domingo, 28 de setembro de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba


 
Boy sober: Autocuidado ou reação às estruturas? O que o motiva?

*por Mariângela Borba

Olá, você leitor do #SendoProsperidade, tudo bem? Será que você já ouviu falar num termo muito difundido hoje em dia chamado “boy sober” (“sóbria de garotos”) ou “celibato feminino”? O termo se relaciona com a sobriedade de álcool e outras drogas, como se estar num relacionamento com um homem tivesse sido prejudicial em algum momento e elas precisassem se afastar. Confesso que, quando ouvi o termo pela primeira vez, o que me veio à cabeça foi a música do Jasper Bickers, bem dançante, mas não, não é. Está relacionado ao heteropessimismo (*heteropessimismo*: https://www.taisparanhos.com.br/2025/08/sendoprosperidade-com-mariangela-borba_17.html?m=1), que já escrevi aqui na coluna e também se assemelha a ele, mas não é a mesma coisa precisamente. Logo, eles estão relacionados e o boy sober é um dos comportamentos que podem surgir entre as mulheres após a desilusão descrita pelo heteropessimismo. O heteropessimismo é a desilusão de mulheres com relacionamentos, enquanto o boy sober é a prática de um “detox” de homens, ou seja, um período de abstinência de relações. Em outras palavras, o heteropessimismo é a crença e a sensação de desilusão generalizada, enquanto o boy sober é uma ação concreta, uma estratégia de autocuidado e autonomia que pode ser tomada por mulheres que se sentem afetadas por essa desilusão. É como se um fosse mais um sentimento ou uma crença generalizada dessa desilusão, enquanto o outro já é uma resposta a esse sentimento, uma ação proativa para se proteger e buscar autonomia.

Mulheres alegam que esse movimento boy sober é sobre viver solteiras e sem boy. E muitas delas garantem que, assim, vivem muito melhor, pois não precisam dar satisfação a ninguém. Deletam aplicativos de namoro, cancelam encontros e investem o tempo só para elas sem trocar energias, até o ponto de se realinharem e se entenderem melhor como mulher, recalibrando suas vidas. Mas isso não surgiu e nem surge do nada, mulheres que agem assim é, simplesmente, porque muitas estão exaustas de investir e levar ghosting, ou viver sem uma definição de relacionamentos, ter encontros vazios ou relacionamentos tóxicos. De acordo com a escritora Rê Choairy, “com o boy sober as mulheres conseguem resgatar os seus valores fora da lógica da presença masculina, redefinindo o piloto automático natural que é ela própria.”

Já para a psiquiatra Jessica Martani e a psicóloga Ediane Ribeiro, boa parte destas frustrações não estão relacionadas a relacionamentos afetivos, mas a muitas “faltas”: faltas de diálogo, interesse, reciprocidade, disponibilidade afetiva dos homens, apoio emocional, incentivo profissional e fidelidade, além, é claro, do “jogo emocional”, sofrido por muitas. Tudo tem que ser um jogo recíproco e não unilateral. Tanto é que está na oração de São Francisco de Assis: “é dando que se recebe”.
Martani atesta que a decisão de se afastar das pessoas é ir em busca de um tempo para se conhecerem melhor e é comum entre as mulheres. “Para refletir melhor, conseguir sedimentar os acontecimentos e se fortalecer para, posteriormente, retomar esse tipo de relação”.

Já Ribeiro revela que “a proposta é apostar num redirecionamento de energia para o próprio bem-estar”. E defende este “equilíbrio” como palavra de ordem, seja para quem esteja numa relação ou não. Um outro ponto defendido pela psicóloga é que a sociedade leva muitas pessoas “a atrelar a felicidade, realização e valor próprio a estar num relacionamento sexoafetivo” e que, apesar do machismo e do patriarcado, esse “sistema opressivo”, no geral, prejudicando homens e mulheres. E pontua: “o que acho perigoso no discurso desse movimento, que prega um isolamento relacional, é que se coloque homens no lugar de vilões, mulheres no lugar de vítimas cansadas e que isso leve a uma falsa visão de mudança, em que as próprias mulheres não percebam como seus afetos, nesse contexto, continuam sendo dirigidos pelas estruturas machistas, uma vez que as atitudes femininas serão colocadas como uma reação aos comportamentos masculinos”. Para ela, a solução não deve ser procurar fazer um detox de homens, mas repensar a forma como nos conectamos para termos relações mais saudáveis.

Sabe, ao meu ver, se maturidade viesse de acordo com a idades RG, o reality “Casamento às Cegas 50+” , disponível na Netflix, já na quinta temporada, seria um tratado de sabedoria amorosa. Ele até que se vendia como celebração da experiência, do charme grisalho, da serenidade conquistada ao longo da vida. Mas, ao invés disso, ele entregou um festival de insegurança, egos inflados, carência explícita e terminou virando uma gincana de vaidade e carência. Resultado? Decepção, uma vez que a expectativa de maturidade e sabedoria não se concretizaram.

*Mariângela Borba é comunicadora multifacetada, jornalista diplomada, revisora credenciada e uma social media expert. Produtora Cultural com presença nos Conselhos municipais e nacionais de cultura, além de expertise em Cultura Pernambucana. Teve passagem pela secretaria Executiva do MinC, Regional Nordeste, e também Secretaria de Imprensa de Paulista (PE), além de ter circulação pelas conceituadas editorias de jornais e rádios de Pernambuco. Premiada e com produção bibliográfica na área de cultura. Membro da AIP, com um com um bisavô fundador que também era jornalista.