segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Tecnologias da Indústria 4.0 aumentam em 22%, em média, produtividade em pequenas e médias empresas

As tecnologias digitais da Indústria 4.0 permitem aumentar em 22%, em média, a produtividade de micro, pequenas e médias empresas. O resultado foi obtido no programa-piloto Indústria Mais Avançada, executado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) com 43 empresas de 24 estados. A Docile Nordeste, fábrica de doces de Pernambuco, participou do projeto, que é o primeiro a testar no Brasil, em todas as regiões do país, o impacto na produção do uso de ferramentas de baixo custo, como sensoriamento, computação em nuvem e internet das coisas (IoT). 

As empresas participantes já possuíam bom índice de produtividade antes do piloto, pois tinham passado pelo Brasil Mais Produtivo. O programa do governo federal, executado pelo SENAI, elevou em 52%, em média, a produtividade de três mil micro, pequenas e médias indústrias por meio de técnicas de manufatura enxuta (lean manufacturing). Após as duas etapas de atendimento de consultores do SENAI, as companhias aumentaram em 85%, em média, sua capacidade de produzir sem alterar o quadro de funcionários. 

“O objetivo do SENAI com a experiência-piloto, chamada de Indústria mais Avançada, é refinar um método de baixo custo, alto impacto e de rápida implementação, que ajude as empresas brasileiras a se inserirem na 4ª Revolução Industrial”, explica o diretor-geral da instituição, Rafael Lucchesi. “A iniciativa do SENAI prova que a Indústria 4.0 é para todos: qualquer tipo de empresa, em qualquer estado do Brasil. O resultado nacional é relevante, e, principalmente, houve ganhos significativos para todas as empresas atendidas”, completa. 

SENSORES – Os pilotos foram realizados entre maio de 2018 e outubro deste ano em empresas dos segmentos de Alimentos e Bebidas, Metalmecânica, Moveleiro, Vestuário e Calçados. Os especialistas do SENAI instalaram sensores, que coletam dados, e coletores, que os armazenam. Em seguida, as informações eram transmitidas para a plataforma Minha Indústria Avançada (MInA), que permite acesso aos dados de produção da máquina sensoriada. Por meio de tablets e celulares, os gestores podiam acompanhar, em tempo real, o desempenho da linha de produção e, com isso, ter maior controle de indicadores do processo e antecipar-se a eventuais problemas. 

As empresas da região Nordeste, com aumento médio de 28,2%, foram as que mais tiveram ganhos de produtividade com o Indústria Mais Avançada. A Japastel, pequena indústria de Salvador que produz massas para pastel e pizza, por exemplo, conseguiu elevar em 32,8% sua capacidade produtiva com uso de sensores na máquina de empacotamento de pizza. A empresa já havia alcançado ganho de 100% ao passar pelo Brasil Mais Produtivo. Ou seja, ao participar das duas etapas, a companhia mais que dobrou sua produção com o mesmo time de colaboradores e sem aumentar o custo. 

“A tecnologia ajudou a otimizar o tempo e diminuiu o desperdício. Com isso foi possível aumentar o lucro, pois conseguimos utilizar melhor a matéria-prima”, explica Rose Fukuhara, dona da Japastel. Ela conta que hoje tem outra percepção do que é a Indústria 4.0. “Antes eu achava que o investimento seria muito alto”, diz ela. O equipamento instalado pelo SENAI em cada empresa custou até R$ 3 mil. 

PERNAMBUCO – A Docile Nordeste, localizada em Vitória de Santo Antão, elevou em 6% sua produtividade com uso de sensores em três linhas de produção, de goma e de refresco em pó. O coordenador de produção, Cristiano Couto, comemora o ganho, pois a área já tem alta produtividade, de cerca de 88%. O gestor conta que o equipamento também ajudou a reduzir o desperdício com embalagens, mas o maior benefício, diz ele, foi na administração do processo produtivo. “O principal ganho foi a gestão em tempo real. Você consegue evoluir em produtividade quando você faz uma gestão com um tempo de resposta mais rápido”, explica. 

A experiência da Docile com a digitalização tem sido tão positiva que a empresa já se prepara para instalar sensores em toda a unidade do estado, que possui cerca de 100 funcionários. Em vez dos quatro postos de trabalho que lidam com a tecnologia, serão 20 após essa segunda etapa. Além disso, será contratado um funcionário apenas para a gestão da plataforma MinA. 

Para Cristiano Couto, o investimento em Indústria 4.0 vale muito a pena para as pequenas e médias empresas. “O investimento não é alto. Além disso, com os níveis de produtividade atuais e a redução de perda, temos um resultado muito mais elevado do que o investimento que fizemos. O retorno é muito impactante para o pequeno investimento que é feito. Eu só vejo ganhos com esse sistema de produção”, avalia. 

Os resultados do piloto também foram expressivos no Centro-Oeste, com aumento médio de 22,44% em produtividade. Em seguida, estão empresas do Norte (22,29%), do Sudeste (18,42%) e do Sul (6,37%).

Em relação aos estados, as empresas do Piauí, do Rio Grande do Norte, do Acre e de São Paulo foram as que mais tiraram proveito da digitalização de sua linha produção.


O gerente-executivo de Inovação e Tecnologia do SENAI, Marcelo Prim, explica que as empresas que obtiveram maiores ganhos com as tecnologias digitais foram aquelas que utilizavam menos técnicas de gerenciamento da produção antes de participar do programa. “A técnica nova, ao ser introduzida em uma empresa que utiliza poucos métodos de gestão, proporciona um ganho maior em produtividade”, afirma. 

Em relação ao segmento da empresa, Marcelo Prim explica que todas as áreas atendidas tiveram, em média, um ganho significativo de produtividade, porém, com pequenas diferenças em relação a quanto cada um conseguiu incorporar a nova tecnologia a seu processo produtivo. "Concluímos que o ganho de produtividade está mais relacionado com o quanto se aprende com o processo produtivo, e como esse aprendizado se transforma em ações concretas. Trata-se mais de uma ciência de dados e de capacitação de pessoas do que de automação de processos produtivos”, diz.


O gerente do SENAI explica ainda que as micro empresas foram as que mais se beneficiaram do uso inicial de tecnologias digitais. “É provável que tenha sido a primeira vez que a empresa parou para analisar seu processo produtivo e conseguiu compreendê-lo de uma forma ampla. Com isso os ganhos são imensos”, afirma. “Observamos que as tecnologias da Indústria 4.0 são uma grande oportunidade especialmente para a micro e pequenas empresas”, complementa Prim. As grandes companhias não participaram deste piloto, pois foram selecionadas participantes do Brasil Mais Produtivo, programa direcionado a pequenos e médios negócios.


A análise dos resultados do programa-piloto também mostrou que a percepção do ganho obtido com a tecnologia é muito afetada pelo porte da empresa. As médias e grandes empresas tendem a investir em tecnologias da Indústria 4.0 para dar continuidade aos esforços de aumento de produtividade. Os micro e pequenos empresários, por sua vez, valorizam mais a agilidade permitida pelo sistema. 

“O sistema permite aprender com o processo produtivo, diminuindo o tempo de resposta, tornando-o mais ágil e previsível. Garantir que aquilo que o empresário planejou será entregue nos prazos que ele combinou com o mercado traz um nível de competitividade maior para a pequena empresa e ela consegue se inserir mais facilmente nas cadeias de valor”, analisa Prim. 

O SENAI recomenda quatro passos para as indústrias brasileiras se atualizarem tecnologicamente. A digitalização é um dos primeiros degraus no processo. Nesse estágio, as tecnologias ajudam as empresas a conhecerem melhor seu chão de fábrica e a conseguirem se antecipar a eventos como paradas de máquinas, que afetam a eficiência do processo produtivo. 

PASSO A PASSO RUMO À INDÚSTRIA 4.0 

1) Enxugar processos: a recomendação é que, antes de digitalizar seus processos, a empresa adote métodos gerenciais e práticas organizacionais, como eficiência energética, produção limpa e manufatura enxuta (lean manufacturing), técnica que reduz desperdícios com medidas de baixo custo, com excelentes resultados no aumento de produtividade. 

2) Qualificar trabalhadores: é fundamental qualificar os profissionais das empresas em técnicas como programação, robótica colaborativa e análise de dados, assim como desenvolver competências socioemocionais com métodos para estimular a criatividade, resolução de conflitos, o empreendedorismo, a liderança e a comunicação. 

3) Empregar tecnologias disponíveis e de baixo custo: o SENAI recomenda que as tecnologias digitais sejam empregadas, em um primeiro momento, para que as empresas aprendam o que está ocorrendo no seu chão de fábrica e sejam mais ágeis nas decisões. A sugestão é iniciar pela digitalização – utilização de soluções de baixo custo, como sensoriamento, internet das coisas, computação em nuvem e big data para melhor compreensão do processo produtivo. Em seguida, podem ser utilizadas técnicas como “advanced analytics” e inteligência artificial para prever problemas que afetam a produtividade, como quebras de máquinas. 

4) Investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação: a fim de serem mais competitivas e oferecerem melhores produtos, as empresas precisam investir em inovação. A recomendação é que os empresários tenham como objetivo a implantação de fábricas inteligentes, flexíveis e ágeis, conectadas com suas cadeias de fornecimento e com capacidade de customização em massa de seus produtos, estágio mais avançado da Indústria 4.0.

Imprensa FIEPE