Burnout e a Geração Sanduíche: Exaustão Invisível e a Busca por Relevância Carregando o Peso nas Costas
Por *Mariângela Borba
Olá leitor do #SendoProsperidade, tudo bem? O artigo desta semana será voltado ao público 40±, assim como eu, e/ou que esteja quase lá. Você já parou para pensar naqueles que entraram nos “enta” e têm mais de 40 anos? É, o tempo passa, o tempo voando e, até, a “poupança Bamerindus” não existe mais – piada interna. Os 40± não são mais jovens promessas, nem são “experientes” o suficiente para se aposentarem ou serem tratados com reverência. É aquele povo que está no meio do fogo cruzado: criam filhos, cuidam dos pais, trabalham dobrado e não têm tempo nem para pensar em si mesmos e, por conta disso, viraram a “geração esquecida”.
A essa altura, o brasileiro médio já não tem mais a mesma energia da juventude, mas também não tem o respeito da velhice. Muitos cuidamos de pais idosos, filhos pequenos, boletos acumulados e uma carreira que exige reinvenção constante pois, como versa a canção de Cazuza: “O Tempo Não Pára”! Segundo a Fiocruz (2024), adultos entre 40 e 55 anos formam a faixa com maior índice de consumo de medicamentos tarja preta por autodiagnóstico no Brasil, um sintoma direto de exaustão invisível. São pessoas que não podem parar, mas também não conseguem pedir ajuda. Sim, o chamado burnout não é apenas uma cansaço, mas uma exaustão profunda que afeta a saúde física e mental, podendo ser considerado uma forma de exaustão invisível. É importante estar atento aos sinais e buscar ajuda profissional, caso necessário. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) alguns dos sintomas principais incluem exaustão emocional, despersonalização (sentimentos de distanciamento e cinismo em relação ao trabalho) e redução da realização pessoal. E essas pessoas são pessoas que não podem parar, mas também não conseguem pedir ajuda.
E “enquanto isso no front”, o mercado vende promessa de “alta performance aos 50”, “fitness aos 60”, “empreendedorismo maduro” e pressionar essa geração a dar conta de tudo, com sorriso no rosto e gratidão no coração. Essa pressão por alta performance em todas as idades, especialmente para nossa geração, mostra que há uma perspectiva irreal de que devemos estar sempre no auge, na crista da onda , independente dos desafios que enfrentamos. Não dá para ser assim, uma vez que cada um tem o seu próprio ritmo e conhecimento para alcançar o bem-estar.
Parece crise de meia-idade? Não! É uma geração que carrega o sistema nas costas e, ainda, a exigência de um sorriso no rosto sempre, devido a essa pressão constante para manter uma fachada de felicidade e sucesso, enquanto carrega pesos fenomenais, é exaustiva.
Essa geração está no olho do furacão: carrega o peso dos pais, dos filhos e de um sistema que exige resiliência sem dar suporte. Por isso é chamada, aqui no Brasil, de “geração sanduíche”, onde especialmente as mulheres carregam o peso de cuidar simultaneamente de filhos e pais idosos, o que gera uma sobrecarga enorme. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), mostrou que em 2023, quase um milhão de pessoas entre 35 a 49 anos viviam nessa situação. Essa sobrecarga se agrava pelas normas culturais que atribuem a maior parte do cuidado às mulheres, impactando negativamente nossas saúde físicas e mentais com estresse e fadiga (https://asmetro.org.br/portalsn/2024/03/19/quem-e-a-geracao-sanduiche-e-por-que-o-fenomeno-sobrecarrega-mais-as-mulheres-no-brasil/).
Além disso, essa situação pode levar à desigualdades no mercado de trabalho. A proporção de mulheres da geração sanduíche fora do mercado de trabalho é muito maior que a dos homens e as que trabalham frequentemente, de acordo com pesquisa da FGV, enfrentam informalidade e menores salários (https://portal.fgv.br/artigos/proporcao-mulheres-geracao-sanduiche-fora-mercado-e-quase-seis-vezes-maior-homens).
A sobrecarga financeira também é um desafio, com muitos enfrentando dificuldades para equilibrar as necessidades de pais e filhos, o que pode levar ao adiantamento de aposentadoria (https://parceirosdofuturo.com.br/a-sobrecarga-da-geracao-sanduiche-e-seus-desafios-financeiros-e-de-saude/).
A rotina intensa e a falta de tempo para autocuidado são características marcantes dessa geração, especialmente para as mulheres que acumulam tarefas e podem sofrer problemas de saúde mental e física. A antropóloga Miriam Goldberg destaca que essa é a primeira geração a ter pais vivos enquanto cuida de filhos, intensificando a pressão sobre mulheres (https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/11/09/geracao-sanduiche-antropologa-diz-que-mulheres-estao-esmagadas-por-cuidados-com-pais-filhos-e-netos.ghtml).
Segundo dados da PNAD (IBGE, 2024), brasileiros entre 40 e 54 anos têm a maior carga média de horas semanais de trabalho do país: 44h24 por semana. Mas isso não significa estabilidade: mais da metade está endividada, muitos já passaram dos 10 anos sem reajuste real no salário.
Em 2023, a OMS apontou que essa mesma faixa etária também lidera o uso crônico de benzodiazepínicos, especialmente os que acumulam duplas ou triplas jornadas. Só que ninguém está falando disso.
A cultura da alta performance, alimentada por coaches, LinkedIn e discursos de meritocracia, não perdoa quem desacelera. E quem tem 40± hoje cresceu acreditando que, se seguisse a cartilha do esforço, estaria “bem de vida” aos 30. Só que o mundo dá voltas e essa cartilha, com a celeridade do tempo, venceu.
Essa geração é também a mais pressionada no trabalho um estudo da Harvard Business Review (2023), mostra que profissionais entre 40 e 55 anos são os mais inviabilizado nos programas de inovação, inclusão e saúde mental. São percebidos como caros demais, velhos demais ou “acomodados” demais- mesmo quando sustentam equipes ou empresas inteiras.
No Brasil, a taxa de desemprego entre 40 e 49 anos aumentou 18% nos últimos dois anos (IBGE, 2024), e essa faixa etária também lidera pedidos de afastamento por transtornos psíquicos relacionados ao trabalho (CNES, 2023).
É uma geração que carrega culpa por não ter “chegado lá” e medo de nunca chegar. Que cresceu ouvindo que era protagonista, mas hoje se vê coadjuvante de um sistema que descartou sua experiência e exigiu um rejuvenescimento forçado. Ora, desde quando foi que envelhecer virou crime silencioso? Será que a sabedoria e o conhecimento acumulado ao longo dos anos não têm vez na sociedade atual?
Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire, foi secretária executiva do MinC, secretária de Imprensa de Paulista (PE), membro do Conselho Municipal de Política Cultural, atuou como representante da Pastoral de Comunicação da AOR, onde realizou o Curso de Doutrina Social da Igreja e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, o também jornalista Edmundo Celso.