quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Mais empregos. Mas poucos deles têm carteira assinada

O desemprego caiu para a menor taxa do ano, 12,4%, mas a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) sofreu um duro golpe: apenas um terço dos trabalhadores ocupados atualmente têm a carteira assinada, a menor quantidade desde 2012. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a única razão para os índices de desocupação terem apresentado melhora em 2017, portanto, foi a disparada da informalidade.

Conforme a pesquisa, entre julho e setembro de 2017 o número de trabalhadores por conta própria chegou a 22,9 milhões de pessoas, alta de 1,8% em relação ao trimestre anterior e de 4,8% em comparação com o mesmo período de 2016. A quantidade de funcionários com carteira assinada, por sua vez, caiu a 33,3 milhões, 2,4% a menos do que no ano anterior. Em suma, 810 mil profissionais perderam seus empregos ou migraram para empregos informais.

“A CLT significa descanso semanal, seguro-desemprego, recolher INSS, plano de saúde, férias e uma série de benefícios diretos”, pontua o coordenador de Trabalho e Rendimento do INGE, Cimar Azeredo, que classifica o cenário atual como preocupante. “No médio e longo prazo, pela falta da de estabilidade de quem vive na informalidade, as pessoas vão se controlar mais na hora de gastar e isso pode dar uma congelada na economia”, explica.

Segundo Azeredo, o enfraquecimento da carteira assinada terá impacto direto nas vendas de fim de ano, pois a maioria dos trabalhadores informais não recebe 13ª ou dinheiro pelas férias. Assim, os gastos com presentes e alimentação no Natal e Ano-Novo deve cair e isso pode desencadear um efeito dominó. Se a demanda diminuir, a oferta de vagas temporárias no comércio, por exemplo, pode baixar na mesma proporção.

FoodTruck - Zélia Santos, 54 anos, tomou a decisão de abrir um trailer de comida em frente a uma universidade de Águas Claras há três anos. quando seu marido, Manoel Francisco Oliveira, 52, perdeu o emprego como pedreiro. “Ele vendeu o carro e nós investimos em equipamento. Tem dia que está bom, tem dia que não, mas a gente quer continuar fazendo isso e crescer”, garante a, agora, empresária. “Para quem está desempregado, é o único caminho”, resigna-se.

Situação semelhante viveu a ex-supervisora de uma lavanderia, Elenice Felipe Santiago, 40 anos. Há quase três anos ela perdeu o emprego e pediu ajuda ao marido para montar um negócio de marmitas e espetinhos em Águas Claras, onde também reside. “Eu forneço marmita em alguns shoppings e fazemos encomendas por Whatsapp. Atendemos até um hotel por aqui”, orgulha-se.

Ela reclama que, desde a abertura do negócio, a concorrência aumentou bastante, especialmente no último ano. “Minhas vizinhas todas agora vendem comida em ponto de ônibus, semáforo. Tem até dono de restaurante nisso.”


Com informações do Jornal de Brasília e do Portal R7