quinta-feira, 21 de março de 2024

Entenda a Estenose Vaginal

 
A estenose vaginal é uma condição médica caracterizada pelo estreitamento anormal da vagina, resultando em complicações na função sexual e reprodutiva. Pode afetar mulheres de diversas idades e origens, sendo causada por uma variedade de fatores, desde traumas físicos, cirurgias ginecológicas, lesões durante o parto ou infecções. Ela também pode se desenvolver devido às altas doses de radiação na área pélvica, consequência de algum tipo de tratamento oncológico para cânceres ginecológicos.

Os sintomas da estenose podem variar desde dor durante o sexo (dispareunia) até dificuldades na penetração e desconforto constante. O diagnóstico geralmente envolve exames físicos, histórico médico e, em alguns casos, procedimentos de imagem. “Muitas pacientes com câncer de colo de útero acabam relatando desinteresse sexual após o diagnóstico e durante tratamento. Esse cenário pode causar vulnerabilidade emocional, por isso, é importante diagnosticar se houve desenvolvimento de estenose”, explica Silvia Fontan, oncologista da Multihemo Oncoclínicas.
 
Influência da Radioterapia

A técnica da braquiterapia, dentro da radioterapia, é uma das mais utilizadas no tratamento de cânceres ginecológicos. Ela é realizada no interior do canal vaginal e, mesmo trazendo benefícios, como a própria cura, o procedimento pode acarretar efeitos colaterais a médio e longo prazo. Um deles é a referida estenose vaginal, que acontece em aproximadamente 45% das mulheres com câncer de colo de útero e que passaram pelo tratamento.

“Durante a radioterapia, a estenose pode acontecer devido às radiações ionizantes que impedem o aumento de tumores, mas o seu acometimento também está ligado a características de cada paciente, além da quantidade de radiação utilizada e a intensidade do procedimento”, explica Silvia.

Outras alterações vaginais também podem ser percebidas como perda da elasticidade da vagina, diminuição do fluxo sanguíneo e da lubrificação e fibroses, gerando sentimento de estresse e tristeza, em muitas mulheres. 
 
Tratamento e estudo 

O tratamento da estenose dependerá da gravidade da condição e das necessidades individuais da paciente. As opções podem incluir desde procedimentos cirúrgicos para remover cicatrizes ou, em casos mais graves, reconstrução cirúrgica, no entanto o mais utilizado é o uso de dilatadores vaginais, dispositivos que ajudam a desenvolver a flexibilidade vaginal por meio de exercícios.

Além disso, um estudo austríaco, realizado pela Universidade de Viena, e apresentado na 65ª Reunião Anual da American Society for Radiation Oncology (ASTRO), em 2023, apontou que o sexo durante o tratamento reduz os efeitos colaterais da braquioterapia. A pesquisa analisou 882 mulheres com câncer de colo de útero, que foram divididas em grupos das que eram sexualmente ativas ou utilizavam dilatadores e daquelas que não praticavam sexo regularmente. Os resultados mostram que as do primeiro grupo apresentavam risco de 18% de sofrer encurtamento ou estreitamento vaginal. Já as do segundo grupo, o risco calculado foi de 37%.   

“Estudos como esse mostram a necessidade de se discutir a saúde sexual das mulheres e a importância de um tratamento personalizado e empático, pois elas se encontram em um momento de muita vulnerabilidade”, defende Silvia.
 
Câncer de colo de útero

Nesse mês é celebrado o Março Lilás, voltado para conscientização e combate do câncer do colo do útero – ou câncer cervical. Ele se desenvolve por meio da multiplicação desordenada de células do epitélio de revestimento do órgão que compromete o tecido subjacente (o estroma), podendo invadir células e órgãos próximos ou distantes. Os tipos mais frequentes são o Carcinoma epidermoide, que acomete o epitélio escamoso e é o mais incidente, correspondendo a cerca de 80% a 90% dos casos; e o Adenocarcinoma, que ocorre no epitélio glandular e é mais raro (entre 10% a 20%).

Com desenvolvimento lento e silencioso na fase inicial, a evolução da doença pode apresentar sintomas como sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias. Em casos mais avançados, pode surgir alteração do hábito intestinal. O diagnóstico é realizado por exame citopatológico, mais conhecido como teste de Papanicolau, um exame rápido e geralmente indolor, que possibilita detectar o tumor no início. O tratamento consiste em cirurgia, quimioterapia e radioterapia, dependendo do estadiamento.