Recife, Pernambuco – Em meio às celebrações dos 175 anos do Teatro de Santa Isabel, uma homenagem mais profunda nos leva de volta às origens do teatro na capital pernambucana. Longe de ser a primeira casa de espetáculos da cidade, o Santa Isabel foi precedido por uma história rica, que remonta a 1772, com o surgimento da primeira Casa da Ópera do Recife.
A presença portuguesa no Brasil, desde 1771, trouxe consigo a perspectiva de utilizar o teatro como um instrumento de educação e imposição cultural. No entanto, a ausência de espaços dedicados a essa arte era notória. A virada veio com a pressão do Marquês de Pombal, em Portugal, que, influenciado por administradores locais, emitiu um alvará real determinando a construção de casas de espetáculos. Para Pombal, esses espaços eram "fundamentais como fator de educação e civilização".
Casas da Ópera: Mais que Ópera, um Centro Social
As Casas da Ópera começaram a pipocar pelo Brasil. No Recife, a primeira surgiu no ano seguinte, em 1772, localizada na Rua do Imperador, nas proximidades de uma igreja onde hoje se encontra a frase "tudo mudou". É importante notar que, embora o nome sugerisse ópera, as apresentações não se restringiam apenas a ela, incluindo também peças faladas e cantadas, mas não necessariamente no formato operístico que conhecemos hoje.
A realidade da época impunha desafios enormes. Deslocar-se à noite para assistir a um espetáculo era uma aventura, especialmente para as mulheres. Sair de bairros distantes, como o Poço da Panela, envolvia carruagens e a companhia de crianças, em estradas precárias e escuras. As Casas da Ópera eram frequentadas predominantemente por homens e, em muitos registros, por prostitutas. Contudo, famílias também marcavam presença, atraídas pela diversidade das atrações. Os figurinos eram elaborados, com destaque para os vestidos volumosos e armados das mulheres.
Um Olhar Sobre a Experiência da Época
Há poucos registros visuais da Casa da Ópera do Recife, mas indícios como a prática de levar bancos para o espetáculo revelam um ambiente diferente do que conhecemos. Acredita-se que o modelo se assemelhava ao antigo Teatro da Rua dos Condes, em Portugal, que também sofria com a condenação social devido à presença de prostitutas.
A Casa da Ópera do Recife, assim como outras construções da época, como o primeiro Teatro São José em São Paulo (inaugurado em 1865, mas com formato semelhante às Casas da Ópera do século XVIII), era caracterizada pela escuridão. A ausência de luz elétrica significava o uso de velas, muitas vezes feitas com óleo de mamona (carrapato), que produziam fumaça e deixavam o ambiente escuro, dificultando a visão dos atores no palco.
As imagens da Casa da Ópera de Sabará, em Minas Gerais (construída em 1771 e reformada em 1927), servem como um bom exemplo do formato dessas primeiras casas de espetáculo: sem cadeiras individuais, o público se acomodava em longas bancadas, muitas vezes em camarotes. A "casa italiana", como era conhecido esse formato arquitetônico, se espalhou pelo mundo e foi adotada aqui, onde ir ao teatro não era apenas para assistir à peça, mas também para exibir figurinos e joias, um verdadeiro evento social.
As Casas da Ópera de Sabará e Vila Rica (Ouro Preto - MG) mostram a simplicidade e a funcionalidade desses primeiros espaços, que, por vezes, mais pareciam armazéns, mas que foram o berço do teatro no Brasil.