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Jogo Político da Taxação do Aço: a Peça no Xadrez Global além do Julgamento
Por
Mariângela Borba
Olá, leitor do #SendoProsperidade, tudo bem com você? No artigo desta semana abordo um tema de política internacional muito difundido ultimamente e que está incomodando bastante, não apenas por não ser abordado com um viés menos passional/extremista (seja de direita ou de esquerda), mas por estar parecendo mais uma briga de egos inflados. Trouxe esse tema aqui porque muito tem se falado em A ou B, mas de maneira vaga e sem um olhar amplo, apenas de modo supérfluo. O presidente Trump também deu margem a isso, quando citou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas a questão é que em política internacional é comum diversos fatores se entrelaçarem e figuras públicas serem usadas para justificar ou encobrir determinadas ações – como na tão conhecida expressão “boi de piranha”. A partir do dia primeiro de agosto, os EUA irão impor uma taxação ao Brasil e cobrar 50% em cima de um fornecedor específico de aço brasileiro como uma forma de proteger as indústrias norte-americanas e essa taxação foi tomada em meio a tensões políticas (https://www.france24.com/en/americas/20250710-trump-slaps-50-tariff-on-brazil-demands-end-to-bolsonaro-trial).
E, sobre isso, cada um diz uma coisa, mas, na verdade é uma medida política com fortes consequências econômicas para ambos os lados, não é nenhuma medida protecionista tão simples assim. O que não se vem abordando muito é a conexão existente entre a taxação do aço e o BRICS – porque a polarização cega as pessoas e faz só enxergarem direita e esquerda mas esquecem de analisar a geopolítica como um todo. De acordo com as notícias da última semana, essa medida do governo Trump é vista não apenas como uma questão comercial, mas também como uma resposta a um cenário geopolítico mais amplo que envolve o Brasil e sua participação no bloco BRICS. A decisão parece ser uma estratégia mais ampla dos EUA para lidar com países que se alinham com as políticas do BRICS, ou seja, a taxação está sendo conectada a questões de políticas internas do Brasil, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (https://www.bloomberg.com/news/articles/2025-07-09/trump-hikes-brazil-tariff-to-50-after-brics-bolsonaro-flaps). Essa abordagem cria um clima de incerteza nas relações comerciais e pode ter consequências econômicas para ambos os países, afetando setores que dependem do comércio bilateral. A taxação do aço pode ser uma medida com motivações econômicas e geopolíticas mais amplas. A situação do ex-presidente Jair Bolsonaro pode estar sendo usada como um pretexto para legitimar essa decisão, por isso que é importante analisar a situação com cautela e considerar todas as perspectivas envolvidas, porque essa pode ser apenas uma interpretação possível e a realidade pode ser bem mais complexa.
Poderia, até, ser como a guerra comercial que o Trump iniciou com a China, impondo tarifas elevadas sobre os produtos chineses, mas que tiveram um impacto significativo na Europa. A China retaliou, elevando suas próprias tarifas sobre as importações dos EUA, embora, em compensação, essa diminuição do comércio entre os países terminou forçando a União Europeia a estreitar os laços econômicos com a China, intensificando a competição entre produtores europeus e chineses (https://carnegieendowment.org/europe/strategic-europe/2025/04/taking-the-pulse-in-light-of-trumps-tariffs-should-europe-get-closer-to-china?lang=en). Logo, essa taxação de 50% sobre o aço brasileiro não é tão simples assim e pode trazer impactos diversos, não apenas tornando mais densas as relações políticas e diplomáticas entre os dois países. O aço brasileiro mais caro nos EUA, pode reduzir a competitividade e diminuir as vendas do fornecedor brasileiro. Isso pode levar à perdas financeiras, redução da produção e demissões. Em relação ao nosso país, a medida pode afetar negativamente a balança comercial entre os dois países, além de gerar desconfiança e incerteza em relação às políticas comerciais norte-americanas e, lógico, que o custo do aço aumentará para as empresas da terra do “Tio Sam” que dependem desse material, o que pode aumentar a competitividade das suas indústrias (https://www.investors.com/news/brazil-tariffs-trump-ewz-stock/).
Daí você pode perguntar: mesmo essa taxação sendo em cima de uma indústria específica de aço, ela pode impactar o Brasil tanto assim, como muitos estão noticiando?
Sim, a retaliação em resposta à taxação de Trump pode atingir diretamente o nosso país em várias áreas. Pode haver uma redução nas exportações brasileiras para os EUA, afetando setores específicos da balança comercial; a retaliação pode gerar um clima de incerteza e desconfiança nas relações internacionais, prejudicando as negociações e acordos comerciais futuros; alguns setores específicos podem ser mais afetados que outros, dependendo dos produtos e serviços que forem alvo da retaliação e a incerteza pode levar a uma redução nos investimentos estrangeiros no Brasil. Esses exemplos são apenas uns dos possíveis impactos e o cenário real pode variar dependendo das medidas concretas que forem tomadas e da evolução da situação. Está tudo no princípio e estamos falando de uma realidade que ainda vai chegar. O que podemos, já, prever é que essa medida pode gerar um efeito cascata, afetando a percepção do país como um parceiro comercial confiável e influenciando decisões de investimento. Além disso, dependendo da importância dessa indústria para a economia brasileira, a retaliação pode ter um impacto indireto em outros setores e na balança comercial como um todo.
Seja você a favor do Bolsonaro ou do Lula, saiba que essa taxação pode ser um “tiro no pé” para as economias de ambos os países, embora com maior intensidade nos EUA, porque tudo pode triplicar o preço por lá, e o buraco é muito mais embaixo. O teatro sujo que vem comandando a política global não tem a ver com a prosperidade do povo, mas com traumas, egos feridos e alianças pessoais que não dizem nada sobre os interesses reais das nações. O que o povo quer, é simples: emprego, dignidade, saúde mental, segurança, prosperidade, paz. Mas, pelo visto, nossos destinos estão sendo decididos por senhores que brigam por feridas internas e projetos pessoais, não pelo bem coletivo. O grande risco disso tudo é que o povo se torna refém do teatro narcisista desses líderes e sente isso na pele, no estômago e no bolso. Porque no fim das contas, quem paga as contas são os agricultores que exportam e veem tarifas subirem. São os pequenos empresários esmagados por juros. É o trabalhador endividado que não consegue crédito porque o país está em guerra cambial. São famílias brigando em grupos de WhatsApp por narrativas que não colocam comida na mesa. O Povo virou escravo do desejo interno desses senhores, essa é a bruta realidade. E é um fenômeno global que escancara o fracasso moral das lideranças contemporâneas.
Nos EUA, baby boomers como Trump e Biden, ambos com quase 80 anos, ainda definem as regras para uma nação inteira que tem uma parcela significativa de jovens que só querem tecnologia, meio ambiente e saúde mental. Já no Brasil, políticos, também senhores, marcados pela ditadura e pelo medo do comunismo ou da volta da ditadura continuam a usar fantasmas antigos para controlar as massas. A crítica aqui não é questão de etarismo, mas de apontar um descompasso entre as prioridades de diferentes gerações, com respeito e sem generalizações. As ambições e medos desses velhos líderes que governam são o que regem nossos países. É por isso que nada melhora para o povo no meio dessa eterna disputa. Tudo vira embate porque o ego é muito inflado.
Por um lado, os EUA, aumentam o custo dos produtos importados e prejudicam setores que dependem de insumos brasileiros. Já no Brasil, as exportações podem ser reduzidas e afetarem o crescimento econômico. No entanto, o impacto exato dependerá das medidas específicas que forem tomadas e da capacidade de cada país se adaptar à situação.
O que a gente precisa urgentemente é começar a pensar muito além de direita ou de esquerda, para não cair sempre no mesmo dilema e no mesmo embate. Cansa! E, como dizia Bertolt Brecht, quem está preso a esse binarismo, ainda é um analfabeto político. O problema é muito mais complexo, estrutural e global e essa realidade só vai mudar quando as pessoas tiverem maturidade e saírem da infantilidade das torcidas organizadas. Essa mudança só começa quando a gente questiona, pensa e conversa sobre isso abertamente, sem filtros ideológicos que cegam. Não adianta sonhar com um mundo diferente se as pessoas são as mesmas e não têm coragem para ter esse tipo de conversa. O futuro pode ser nosso, mas a partir do momento que tivermos coragem de construirmos uma narrativa sobre liberdade e prosperidade real.
Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire, foi secretária executiva do MinC, secretária de Imprensa de Paulista (PE), membro do Conselho Municipal de Política Cultural, atuou como representante da Pastoral de Comunicação da AOR, onde realizou o Curso de Doutrina Social da Igreja e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, o também jornalista Edmundo Celso.
Foto: Agência Brasil