Recife, PE – Uma das mais importantes expressões culturais afro-brasileiras de Pernambuco, o Afoxé Alafin Oyó, com sede em Olinda, completa quase quatro décadas de história e marca presença em eventos de destaque, como o ESARTE – Festival de Arte e Cultura da Advocacia Pernambucana, promovido pela OAB-PE.
Fundado em 2 de março de 1986, o grupo transcende a esfera carnavalesca, consolidando-se como um vibrante símbolo de resistência negra, religiosidade de matriz africana e militância política.
Seu nome, carregado de significado, une "Alafin", título de nobreza iorubá que remete a “senhor” ou “rei do palácio”, a “Oyó”, antiga capital do reino iorubá na Nigéria. O grupo presta homenagem a Xangô, o quarto rei de Oyó e orixá patrono do afoxé, associado à justiça, trovões e relâmpagos, representado pelas cores vermelho e branco, que simbolizam Xangô e a ancestralidade africana.
Nascido de uma dissidência do Afoxé Ara Odé, o Alafin Oyó foi criado com o propósito de expandir sua atuação para além do período carnavalesco, promovendo ações culturais e políticas ao longo de todo o ano.
Conhecido popularmente como “Candomblé de rua”, o afoxé leva a força da religiosidade afro-brasileira para o espaço público, funcionando como um verdadeiro quilombo contemporâneo que fomenta educação, formação política e a valorização da identidade negra.
No Carnaval, o cortejo do Alafin Oyó é um dos mais aguardados, desfilando tradicionalmente no sábado, partindo do pátio da Igreja do Guadalupe, em Olinda. Antes de tomar as ruas, o grupo realiza o Xirê, um ritual sagrado de louvação aos orixás com cânticos e toques de atabaques. Para assegurar a transmissão de saberes e a preservação da memória do povo iorubá-nagô, o afoxé criou a Ala Alafin Mimi, dedicada às novas gerações.
Com forte ligação ao Movimento Negro Unificado (MNU) desde sua fundação, o Alafin Oyó mantém uma postura combativa contra o racismo, a intolerância religiosa e a marginalização da cultura negra. Coerente com seus princípios, o grupo recusa-se a participar de concursos carnavalescos, por considerar que a competição entre grupos de matriz africana é desagregadora.
A relevância do Afoxé Alafin Oyó foi oficialmente reconhecida em 2023, quando se tornou o primeiro afoxé de Pernambuco a receber o título de Patrimônio Vivo. Sua influência se estende para além das fronteiras estaduais, com participações em eventos nacionais e internacionais, como o Festival de Inverno de Garanhuns e o Festival del Fuego em Cuba.
O grupo também tem uma notável produção cultural, incluindo o álbum "34 Anos de Existência, Resistência e Luta", e a promoção de oficinas comunitárias de percussão, canto e capoeira em sua sede em Olinda.
A trajetória do Afoxé Alafin Oyó é um testemunho vivo da resiliência e da riqueza da cultura afro-brasileira, mantendo acesa a chama da ancestralidade e da luta por um futuro mais justo e igualitário, e sendo agora um destaque cultural no ESArte.