terça-feira, 8 de julho de 2025

"Sabor chocolate" não é chocolate: entenda a diferença e os impactos para a saúde


Nas prateleiras dos supermercados, é cada vez mais comum encontrar produtos com a expressão “sabor chocolate” estampada nas embalagens. Mas o que isso realmente significa? Esses alimentos são feitos com chocolate de verdade ou apenas lembram o sabor? E mais: há consequências para a saúde — e para o bolso — do consumidor?

De acordo com a nutricionista Anete Mecenas, coordenadora do curso de pós-graduação em Nutrição da Estácio e doutora em Bioquímica, a resposta é clara: produtos rotulados como “sabor chocolate” não são, de fato, chocolate. “Eles imitam o gosto, mas não seguem os critérios mínimos exigidos pela legislação brasileira para serem classificados como chocolate”, explica.

🍫 O que é considerado chocolate de verdade?

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que um produto seja legalmente chamado de chocolate, ele precisa conter no mínimo 25% de sólidos de cacau — o que inclui massa de cacau, cacau em pó e manteiga de cacau. Essa exigência está prevista na Resolução RDC nº 264/2005, complementada pela RDC nº 429/2020 e pela Instrução Normativa nº 75/2020, que tratam da rotulagem nutricional no Brasil.

Quando esse percentual não é atingido, o produto deve obrigatoriamente ser rotulado como “sabor chocolate”, para não induzir o consumidor ao erro.

🔍 Diferença na composição e na qualidade

A principal diferença entre o chocolate verdadeiro e os produtos “sabor chocolate” está na composição. Enquanto o primeiro tem o cacau como ingrediente principal, os segundos recorrem a substitutos mais baratos, como:

- Aromatizantes artificiais ou naturais de chocolate  
- Gorduras vegetais (óleo de palma, soja ou coco) no lugar da manteiga de cacau  
- Corantes e intensificadores de sabor  
- Pouca ou nenhuma quantidade de cacau verdadeiro  

“É o que vemos em coberturas de bolinhos, biscoitos recheados e sorvetes ‘sabor chocolate’. Eles têm muito mais gordura, açúcar e aditivos do que cacau”, alerta Anete.

💰 Preço mais baixo, qualidade inferior

O apelo do preço mais acessível também tem explicação. O cacau, especialmente a manteiga de cacau, é um dos ingredientes mais caros na produção de chocolate. Ao substituí-lo por gorduras vegetais e aromas artificiais — que custam centavos —, a indústria reduz significativamente os custos.

Além disso, o processo de fabricação do chocolate verdadeiro envolve etapas complexas, como a conchagem (que melhora a textura e o sabor) e a temperagem (que dá brilho e firmeza). Já os produtos “sabor chocolate” geralmente pulam essas etapas, economizando tempo, energia e maquinário.

⚠️ Impactos para a saúde

Embora mais baratos, esses produtos costumam conter grandes quantidades de gordura de má qualidade, açúcar e aditivos químicos, com pouco ou nenhum dos benefícios do cacau, que é naturalmente rico em antioxidantes.

“Isso não significa que não se pode consumir esses alimentos, mas é importante saber o que se está levando para casa”, ressalta a nutricionista.

🔎 Como identificar no rótulo

Anete reforça que ler o rótulo é um ato de autocuidado e segurança alimentar. “Sempre vale observar se o produto é realmente chocolate ou apenas ‘sabor chocolate’”, orienta. Outra dica é analisar a lista de ingredientes, que deve estar em ordem decrescente. “Se os primeiros itens forem açúcar e gordura vegetal, e o cacau aparecer só no final, significa que ele está presente em quantidade mínima.”

📌 Em resumo: nem tudo que tem gosto de chocolate é chocolate de verdade. Saber identificar essas diferenças pode fazer toda a diferença na sua alimentação — e nas suas escolhas no supermercado.