terça-feira, 7 de agosto de 2012

Fornecedora da Samsung é acusada de explorar trabalho infantil na China


Crianças e adolescentes abaixo de 16 anos de idade são frequentemente contratados por uma empresa parceira da Samsung na China para trabalhar excessivas horas e em condições abusivas, informa nesta sexta-feira o relatório da China Labor Watch, grupo de direitos trabalhistas do país.
A companhia, que se chama HEG Electronics e está localizada na cidade de Cantão (Guangdong), fabrica produtos como celulares, DVDs e MP3s. Durante os meses de junho e julho, a China Labor Watch encontrou lá sete funcionários abaixo dos 16 anos de idade no departamento de embalagem. “O número preciso de crianças que trabalham na fábrica é desconhecido, porque nossos investigadores tiveram contato limitado com os empregados de outros departamentos”, diz o relatório. “Mas a empresa violou claramente as leis chinesas.”
Segundo estudo da China Labor Watch, o quadro de funcionário da HEG é composto em sua maioria por estudantes durante as férias de inverno e verão — 80% do total de funcionários. Os integrantes do grupo suspeitam que haja entre 50 e 100 crianças e adolescentes que trabalham sob as mesmas “duras condições” a que são submetidos os adultos. O salário delas, no entanto, corresponde a 70% do valor pago aos empregados formais.
O relatório conta que, durante o tempo em que os investigadores estiveram na fábrica, foi exigido das crianças o cumprimento de tarefas que resultaram em ferimentos. Uma foto contida no estudo (abaixo) mostra um trabalhador ferido no joelho e no cotovelo (sem a indicação da idade). O texto explica que os funcionários são expostos principalmente ao álcool etílico e podem trocar de luvas apenas uma vez ao dia.
Estudantes de uma escola disseram ao China Labor Watch que mais de 10 menores de idade foram recebidas pela fábrica apenas em 27 de abril de 2012. O grupo acredita que a contratação da força de trabalho infantil ocorra por causa da frouxa supervisão interna na HEG, que “nunca checa a identidade dos estudantes”. Outra razão dada pelo estudo é a má-fé das escolas, que possivelmente fornecem identidades falsas para os menores ou os misturam a outros estudantes na condição de estagiários — “um canal ilegal que permitiria empregar crianças sob um pretexto razoável”.
A China Labor diz que, mesmo depois de a HEG descobrir a existência de crianças na fábrica, nada foi feito para impedir essa situação. Pelo contrário, as crianças foram transferidas para dormitórios fora da fábrica para que não fossem notadas.
A Samsung, em resposta ao relatório, disse ter conduzido duas inspeções na fábrica neste ano e não ter encontrado irregularidades. “Considerando o relatório, vamos realizar outra pesquisa de campo o mais cedo possível para garantir que as nossas inspeções anteriores se basearam em informações completas e tomar medidas para corrigir quaisquer problemas que apareçam”, disse a porta-voz da Samsung Nam Ki Yung.

Entre os menores de idade identificados pelo China Labor Watchestá uma garota de 14 anos, chamada no relatório pelo pseudônimo de Wu Xiaofang. Ela contou aos investigadores que caiu numa escada no caminho do seu dormitório para a fábrica e, por isso, não podia trabalhar. “Entretanto, a companhia não só se recusou a levá-la ao hospital como rejeitou o seu pedido de afastamento por doença”, diz o estudo. Também deduziu seis dias de seu salário pelo afastamento que não ocorreu. Em outra ocasião, Wu chegou atrasada porque estava doente e pediu para ir embora, o que não foi aprovado pelo gerente. Mas ela não se sentia bem e decidiu voltar para o dormitório. A empresa deduziu três dias de seu salário por ausência no trabalho.
A garota foi demitida há cerca de dois meses. Chorando, diz o relatório, ela conta que foi dispensada porque a companhia informou que haveria uma auditoria na fábrica que poderia resultar em multa para empresa, caso as falsas identidades fosse descobertas.
Ao contratar ascrianças e adolescentes, a HEG não assina nenhum contrato de trabalho com as escolas, revela ainda o estudo. Os professores são os responsáveis por intermediar a relação dos alunos com a fábrica, o que inclui o pagamento dos salários — após os dois ou três meses de duração do estágio. Há estudantes que recebem US$ 1,27 por hora trabalhada. A carga horária chega a ser de 11 horas por dia, 6 dias por semana, durante 26 a 28 dias no mês. Alguns têm de trabalhar 11 horas em pé.
O caso não foi reportado a agências governamentais, segundo informou o China Labor Watch à Bloomberg. “O que queremos acima de tudo é que as crianças voltem para as escolas”, disse a diretora do grupo, Li Qiang, à agência por telefone.
A China Labor Watch já publicou relatórios sobre explosões em fábricas no país em 2010 e acusou a Foxconn, que monta aparelhos da Apple, de explorar trabalho escravo, após uma onda de suicídios de empregados. A HEG também trabalha para Motorola e LG, segundo informações coletadas no site da companhia pelo grupo de direitos trabalhistas.
Estadão