segunda-feira, 29 de agosto de 2016

"Hoje eu só temo a morte da Democracia"

Em discurso no plenário do Senado diante dos 81 senadores, a presidente afastada,Dilma Rousseff (PT), optou por um tom político em sua defesa final no processo de impeachment. Ela negou as acusações de crime de responsabilide e sustentou o discurso de golpe.
"Estamos a um passo da consumação de uma grave ruptura constitucional. Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado", afirmou. A petista também destacou que é importante estar "do lado certo da História mesmo que o chão ameace nos engolir de novo", em uma referência à ditadura militar. "Viola-se a democracia e pune-se uma inocente", disse Dilma.
"Sei que mais uma vez na vida serei julgada e por ter minha consciência absolutamente tranquila em relação ao que fiz no exercício da Presidência da República, que venho pessoalmente para olhar nos olhos de vossas excelências e dizer com a serenidade de quem nada tem a esconder que não cometi nenhum crime de responsabilidade."
A presidente afastada se emocionou ao lembrar o câncer linfático que enfrentou em 2009. "Por duas vezes vi de perto a face da morte: quando fui torturada por dias seguidos, submetida a sevícias que nos fazem duvidar da humanidade e do próprio sentido da vida; e quando uma doença grave e extremamente dolorosa poderia ter abreviado minha existência. Hoje eu só temo a morte da democracia", afirmou.
Dilma sustentou que é alvo de uma elite conservadora que não aceitou o resultados das urnas em 2014, que chamou de "o governo de uma mulher que ousou ganhar duas eleições presidenciais consecutivas". A presidente afastada também agradeceu às mulheres, "parceiras incansáveis" na "batalha onde a misoginia e o preconceito mostraram suas garras".
Ao final do discurso, Dilma pediu que os senadores votassem contra seu impeachment. "Faço um apelo final a todos os senadores: não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira. Peço: votem contra o impeachment. Votem pela democracia".
"Não posso deixar de sentir na boca, novamente, o gosto áspero e amargo da injustiça e do arbítrio. E por isso, como no passado, resisto", disse a presidente.
Dilma, com voz embargada, lembrou que esteve por duas vezes frente à frente com a morte, durante a sua prisão e tortura na ditadura militar e quando enfrentou um câncer, pouco antes de ser eleita presidente da República pela primeira vez.
"As acusações dirigidas contra mim são injustas e descabidas. Cassar em definitivo meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política. Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus", afirmou.
Ainda que tenha feito pausas quando a voz falhava, Dilma aproveitou a ocasião para classificar como "golpe" o processo em curso no Senado caso seja condenada, argumentando que seus adversários lançam mão de pretextos para realizar uma "grave ruptura democrática", um "verdadeiro golpe de Estado".
"Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder... Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça", afirmou.
"Não é legítimo, como querem meus acusadores, afastar o chefe de Estado e de governo por não concordarem com o conjunto da obra. Quem afasta o presidente pelo conjunto da obra é o povo, e só o povo, pelas eleições." 

Com informações do The Huffington Post e da Agência Reuters