Recife, PE – No efervescente cenário do ESARTE – Festival de Arte e Cultura da Advocacia Pernambucana, a escritora, psicóloga e advogada Honorina Maria Carneiro se destaca com a exposição de suas obras, que transitam entre a literatura, a psicologia e a defesa de direitos. Emocionada, Honorina compartilha a importância de participar de um evento que une arte e a "luta pelo direito".
"É muito emocionante, né? A oportunidade que nós temos de fazer uma divulgação dos nossos pensamentos, das nossas passagens pela vida, da nossa história da vida e, ao mesmo tempo, uma luta pelo direito. Isso é a luta pelo direito", afirmou Honorina, que acumula 25 obras publicadas desde os 15 anos, incluindo poesias e contos.
Entre os títulos expostos, um dos que ganha evidência é "Sebastiãozinho e o Rio". A obra, segundo a autora, estabelece uma analogia sensível entre a condição do rio que, quando malcuidado, transborda em lixo, e a pessoa idosa, que necessita de atenção e respeito para ter uma vida digna. "É um dos direitos mais vilipendiados que nós temos. Porque eles não se incomodam muito com o idoso, né?", pontua, chamando a atenção para a urgência do cuidado com a pessoa idosa.
Outra de suas grandes preocupações, a depressão, é tema de obras como "Depressão é uma doença e tem cura", que ganhou uma versão mais recente em formato de cartilha, "Curando a depressão e restaurando o poder interior". Honorina enfatiza que a depressão é uma doença tratável e desmistifica preconceitos. "Depressão é uma doença, tem cura, mas é uma doença que tende a incapacitar as pessoas. É necessário a psicoterapia, é necessário o cuidado com o paciente, porque existe uma tendência grande ao suicídio", alerta. Ela ressalta a importância do tratamento medicamentoso, combatendo o estigma do "tarja preta", e o papel da psicoterapia na recuperação da autoestima e do poder interior dos indivíduos.
Um dos "xodós" da escritora é o livro que homenageia sua mãe, Maria José, uma "retirante" que, aos 13 anos, fez uma jornada a pé do sertão da Paraíba até a zona da mata de Pernambuco em dez dias. A obra, que completa 31 anos e é hoje referência bibliográfica em tese de doutorado em antropologia, conta a caminhada de Maria até trabalhar em uma usina de açúcar, em uma "terra de coronéis".
Este livro conta com uma apresentação especial de Ariano Suassuna, que, no prefácio, destaca que a obra não foi escrita propriamente por ambição literária, mas como uma homenagem sincera à figura de Maria. A obra inclui o poema "Só falta mesmo é querer", de Eronides Carneiro, um dos filhos de Maria, que questiona a persistência da seca no Nordeste frente à capacidade humana.
Ariano Suassuna encerra seu texto com um tributo emocionante não apenas a Maria, mas a "todo esse povo sertanejo, diante do qual eu me curvo". Ele amplia a homenagem para a avó Umbelina (parteira), o pai Deodato, o tio Alfredo (comunista exilado), e irmãos, reconhecendo a coragem e a dimensão desse povo sofrido, mas resiliente.
Através de sua participação no ESARTE, Honorina Maria Carneiro não só divulga sua vasta produção literária, mas também amplifica debates cruciais sobre direitos humanos, saúde mental e a riqueza da cultura sertaneja pernambucana.