quinta-feira, 10 de julho de 2025

Do Caos à Paixão: O Século XIX no Teatro Recifense #AoVivoEemCores


Recife, Pernambuco – O século XIX foi um período de efervescência e turbulência para o teatro recifense, marcado por inovações artísticas, intensos debates e até mesmo confrontos físicos. A chegada do teatro musicado, especialmente a ópera bufa, trouxe um novo dinamismo aos palcos, mas nem sempre de forma pacífica.

Um dos episódios mais emblemáticos desse período foi a apresentação de uma ópera bufa com personagens grotescos em 1869, que culminou em pancadaria e agressão às atrizes, com pontapés sendo jogados no palco. Curiosamente, no mesmo ano, o teatro foi consumido por um incêndio. A causa ainda é motivo de especulação, mas a teoria mais aceita aponta para um equipamento que simulava luz elétrica, trazido por uma companhia de ópera italiana, que teria explodido.

Palco de Grandes Dramaturgos e Paixões Ardentes

Apesar dos percalços, o teatro recifense do século XIX serviu de palco para a encenação de obras de grandes dramaturgos. Autores franceses e portugueses, como Augusto César de Lacerda, tiveram suas peças montadas. Obras de vultos nacionais como José de Alencar, Machado de Assis e Castro Alves também foram apresentadas. Infelizmente, as dramaturgias escritas por mulheres nesse período não tiveram a mesma sorte e não foram encenadas. O teatro cômico, com a obra de Vasques e sua esposa, além do lendário ator Xisto Bahia, que também marcou presença.
Muitos desses textos dramatúrgicos sobreviveram ao tempo e podem ser acessados e baixados no site Projeto Livro Livre, um verdadeiro tesouro para pesquisadores e amantes do teatro.

Os palcos recifenses também foram testemunhas de paixões intensas. Os irmãos Basses, grandes nomes da cena teatral do século XIX, estrelaram por aqui. E foi nesse cenário que o jovem poeta Castro Alves se apaixonou pela atriz Eugênia Câmara. Apesar dela ser comprometida e mais velha que ele, o romance se desenrolou, resultando em uma das mais famosas histórias de amor da literatura brasileira. Esse affair se tornou ainda mais complexo pela relação de Eugênia com Adelaide Amaral, que por sua vez, vivia um romance com o também poeta Tobias Barreto. O período era tão efervescente que era comum Castro Alves recitar poesias para Eugênia Câmara nos intervalos das peças, o que gerava um clima de intensa rivalidade e admiração entre os admiradores de cada artista. Esse episódio, aliás, é retratado no filme "Vendaval", disponível no YouTube.

O século XIX foi, portanto, um período de profunda transformação e intensidade para o teatro do Recife, onde a arte se misturava com a vida, a paixão e a polêmica, deixando um legado rico e complexo que ainda hoje ecoa.