fato, ficaram três de fora. A
música estava toda redondinha e a gente teve que fazer um adendo musical pra
botar os outros estados, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte. Essa foi a
parte mais difícil, mas não tão difícil assim.
Você mencionou que a parceria começou em um almoço na
casa de João Gomes. Como foi esse encontro e o que te inspirou na hora?
O João sempre falava com um
amigo meu, “será que o Nando vai almoçar comigo? Será que o Nando vai almoçar
comigo?” E ele me convidava. No dia que ele disse, Nando, vamos almoçar, eu, na
minha cara, digo, opa, vamos embora. E esse encontro foi maravilhoso, porque,
como eu lhe falei, o João é uma pessoa muito doce, muito legal. E eu sinto que
ele tem um carinho muito especial por mim, com muita gente também, mas por mim
ele tá sempre conversando. E na hora que a gente começou a compor, a inspiração
veio assim. Eu precisava colocar uma música forte demais no mercado. E como a
gente tava fazendo ali, e eu tinha vontade de convidar ele pra cantar comigo,
aí eu fui em cima de um galope, foi aí que pintou “Você apareceu no São João” e
aí rolou.
O São João é uma festa muito especial para você. O que essa
música representa dentro da sua trajetória artística?
Com certeza o São João é uma
festa muito especial para a minha vida, especialmente porque eu considero o São
João uma festa da paz. Você vê que é uma alegria total em todo canto, graças a
Deus, sem brigas. É uma coisa fantástica. E nessa trajetória todinha que eu
tenho, eu fiz uma música de São João muito forte lá atrás. Aliás, “Você endoideceu
meu coração”, é isso, e “Água na Boca”, e eu precisava dar essa levantada esse
ano. E aí eu usei o João como um instrumento fantástico para fazer isso.
João Gomes tem um estilo muito próprio dentro do piseiro
e do forró. Como foi adaptar sua composição para encaixar na identidade musical
dele?
Para fazer essa composição, eu
saquei que ele é muito bom de letra e às vezes de melodia, mas não tem uma
melodia variável. E eu sou muito prático em melodia. O que é que eu saquei? Eu
fiz a melodia e joguei o tema. E ele é muito rápido. Ele é muito rápido. Ele já
mandou “Você apareceu no São João”, e agora onde eu posso me encontrar? E eu
disse, meu amor, onde você está? E saiu colocando uma coisa em cima da outra.
Mas sempre com a iniciativa dele puxar os versos. Ele é muito rápido compondo e
fazendo letra. Aliás, a gente só não fez essa música, não. A gente fez outra
música, rapidinho também, que é lindíssima e é outro estilo completamente
diferente. É na Praia de São Jorge, mais ou menos. Eu participo do São João há
muitos anos, graças a Deus. Aliás, participo de tudo. Pelo mundo inteiro, DJ,
fiz um disco de DJ agora maravilhoso, disco de criança. Muita coisa, mas o São
João é muito forte dentro do meu coração.
Você tem uma longa história na música nordestina. Como vê
a evolução do forró e das festas juninas ao longo dos anos?
Eu vejo com muito carinho Essa
nova retomada, porque o São João lá atrás, vamos dizer, uns 10 anos, quando
entrou todo tipo de música, ele deu uma baixada, teve muitas críticas, mas eu
senti que de um ano pra cá, a gente começou a se reunir e fazer o quê? O São
João... voltar a ser o que era. Mesmo tocando algumas músicas que não têm a ver
com o São João, os grandes músicos, os grandes artistas começaram a gravar
agora coisas que têm a ver diretamente com o São João. Para mim, volta com tudo
esse São João e fica assim como era antes.
Além dessa parceria, você está preparando um EP com
participações especiais. Pode adiantar algo sobre esse projeto?
Estou fazendo EP, convidado
pela gravadora. Você tem que fazer, você tem que fazer. E eu comecei a fazer
com carinho e com muita vontade, porque, sabe, não é só o São João que está me
procurando, mas essa juventude inteira está me procurando, e isso é uma coisa
muito linda pra minha vida, né? Ou seja, eu vim lá de trás, compus pra Luiz
Gonzaga, e agora estou compondo pra um monte de gente. E aí a gravadora disse
assim pra mim, vamos fazer um EP. Eu comecei com o João, ele abre o meu EP, aí
já tá quase pronta a segunda música, que é com o Maneva, que eu vou chamar
todos meus amigos de ritmos diferentes, o Maneva já vem, e a terceira gravação
vai ser com Zezé do Camargo, aliás, Zezé do Camargo, Nando Cordel, Zezé do
Camargo, e outros que eu tô aqui pensando em fazer. Esse eu posso adiantar até
aí, tá bom?
O público nordestino tem uma conexão forte com suas
músicas. Como tem sido a recepção de "Você apareceu no São João" até
agora?
Olha, a música “Você Apareceu no São João” não tem nem um
mês direito ainda, ela tá estourada em todo o Brasil, não é só no Nordeste. E a
identificação é de imediato, porque pega meu cheiro, né, de tanto tempo. Pega
meu cheiro, mas esse volume de sucesso que tem João Gomes. E a gente tá muito
feliz por isso, muito feliz mesmo.
Se pudesse definir
essa parceria com João Gomes em uma palavra, qual seria e por quê?
É uma palavra pra definir essa... Essa parceria com o
João Gomes, eu com certeza, eu diria a palavra amizade, mas uma amizade com
tanta intensidade que a gente se conheceu e ficamos ligado demais, ligado toda
semana, toda hora, todo minuto, ele liga pra mim, eu ligo pra ele e a gente
conversa e bate papo e ele fala de mim, agora fez uma declaração num dos shows
dele que eu chorei de tanta beleza que ele falou de mim. Então é uma coisa
muito séria. Não é por acaso a felicidade desse encontro, não é por acaso. A
gente sabe que tem o dedinho do Grande Mestre. Então, muita luz e valeu!
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